O incrível navio construído em apenas quatro dias

O incrível navio construído em apenas quatro dias

Um dos fatores que ajudaram os Estados Unidos a virarem a seu favor a guerra no Atlântico foram os chamados “Liberty Ships”, como foram apelidados os espartanos navios de médio porte que o país começou a construir a partir de 1941, para o transporte geral de mercadorias até os combates.

Extremamente básicos, sem sequer eletricidade nem água corrente para os seus (poucos) tripulantes, os Liberty Ships eram, por isso mesmo, construídos em pouquíssimo tempo, seguindo os princípios da “produção em série”, método criado por Henri Ford para a primeira linha de montagem de automóveis do mundo.

Só que o empresário responsável por aquela mudança radical na forma de se construir navios – e que acabaria pegando de surpresa os inimigos – foi outro: o americano (ironicamente filho de imigrantes alemães), Henry Kaiser.

Ao produzir separadamente as diferentes partes dos navios, para depois uní-las com soldas em vez de rebites, como era hábito na época, Kaiser encurtou sobremaneira o processo e o tempo de construção nos estaleiros. E os projetos minimalistas dos Liberty Ships contribuiram ainda mais para isso.

Logo, começaram a jorrar dos estaleiros americanos mais de 140 desses navios por mês. E a quantidade seguiu aumentando, à medida que os fabricantes foram adquirindo prática e, sobretudo, agilidade nos processos. No total, em pouco menos de quatro anos, foram feitos nada menos que 2 710 destes navios, feitos para transportar de tudo – de laranjas a tanques de guerra.

O primeiro Liberty Ship, o SS Patrick Henry, lançado no mar em 27 setembro de 1941, levou cinco meses para ficar pronto – ainda assim um tempo espantosamente curto para se construir um navio. Mas, dali em diante, pressionada por Henry Kaiser (cujo mantra era que sempre seria possível “fazer mais, em menos tempo”), a indústria americana passou a produzir os Liberty Ships em cada vez menos tempo. Na média, apenas 45 dias.

O recorde, no entanto, foi o lendário cargueiro Robert E. Peary, que foi inteiramente montado em inacreditáveis 4 dias, 15 horas e 29 minutos, em novembro de 1942. E, embora os Liberty Ships fossem feitos para durar pouco, dada a sua vulnerabilidade, já que, por questões de custo e tempo, não tinham nenhum instrumento de auto-defesa, o Robert E. Peary não só sobreviveu as batalhas no Atlântico e no Pacífico, como terminou a guerra ainda em bom estado e navegando.

Só em 1963, quase 20 anos depois de ser construído, o bravo Robert E. Peary foi descomissionado e desmontado. Poucos Liberty Ships duraram tanto. Mesmo tendo sido construído em menos de uma semana.

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O enigmático desaparecimento do encouraçado brasileiro

O enigmático desaparecimento do encouraçado brasileiro

No início do século passado, a Marinha do Brasil era uma potência no continente sul-americano, pelos bons navios que possuía.

Um deles era o encouraçado São Paulo, de 20 000 toneladas, construído sob encomenda, na Inglaterra, em 1910, e com um histórico de prestígio na corporação.

Logo na sua viagem inaugural, rumo ao Brasil, trouxe o então presidente do país, Hermes da Fonseca, e mais tarde, também os restos mortais do imperador Dom Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina – além de, depois, ter participado da Revolta das Chibatas, movimento deflagrado pelos marinheiros contra o fim dos maus tratos e castigos físicos na Marinha.

No entanto, após quase meio século de serviços prestados, inclusive durante a Segunda Guerra Mundial, quando atuou como fortaleza flutuante na proteção ao porto de Recife, o então já defasado encouraçado estava obsoleto e ultrapassado.

Mas ainda em relativo bom estado, como mostrou sua última grande revisão, em 1948, quando foi colocado em dique seco e constatado que seu casco, de fundo duplo, permanecia intacto.

Como, no entanto, sua capacidade de navegação já estava limitada, o encouraçado São Paulo foi colocado à venda, e logo atraiu o interesse dos próprios ingleses, mas com outro objetivo: transformá-lo em sucata, já que nos anos pós-guerra a Europa vivia uma carência e escassez de aço.

O negócio foi fechado e ficou acertado que a empresa inglesa que comprara o navio enviaria dois rebocadores ao Brasil, para buscá-lo.

À Marinha Brasileira, que já vinha sucateando o encouraçado para manter as demais embarcações da corporação, restou apenas acabar de depenar o navio, retirando todos os seus equipamentos, incluindo portas estanques, caldeiras que alimentavam a sua propulsão ainda a vapor e todos os armamentos, cujos vãos e orifícios no casco foram tapados com pranchas de madeira.

Mesmo assim, o serviço atrasou.

Quando os dois rebocadores ingleses, o Bustler e Dexterous, chegaram ao Rio de Janeiro, para buscar o navio, ele ainda não estava pronto para a sua derradeira viagem – e que seria a última de fato, porque o encouraçado São Paulo jamais chegou à Inglaterra.

Com o passar dos dias, os comandantes dos dois rebocadores começaram a ficar aflitos com aquele atraso.

Eles pretendiam fazer aquela travessia, que prometia ser bem lenta, dado o tamanho da embarcação a ser rebocada, antes que começasse a temporada de tempestades de inverno no Atlântico Norte, o que geralmente acontecia a partir de novembro.

Sabiam que não seria nada fácil rebocar um pesado encouraçado em mares agitados.

Passaram, então, a pressionar os oficiais brasileiros, habituadas a um costumeiro atraso.

Até que, finalmente, em 20 de setembro de 1951, bem mais tarde do que os comandantes ingleses desejavam, o encouraçado São Paulo ficou pronto e deixou o porto do Rio de Janeiro, puxado pelos dois rebocadores.

Dentro dele iam oito tripulantes da equipe inglesa, encarregados de monitorar o comportamento do navio durante a travessia.

As informações eram passadas através de um rádio portátil, já que o equipamento original do navio também havia sido retirado.

Por outro lado, foram embarcados dois pequenos barcos de apoio, coletes salva-vidas e duas dúzias de foguetes sinalizadores.

Por muito pouco, aquela tripulação a bordo do navio moribundo não ganhou, também, a companhia de uma família inglesa, pai, mãe e filho, desejosa de retornar ao seu país, mas sem recursos para comprar passagens.

Em troca da viagem, eles haviam proposto trabalhar a bordo, especialmente a mulher, que se ofereceu para a ser cozinheira do navio.

Mas, ao examinar o interior totalmente depenado do São Paulo, ela própria mudou de ideia.

Foi a melhor decisão da sua vida, como ficaria tragicamente comprovado semanas depois.

O reboque do encouraçado foi feito através de dois longos e grossos cabos, cada um com 30 centímetros de espessura, e a velocidade do comboio, por questões de segurança, não passava dos cinco nós.

Tão lento que o comboio levou um mês e meio para atingir a metade do caminho, nas proximidades do arquipélago dos Açores.

E foi quando o que parecia impossível aconteceu.

Até então, a viagem vinha sendo tranquila. Mas, naquelas alturas, início de novembro, as condições climáticas no Atlântico Norte já haviam mudado.

A suavidade do outono dera lugar às primeiras tempestades de inverno, e uma delas, bem mais forte que as anteriores, atingiu o comboio no início da tarde de 6 de novembro.

A cada hora subsequente, a visibilidade foi piorando na mesma proporção em que as ondas aumentavam de tamanho.

A operação de reboque foi ficando cada vez mais difícil, com o navio oscilando muito e dando apavorantes trancos nos cabos.

O São Paulo estava perto de ficar incontrolável.

No final da tarde, quando já não era mais possível ver o encouraçado no horizonte, por conta das altas ondas e da baixa visibilidade, os comandantes dos rebocadores fizeram contato, pelo rádio, com a tripulação a bordo do São Paulo.

Do navio a reboque, os oito homens relataram o desconforto gerado pela instabilidade do casco, comportamento que nem o enchimento dos tanques de lastro ainda no Rio de Janeiro, para evitar que o navio balançasse excessivamente na viagem, conseguia atenuar.

Foi a última vez que se teve notícias deles.

Logo, as condições de navegação pioraram ainda mais e os dois rebocadores passaram a ter extrema dificuldade em manter os cabos que os atavam ao navio esticados – sem falar no risco de uma colisão entre os dois barcos.

Os trancos e solavancos eram apavorantes e começaram a causar danos em um dos rebocadores, o Dexterous.

Temendo o pior, o seu comandante mandou soltar o cabo do reboque. Caso não fizesse isso, havia o risco de o rebocador passar a ser puxado pelo encouraçado, em vez de puxá-lo. E o resultado, muito provavelmente seria o seu naufrágio.

Só que, ao soltar o cabo, toda a tensão foi transferida para o cabo do outro rebocador – que, não aguentou e se rompeu.

Era o que faltava para selar o destino do encouraçado São Paulo.

Ele, agora, estava à deriva, descontrolado, entregue à própria sorte na tempestade e sem nenhum meio de propulsão capaz de permitir abordar as ondas com alguma segurança.

Era o seu fim.

O que exatamente aconteceu em seguida, nunca se soube nem jamais será sabido – porque tudo desapareceu no mar.

Quase que instantaneamente, aquele grande e poderoso navio, foi engolido pelas ondas, ao que tudo indica numa só talagada, e sumiu da superfície como num passe de mágica, levando junto seus oito infelizes ocupantes.

Quando o comandante do Dexterous pegou o rádio para avisar os colegas no São Paulo sobre a sua decisão de soltar o cabo, já não houve resposta do outro lado.

Mas ele só compreendeu o por que daquele silêncio quando o comandante do outro rebocador o avisou, também pelo rádio, que o seu cabo havia rompido.

A explicação só poderia estar na pior das hipóteses: o encouraçado havia afundado. Imediatamente, ele também desapareceu dos radares dos dois rebocadores.

Juntos, os dois comandantes iniciariam as buscas, apesar do mar em plena fúria e do estado precário de um dos rebocadores.

Dispararam foguetes, na esperança que os tripulantes respondessem da mesma maneira com os sinalizadores que os havia no navio, e passaram a noite inteira navegando em círculos, buscando algum sinal ou vestígio do São Paulo boiando na superfície.

Não encontraram nada.

Nem uma simples rolha que pudesse ter escapado de afundar junto com o navio – talvez, porque, como o encouraçado havia sido totalmente depenado antes da viagem, não houvesse mesmo muito o que se desprender dele.

Com a ajuda de aviões das Forças Aéreas da Inglaterra, Estados Unidos e Portugal, já que os Açores eram a terra firme mais próxima do local do enigmático sumiço do encouraçado, as buscas continuaram por mais uma semana.

Até que todos tiveram que admitir o improvável: mesmo tendo 17 compartimentos estanques, cujas funções eram justamente impedir naufrágios fulminantes, o encouraçado São Paulo havia sido engolido instantaneamente pelo mar.

O mais provável é que ele tenha adernado em demasia ao ser atingindo pelas ondas quando ficou inerte, tombado, inundado, capotado e mergulhado. Tudo isso em questão de minutos.

Mas como um navio de 150 metros de comprimento poderia ter inundado completamente em tão pouco tempo?

Para tentar responder a esta pergunta, um inquérito foi instalado na Inglaterra e, três anos depois, o comandante do rebocador Dexterous foi levado a julgamento.

Pesava sobre ele a acusação de, ao tomar a decisão de soltar o cabo que atava o navio ao seu rebocador, ter entregue à própria sorte os oito tripulantes do São Paulo.

Os familiares das vítimas cobravam justiça e a investigação recuou no tempo, até quando o encouraçado ainda estava no Brasil, sendo preparado para a viagem.

Ali, a decisão de extrair as portas estanques dos deques e tapar os orifícios dos armamentos no casco com simples placas de madeira chamou a atenção dos investigadores, que concluíram que isso pode ter contribuído para a inundação acelerada do navio.

Também concluíram que contribuiu para a tragédia o fato de a preparação do encouraçado ter atrasado, o que impediu que os comandantes dos rebocadores fizessem a travessia no período desejado, embora eles também tivessem falhado ao não adiar a viagem, até que a temporada de tempestades acabasse – o que, no entanto, traria sérios prejuízos financeiros a empresa que comprara o navio.

Quanto a decisão do comandante do Dexterous de soltar o cabo do reboque (que ele alegou só ter feito por temer pelo próprio naufrágio e por acreditar que um navio com aquele porte sobreviveria a tempestade, mesmo se ficasse à deriva), o júri não viu nada de irregular no procedimento e definiu que, “do contrário, a tragédia teria sido maior ainda”.

Por fim, o julgamento inocentou o comandante e, depois de puxar as orelhas dos responsáveis brasileiros pela preparação do navio, concluiu que o que efetivamente levou o encouraçado ao naufrágio foi a sua incapacidade de realizar manobras num mar que exigia isso, acima de tudo.

E ninguém foi punido.

Nem lá nem aqui.

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A tragédia do navio dos judeus abandonados

A tragédia do navio dos judeus abandonados

Entre os muitos horrores que a perseguição aos judeus na Segunda Guerra Mundial produziu não escaparam nem as tentativas de fuga pelo mar.

E quase todas frustradas, porque, além dos nazistas, também os oportunistas se aproveitaram do desespero das famílias judias para enriquecer, ludibriando as que tentavam escapar de Hitler.

Foi o que aconteceu no caso do infame navio S.S. Struma, um dos mais tristes exemplos de desdém pela vida humana que a história marítima já produziu.

Em 1941, a perseguição nazista se intensificou ainda mais e uma das saídas para os judeus passou a ser a cidade de Constança, na Romênia, de onde partiam velhos navios, rumo à Palestina.

Mas a maioria deles não passavam de sucatas e eram verdadeiras arapucas marítimas.

Como o S.S. Struma.

Em dezembro daquele ano, atraídos por cartazes com a imagem de um lindo transatlântico e que anunciavam “uma viagem luxuosa para a Terra Prometida”, 779 judeus de famílias abastadas pagaram pequenas fortunas por aquele tipo de fuga.

Mas ao chegarem ao porto, o que encontraram foi um decrépito cargueiro, construído no final do século anterior, sem a menor condição de navegar — um “navio-caixão”, como os inescrupulosos armadores da época chamavam os barcos já condenados, mas que a guerra ressuscitara.

Eles protestaram, mas o responsável pelo barco alegou que aquele era apenas o transporte até o verdadeiro transatlântico, que estava aguardando os passageiros fora do porto, porque era grande demais para atracar.

Mentira, claro.

Mesmo assim, eles embarcaram.

Até porque não tinham escolha.

Antes disso, todos os passageiros tiveram suas bagagens confiscadas, sob a desculpa de que as malas seguiriam depois, em outro barco, para não superlotar o S.S. Struma. Obviamente, também não era verdade.

Mas o pior — bem pior — ainda estava por vir.

Uma vez em alto mar, como esperado, além de não haver transatlântico algum no aguardo dos coitados, o velho navio passou a apresentar um defeito após o outro.

Logo no primeiro dia, o motor quebrou e o comandante teve que pedir socorro.

Um barco romeno veio ajudar, mas, em troca de ajuda, exigiu que os passageiros entregassem alianças, anéis e relógios.

Um verdadeiro saque.

O Struma voltou a navegar, mas precariamente.

A cada meia hora de travessia, desligava os motores e os deixava esfriar, por três horas.

Até que, perto de Istambul, na Turquia, quebrou novamente.

Desta vez, foi rebocado até o porto da cidade.

E lá começou o martírio dos judeus que estavam a bordo.

Como a Palestina estava sob a responsabilidade da Inglaterra, e como os ingleses temiam uma invasão descontrolada da região, eles convenceram as autoridades turcas a reter o navio no porto, alegando que seus passageiros não tinham vistos de entrada para onde seguiam e, também, como uma forma de desestímulo aos outros navios do mesmo tipo, que tinham o mesmo destino.

A bordo do S.S Struma, do qual ninguém podia desembarcar, a situação logo se tornou insuportável.

Não havia água nem comida, embora ele estivesse atracado no porto da capital turca.

E passou a ser servida apenas uma refeição quente não por dia e sim por semana.

Rapidamente, o único banheiro do navio teve que ser interditado, por questões sanitárias.

No porto de Istambul, o S.S. Struma transpirava fedor e horror.

Depois de muitos dias e longas negociações, foi permitido o desembarque de apenas uma mulher, que estava dando a luz a bordo, e de quatro judeus que já tinham vistos para a Palestina.

Mas ficou decretado que o Struma não voltaria a navegar – até porque os turcos haviam se recusado a fazer os reparos que o navio necessitava.

A agonia durou dez horripilantes semanas, ou dois meses e meio, até que, no 71º dia de espera no porto, num gesto ainda mais cruel que o dos ingleses, o governo turco decidiu cortar as amarras do S.S. Struma e expulsá-lo dali, com sua “carga humana”, mesmo ele não tendo como navegar por meios próprios.

Um rebocador arrastou o navio até a saída da baía e o deixou lá, inerte, à deriva, entregue à própria sorte.

Nas amuradas do navio condenado, os passageiros pediam socorro.

Em vão.

Como eram tempos de guerra e os submarinos alemães patrulhavam àquelas águas com rigor implacável, o final daquela história era tão previsível quanto abominável.

E foi justamente o que aconteceu.

Sem conseguir se locomover, muito menos se esconder, o S.S. Struma não durou mais do que uma noite no mar.

Virou alvo fácil para os torpedos de um submarino nazista e explodiu por inteiro, afundando em seguida.

Dos 774 passageiros que restavam a bordo (entre eles 103 crianças), apenas um sobreviveu – porque foi encontrado, por acaso, no dia seguinte, boiando na água, por um barco pesqueiro.

E embora a explosão tenha sido vista da própria Istambul, nenhum tipo de socorro foi enviado ao local.

Ironicamente, no dia seguinte, chegou à Turquia uma burocrática autorização inglesa para que as crianças do S.S. Struma fossem desembarcadas.

Mas já era tarde demais.

A guerra havia produzido mais uma brutal barbaridade.

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O barco dos fantasmas que ainda assombra a Amazônia

O barco dos fantasmas que ainda assombra a Amazônia

Madrugada de 19 de setembro de 1981.

Porto de Óbidos, rio Amazonas, interior do Pará.

O tempo estava bom e fazia uma noite gostosa no interior da selva amazônica, quando, como de costume, o barco de passageiros Sobral Santos II, uma típica gaiola amazônica, lá chamada de “navio”, porque tinha 40 metros de comprimento e casco de ferro, chegou de mais uma viagem, rio acima, desde Santarém, de onde partira nove horas antes.

Dali, ele seguiria para Parintins, Itaituba e, finalmente, Manaus, onde só chegaria dias depois.

No caminho, como sempre acontecia, subiram e desceram diversos passageiros, entraram e sairam muitas cargas.

Com tanto entra-e-sai, ninguém mais sabia quantas pessoas havia a bordo, nem o volume de mercadorias que o barco transportava.

Sabia-se, apenas, que eram muitas.

Como atestava a falta geral de espaço a bordo.

Culpa, reclamavam os passageiros, da ganância do dono do barco, que também era dono do Miranda Dias, que quebrara em Santarém e transferira quase tudo o que transportava para o Sobral Santos II – que, com isso, ficou ainda mais cheio.

E instável.

 

Na pressa da transposição da carga e dos passageiros de um barco para outro, formalidades como manisfestos e lista de ocupantes foram solenemente ignoradas.

Caixas de cerveja e sacos de legumes foram amontoados e amarrados com cordas nos conveses destinados aos passageiros, que, com isso, passaram a disputar quase a tapa um lugar para armar suas redes.

A desorganização na transferência da carga foi tamanha que nem o porão do Sobral Santos II chegou a ficar totalmente cheio.

Já o convés superior…

O Sobral Santos II era um barco velho, construído no início do século passado (ou nos idos de 1890, não se sabe ao certo), na Alemanha, e enviado para a Amazônia para trabalhar na exploração da borracha.

Sua capacidade era de 500 passageiros, mas apesar do aperto geral a bordo, naquela noite, aparentemente, não havia nem a metade disso a bordo – embora não tenha sido feita nenhuma contagem oficial.

Mesmo assim, às 18h15, o Sobral soltou as amarras e partiu de Santarém, rumo a Óbidos, um trecho de apenas 60 quilômetros, que ele venceu sem nenhum contratempo – salvo o desconforto geral dos passageiros, em meio a tanta carga.

Um deles sacou uma faca e cortou um pedaço da corda que prendia algumas caixas, a fim de fixar sua rede em outro canto do convés.

Outros, resignados, apenas deitaram sobre os sacos de batatas.

Às 3h15 da manhã, o barco atracou no pequeno porto de Óbidos, também sem nenhum problema.

Nem mesmo a famosa contra-corrente do rio que passa diante do flutuante da cidade e que forma um perigoso remanso, tornando as manobras ali sempre delicadas, desta vez atrapalhou a operação de atracação.

O Sobral encostou de bombordo e lançou cabos para o cais, onde havia umas 30 pessoas, a espera do barco, para embarcar e seguir viagem para Manaus.

Ele, então, foi amarrado. E desligou os motores.

Estava seguro no porto.

Mas 15 minutos aconteceu a tragédia.

Logo após serem embarcadas mais cinco sacas de farinha, o barco, mesmo preso ao cais, adernou violentamente.

Os cabos que o prendiam ao flutuante não agüentaram e foram arrebentando, um a um, feito frágeis linhas de costura.

Inclinada, a carga que se amontoava no convés se desprendeu e deslizou feito bolas de boliche, empurrando muita gente para a água e decretando de vez a tragédia.

Com todo o peso concentrado num só lado, o barco virou de vez.

E afundou rapidamente, a míseros metros do cais, levando para o fundo do rio um número jamais sabido de pessoas.

Foi tudo tão rápido que não deu tempo nem de os passageiros das 28 cabines, todas lotadas naquela noite, abrirem as portas e caírem fora.

Afundaram trancados lá dentro, até porque, possivelmente, dormiam no instante do acidente.

O próprio comandante do barco, David Silva, dormia na sua cabine e só escapou com vida porque o seu imediato o puxou para fora, quando o casco tombou de vez.

Outros também tiveram sorte.

Um dos tripulantes encarregados dos cabos de atracação, não precisou de esforço algum: apenas saltou do Sobral para o cais, a centímetros de distância, quando o barco começou a tombar.

Não molhou nem o pé.

Já uma senhora que acabara de embarcar foi tragada em questão de segundos e não teve tempo nem de pegar a mala, que restou solitária na beira do cais.

No breu da noite, as águas do Amazonas viraram um pandemônio de escombros e gente tentando não ser tragada pelo maior rio do mundo.

Alguns foram salvos com míseras braçadas até o cais.

Mas a maioria afundou junto com o barco, presa nos camarotes ou imprensada pela carga solta, esta, a principal causadora do acidente, como apuraria o inquérito da Marinha, três anos e 415 páginas de processo depois.

As gaiolas amazônicas são famosas pela estabilidade precária, porque, para serem barcos rápidos, seus cascos são estreitos.

E, para caber muita coisa dentro, são altos, com vários conveses.

O Sobral Santos II tinha três e levava carga em todos eles.

Além disso, no porto de Óbidos fica no trecho mais estreito de toda a extensão do Rio Amazonas e, por isso, dono de uma correnteza intensa – a tal contra-corrente, que tanto atormenta os comandantes de barcos da região.

Para completar o quadro de uma tragédia anunciada, seguindo a prática da época, o Sobral Santos II não fora vistoriado pela Capitania dos Portos de Santarém na partida, porque isso era feito apenas por amostragem – só um terço dos barcos eram examinados.

Nos demais, bastava uma simples declaração por escrito do seu comandante, dizendo que estava tudo bem com o barco e com a carga.

E o comandante David fez isso.

Mesmo sabendo que o transbordo da carga tinha sido feito as pressas e de qualquer jeito.

Por fim, ainda houve àquele passageiro que foi visto cortando um pedaço da corda de parte da carga, para prender sua rede.

Possivelmente, foi ele, indiretamente, o causador da tragédia.

Mas jamais se soube quem era, nem mesmo se escapou com vida dela.

No tumulto que se seguiu ao naufrágio, a precária lista de sobreviventes relacionou 183 pessoas.

Já os mortos foram impossíveis de apurar, porque a própria correnteza do rio tratou de levá-los embora e as piranhas, por certo, liquidaram os cadáveres logo depois.

Estabeleceu-se o caos também nos serviços de resgate dos corpos, pois ninguém sabia quantos procurar.

Recolhiam-se os corpos na medida em que surgiam, boiando na superfície barrenta do rio ou quando alguém da cidade mergulhava e conseguia livrar um ou outro do casco submerso.

No fim do dia da tragédia, dois navios da Marinha chegaram à Óbidos, para tentar por ordem nos trabalhos de resgate – até porque o barco estava afundado à beira de um degrau razoavelmente raso, mas prestes a deslizar para mais de 100 metros de profundidade.

Não conseguiram e ainda despertaram a fúria dos parentes das vítimas ao impedir a ação de mergulhadores locais, já que muitos deles estavam trabalhando por dinheiro, contratados pelas famílias para recuperar corpos e pertences deixados a bordo.

O garimpeiro Francisco Catanhede foi um dos sobreviventes que contratou os serviços dos mergulhadores.

Mas ele não buscava parentes e sim o seu pequeno tesouro: 2,4 quilos de ouro em pó, dentro de uma sacola plástica, que não teve tempo de tirar da cabine, quando acordou com tudo virando de cabeça para baixo.

Já o comerciante Celso Nakaut, de Parintins, também fez o mesmo.

Só que sua causa era bem mais nobre: ele buscava os corpos da nora e do neto, que estavam no barco e nenhum dos dois escapou com vida.

Não adiantou.

Seus corpos jamais foram encontrados.

Nos dias subsequentes, enquanto a Marinha tentava impedir que o casco do Sobral Santos II deslizasse do platô onde se encontrava e a imprensa dedicava páginas e mais páginas à tragédia (talvez, a primeira de tantas da Amazônia a ganhar repercussão nacional), valas eram abertas às pressas no cemitério de Óbidos, para receber os corpos não reclamados rapidamente pelos parentes.

Havia, também, alguns turistas estrangeiros a bordo e estes, seguramente, foram parar nas covas rasas, sem nenhuma identificação, já que não deu tempo de chegar nenhum parente do exterior.

Revoltados com a lentidão nos resgates dos corpos, que passaram a ser feitos apenas pelos mergulhadores da Marinha, os parentes começaram a acusar as autoridades de não ter muito empenho na missão, porque quanto mais corpos aparecessem, maior repercussão a tragédia teria, expondo, assim, a fragilidade da fiscalização dos barcos na Amazônia.

Acusavam especialmente o dono do Sobral Santos II, o empresário de Manaus Calil Mourão, e a Capitania dos Portos de Santarém.

O primeiro, pela ganância de colocar carga demais no barco.

A segunda, por não tê-lo vistoriado quando da partida.

Um inquérito foi aberto e testemunhas começaram a ser ouvidas.

Uma das primeiras questões foi tentar descobrir saber quantas pessoas, afinal, havia a bordo?

As revistas e jornais falavam em “mais de 300 mortos”, o que tornaria o naufrágio do Sobral Santos II o maior de todos os tempos na Amazônia ater então – pior até que o do barco Novo Amapá, ocorrido apenas oito meses antes, na foz do mesmo rio Amazonas, onde morreram mais de 250 dos 600 passageiros que ele transportava – embora àquela gaiola só tivesse capacidade para 150 pessoas.

Tomando por base a capacidade total do barco e os depoimentos dos sobreviventes, concluiu-se que, naquela noite, o Sobral Santos II estava “com umas 250 pessoas e uns 20 tripulantes”, quando emborcou no rio.

Destes, descontados os 183 sobreviventes apurados e os 49 corpos enterrados em Óbidos, restariam ainda “umas 40 vítimas a serem recuperadas”, segundo o levantamento.

E foi justamente para tentar reaver os cadáveres restantes que se tomou a decisão de içar o barco do fundo do rio, o que foi feito com um guindaste, dois tratores e muito esforço.

Mas nenhum outro corpo foi encontrado dentro do barco, porque os mergulhadores já haviam vasculhado tudo – pelo menos três dúzias de corpos foram dados como desaparecidos para sempre.

Mesmo assim, o macabro resgate do Sobral Santos II do fundo do Amazonas veio a calhar para, pelo menos, uma pessoa: o próprio dono do barco, que, depois de cumpridas as formalidades legais do inquérito (que, por sinal, não o incriminou – apenas o comandante, que foi obrigado a pagar uma multa e pronto), recebeu o casco de volta e novamente flutuando.

O Sobral Santos II estava avariado, mas inteiro.

Sendo assim, tão logo a tragédia caiu no esquecimento, o Sobral Santos II foi reformado, vendido e rebatizado como Cisne Branco, nome sob o qual navega até hoje.

E ainda na mesma rota Belém-Manaus.

Mas, quase 40 anos depois, provavelmente nenhum dos seus atuais passageiros sabe o que aconteceu com àquele barco, naquela madrugada de 19 de setembro de 1981, no mesmo porto de Óbidos, que até hoje ele freqüenta.

Se soubessem, talvez não embarcassem.

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Isolamento divide Família Schurmann e deixa metade em terra, metade no mar

Nos últimos 36 anos, os Schurmann, a família navegadora mais famosa do Brasil, se habituou a viver dentro do pequeno espaço de um barco durante as longas viagens que já fizeram pelos mares – nada menos que três voltas ao mundo, entre outras travessias menores.

Também se acostumaram a passar longos períodos confinados dentro da cabine do veleiro onde moram, sem poderem sequer botar o pé para fora, durante as tempestades ou quando as condições do mar não permitem isso.

Ou seja, é uma família com larga experiência em confinamento.

Mas os Schurmann nunca haviam passado pela experiência que estão vivendo agora, por conta do coronavírus.

A começar pelo (raro) fato de que a família, que é uma espécie de símbolo da boa união familiar, justamente por passar tanto tempo junta e compartindo o mesmo espaço, acabou ficando dividida e separada, porque a pandemia, e o consequente confinamento, pegou os Schurmann de surpresa, justamente quando cada um estava em um local diferente – mas com planos de, em seguida, voltarem a se reunir para navegar juntos.

Só que não deu tempo.

Quando o confinamento começou a ser decretado nos países da América do Sul, uma parte da família Schurmann (o pai, Vilfredo, um dos filhos, Wilhelm, e nora, Erika) estava no mar, navegando na região das Ilhas Falkland, no Atlântico Sul, e outra parte (a mãe, Heloisa, outro filho, David, e os netos Kian e Emmanuel) em São Paulo, se preparando para ir ao encontro do restante da família, no barco.

“Ficou um pedaço da família no mar e outro em terra firme”, brinca Heloisa, que, por muito pouco, não ficou retida ainda mais longe, em Miami, onde estava até pouco antes de começar a quarentena, tratando de questões familiares.

“Eu passei por São Paulo e estava seguindo para as Falkland, para encontrar o restante da família e voltar com eles no barco, quando veio a quarentena. Daí, entrei na casa do meu filho e não sai mais, enquanto eles ficaram retidos lá, sem data para voltar. A família se dividiu, metade lá, balançando no mar, e metade cá, tentando fazer o tempo passar, até a gente poder voltar a se juntar”, diz Heloisa, que preferia muito mais estar no barco do que numa casa, em São Paulo. Sobretudo agora.

“No mar, você está infinitamente mais protegido do risco de contágio pelo vírus, porque não tem nem vizinhos. É o melhor lugar para se estar nesse momento delicado e pena que não estou nele também”, diz a mãe-navegadora, que não sabe quando voltará a ver o marido e o outro filho, que estão ancorados a milhares de quilômetros de distância do restante da família.

“Eles pensam em começar a voltar ao Brasil com o barco no final do mês, mas isso vai depender de muitas coisas, entre elas a reabertura dos portos do Uruguai e Argentina, que estão fechados para barcos estrangeiros. E você não pode sair para o mar sabendo que, em caso de necessidade, não terá onde parar”, explica Heloisa, que, por conta das longas viagens de barco, às vezes atravessando oceanos por semanas a fio, tem larga experiência em isolamento.

“A diferença é que, nas travessias com o barco, nós ficamos isolados por opção, não por dever e obrigação, como agora. Mas tanto num caso quanto no outro, é preciso ter paciência e aproveitar a reclusão da melhor maneira possível”, ensina Heloisa, que tem dedicado parte do seu tempo na quarentena justamente aos preparativos da próxima viagem/aventura da família.

“Será nossa quarta volta ao mundo navegando, desta vez para alertar para os problemas ambientais que estão afligindo os mares e que se chamará Voz dos Oceanos. Ela está prevista para começar em setembro, mas, agora, só se a pandemia deixar. Ou seja, quando esse isolamento terminar, vamos nos isolar novamente, só que no barco e todos juntos de novo”, diz a matriarca dos Schurmann, que costuma ser a única mulher a bordo nas longas viagens do veleiro da família, já que seus três filhos são homens. “Eles cresceram num barco e, agora, é a vez dos netos”, diz Heloisa, orgulhosa.

Mas não é só pela questão da segurança que Heloisa Schurmann preferia estar no barco da família em vez de trancada numa casa em São Paulo. É que, há muito tempo, o veleiro Kat, de quase 25 metros de comprimento, se tornou a sua casa de fato. Mesmo quando eles não estão navegando.

“No barco, eu me sinto em casa, porque ele é a minha casa, literalmente”, diz, enfática. “Moramos no mar há 36 anos e era nele que eu queria estar agora também, junto com a outra parte da família”, diz.

Já a outra parte da família Schurmann não se arrependeu de ter permanecido no mar, quando começaram a ser decretados os isolamentos no mundo inteiro.

“Estávamos prestes a voltar para o Brasil quando começou o problema. Daí, concluímos que, nessa parte das Ilhas Falkland, onde só vivem cinco pessoas, estaríamos muito mais seguros do que em qualquer outro porto”, explica o capitão Vilfredo Schurmann, que está aproveitando o tempo livre a bordo para finalizar um livro que está escrevendo sobre a expedição que a família realizou, tempos atrás, em busca dos restos de um submarino alemão afundando em Santa Catarina, na Segunda Guerra Mundial.

“Aqui, estamos naturalmente isolados e podemos fazer até caminhadas, porque não há ninguém por perto. Só ovelhas e pinguins”, diz Vilfredo, que, assim como a mulher, Heloísa, faz parte do chamado Grupo de Risco, já que ambos têm mais de 70 anos de idade.

As Ilhas Falkland, que no Brasil são muito mais conhecidas como Ilhas Malvinas, por conta da guerra entre Argentina e Inglaterra, em 1982, ficam isoladas no Atlântico Sul, a cerca de 1 000 quilômetros do extremo sul da América do Sul, e são um dos poucos lugares do mundo onde o coronavírus ainda praticamente não chegou.

Até agora, houve ali apenas dois casos suspeitos, mas envolviam apenas soldados da base militar inglesa que existe nas ilhas, e que já estão recuperados.

Mesmo assim, o controle tem sido intenso na única cidade das Falkland/Malvinas, Stanley, onde vivem apenas 2 000 pessoas – quase a população inteira das ilhas, já que o restante são áreas virgens ou ocupadas por imensas fazendas de ovelhas.

“Aqui nas ilhas, a todo instante, as pessoas ficam sendo avisadas pelo rádio para não saírem de casa, e no único supermercado só entram alguns clientes por vez, todos protegidos por máscaras. É muito seguro. Mesmo assim, preferimos ficar afastados da cidade e ancoramos numa região onde não há absolutamente ninguém por perto”, diz o comandante dos Schurmann, que, com a experiência de um velho lobo do mar, não se cansa de tranquilizar as pessoas.

“Em 36 anos de mar, já enfrentamos muitas tempestades. Mas as tempestades sempre passam. E essa também vai passar ”, diz o líder da família que é quase sinônimo de vida no mar.

Mas que, agora, tal qual todas as famílias, também está metade lá, metade cá.