O barco que foi parar no teto da casa e virou atração turística

O barco que foi parar no teto da casa e virou atração turística

Quando um violento tsunami atingiu a Indonésia, em 2004, um barco de 25 metros de comprimento, levado pela inundação, foi parar em cima da casa da indonésia Fauziah Basyariah, na região de Banda Aceh, uma das mais afetadas pela tragédia.

Mas o que poderia ser o prenúncio de outra tragédia (o desmoronamento da casa causado pelo peso do barco) acabou sendo a salvação de Fauziah, da sua família e de um grupo de vizinhos, que ali haviam buscado abrigo contra a inundação – um total de 59 pessoas.

Ao perceber que o barco encalhara exatamente sobre sua casa, já então também tomada pelas águas, ela abriu um buraco no forro de madeira e mandou todos passarem para o telhado e embarcar no próprio barco – que permaneceu milagrosamente “ancorado” no teto da casa até o nível das águas baixaram.

E ali ele ficou até hoje, agora transformado em atração turística na cidade.

Virou a Arca de Noé do tsunami da Indonésia.

Gostou desta história?

Ela faz parte do livro HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, que por ser comprado clicando aqui, pelo preço promocional de R$ 49,00 com ENVIO GRÁTIS

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE ESTE LIVRO


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor


“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor

 

 

O naufrágio dos 5 000 automóveis zero quilômetro

O naufrágio dos 5 000 automóveis zero quilômetro

Durante um bom tempo, ao longo da primavera de 1988, a principal distração dos frequentadores da Praia da Madalena, no litoral norte de Portugal, foi sentar-se na areia e ficar admirando o enorme casco do cargueiro japonês (mas com bandeira panamenha e tripulação sul-coreana) Reijin, tombado bem diante da praia.

O navio era tão grande que praticamente impedia a visão da linha horizonte.

Não havia como ignorar aquele gigante de aço deitado a míseros metros da areia, e pequenas multidões passavam o dia apreciando aquela insólita paisagem.

Mas, bem mais interessante do que o encalhe em si, era o que havia à mostra no convés do navio semiafundado: automóveis.

Centenas de automóveis zero quilômetro.

Cerca de 5 000 novíssimos carros da marca Toyota jaziam à mostra, sendo borrifados, dia e noite, pela água salgada.

Uma desejada e valiosa carga, sendo paulatinamente deteriorada pelas ondas da praia.

Alguns banhistas mais ousados chegavam a nadar até o monstruoso casco adernado, em busca de algum suvenir ou – quem sabe? – um acessório possível de retirar dos automóveis prestes a serem engolidos pelo mar.

Durante meses, a Praia da Margarida, que nunca fora muito popular entre os moradores da vizinha cidade do Porto, tornou-se atração turística de primeira grandeza na região.

E tudo por conta da pitoresca carga daquele navio, logo apelidado de “Titanic dos Carros”.

O que causou tudo aquilo foi a incompetência da tripulação sul-coreana, que, após desembarcar cerca de 200 automóveis no porto de Leixões, vizinho à praia, não tomou o devido cuidado de compensar o peso extraído do navio completando os seus tanques de lastro.

A consequente má distribuição do peso a bordo desestabilizou o Reijin, que acabou tombando nas ondulações do rumo (também equivocado) que tomou ao sair do porto: em vez de rumar para o mar aberto, o navio avançou paralelo à costa, onde as ondas são sempre mais vigorosas.

Era madrugada do dia 26 de abril quando o costado de bombordo do Reijin inclinou e encostou no mar, incapaz de retornar à posição original.

Em seguida, o navio foi arrastado pelas ondulações até a orla, onde as pedras da Praia da Margarida selaram de vez o seu destino.

Dos 22 tripulantes que havia a bordo, um morreu e outro desapareceu no episódio.

E, embora ainda novo (fora lançado apenas um ano antes e aquela travessia, do Japão até a Europa, era a sua primeira grande viagem), o Reijin foi dado como perdido.

Bem como sua cobiçada carga de automóveis, que virou pura tentação para a vizinhança da praia.

Nos meses subsequentes, para frustração geral da plateia, milhares de carcaças de carros jamais utilizados foram retiradas do navio encalhado e, mais tarde junto com ele próprio, afundadas num ponto a 40 milhas da costa, o que transformou o local em um dos maiores ferros-velhos submersos do planeta.

Nenhum automóvel foi salvo, muito menos resgatado pelos ambiciosos moradores da região.

Aos esperançosos banhistas da Praia da Margarida só restaram pedaços de ferro carcomido do navio e um ou outro acessório encharcado daqueles 5 000 automóveis trazido pelo mar.

Para eles, o sonho de ter um carro zero quilômetros de graça também morreu na praia.

Gostou desta história?

Ela faz parte dos livros HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, VOLUMES 1 e 2, que podem ser comprados clicando aqui, com DESCONTO DE 25% e ENVIO GRÁTIS

Clique aqui para ler outras histórias.

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE ESTES LIVROS


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor

“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor

Foto: Reprodução Facebook

O que pode ter acontecido com o casal no mar de Angra do Reis? O mistério continua

O que pode ter acontecido com o casal no mar de Angra do Reis? O mistério continua

Vinte dias atrás, no final da tarde de domingo, 22 de agosto, o casal carioca Cristiane Nogueira da Silva, de 48 anos, e Leonardo Machado de Andrade, de 50, embarcaram na traineira Novo Milênio I, que pertencia a ele, e partiram, só os dois, da Praia da Longa, na Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, para apreciar o pôr do sol na vizinha Lagoa Verde, a pouco mais de um quilômetro de distância.

E desapareceram – bem como o barco no qual estavam.

Nove dias depois, o corpo de Cristiane surgiu em uma parte erma da Baía de Mangaratiba, a quilômetros de distância do ponto para o qual supostamente haviam partido, assim como dois itens que pertenciam ao barco, mas em áreas opostas – o que, juntamente com um intrigante foguete sinalizador avistado na região na noite seguinte ao desaparecimento, deu ao caso ares de mistério.

Embora a causa mais provável seja a de um simples naufrágio, outras hipóteses ainda estão sendo consideradas pela polícia.

Ao longo de mais de duas semanas, a Marinha vasculhou toda a região, que é bem grande, já que mais de 50 quilômetros de mar separam a Lagoa Verde da baía da Marambaia, onde o corpo de Cristiane foi encontrado.

E tudo o que foi encontrado foi uma janela e duas boias do barco, boiando no mar.

Só que em locais opostos, o que confundiu ainda mais as buscas pelo barco supostamente afundado.

A janela, segundo a polícia, foi encontrada na Lagoa Verde, na Ilha Grande – um claro indicativo da área onde a traineira teria afundado.

Já as duas boias apareceram na baía de Marambaia, área oposta à da lagoa, mas a mesma onde apareceu o corpo de Cristiane, e aparentemente pelo mesmo motivo: a influência da correnteza, que teria arrastado corpo e boias da Ilha Grande para lá – algo bem comum de acontecer na região.

Para complicar ainda mais as buscas pelo barco, no início da noite do dia seguinte ao desaparecimento do casal, um grupo de amigos filmou o disparo de um foguete sinalizador, equipamento náutico usado para pedir socorro no mar, na região da Marambaia.

Aquele foguete poderia ter sido disparado do barco do casal, como um pedido de socorro.

Embora o autor do vídeo diga que entrou em contato com os Bombeiros para avisar sobre o estranho sinal, aparentemente, na mesma noite, nenhuma busca na região foi feita.

“A polícia só foi para lá dias depois, quando o corpo da Cristiane apareceu”, lamenta a ex-esposa de Leonardo, Vanessa Morett, com que o casal mantinha um bom relacionamento.

No entanto, não há como relacionar o disparo do tal foguete com o barco do casal – pode ter sido um disparo acidental ou brincadeira vinda de outro barco, já que não são raros os donos de embarcações que usam erradamente aquele tipo de sinalizador como foguetes de comemoração.

Além disso, como explicar que a janela do barco tenha sido encontrada a dezenas de quilômetros de lá, na Lagoa Verde, no sentido contrário ao da correnteza?

Ainda assim, a divulgação do foguete sinalizador, que só pipocou nas redes sociais dias depois, levou a polícia e a Marinha a ampliar as buscas pelo barco em muitos quilômetros quadrados, aumentando também as chances de não encontrá-lo – porque, quanto maior for a área, mais difícil fica o trabalho.

“Achar o barco é fundamental”, sempre disse o delegado encarregado do caso, Vilson de Almeida Silva, da 166ª Delegacia Policial de Angra dos Rei. “Só a partir dele será possível entender o que aconteceu com o casal. Se é que o barco afundou de fato…”

Já a segunda dúvida que paira sob a hipótese de naufrágio é por que o corpo de Cristiane não estava com um colete salva-vidas quando foi encontrado, uma vez que vestir este equipamento costuma ser a primeira providência em casos desse tipo – sobretudo para alguém tão atento às questões de segurança, quando a primeira esposa garante que era o ex-marido.

Para reforçar este argumento, uma foto da traineira usada pelo casal mostrava claramente muitos coletes salva-vidas armazenados debaixo da cobertura do convés, além de duas boias salva-vidas penduradas na lateral da cabine – as mesmas que, depois, foram encontradas boiando nas águas da baía de Marambaia.

Por que aqueles equipamentos de segurança não foram usados pelas vítimas no eventual naufrágio?

Uma das hipóteses é que o naufrágio tenha sido tão fulminante que não houve tempo para nada, o que também invalidaria o disparo do tal foguete sinalizador.

Outra, é que as duas boias encontradas no mar tenham se desprendido naturalmente do barco quando ele afundou, já que elas estavam apenas penduradas na lateral da

A possibilidade de haver uma relação direta entre o disparo do foguete sinalizador e o barco do casal, 24 horas depois do desaparecimento deles, só se explicaria se a embarcação tivesse tido algum problema (quebra do motor ou inundação parcial – o que explicaria aquela janela encontrada no mar…), e ficasse à deriva durante toda a noite e também ao longo do dia seguinte inteiro, sendo levada pela correnteza, na direção da baía de Marambaia.

No entanto, logo no dia seguinte ao desaparecimento do casal, um helicóptero sobrevoou a região e não encontrou nenhum sinal da traineira – que não poderia ter ido tão longe, em tão pouco tempo, levada apenas pela correnteza.

Além disso, é pouco provável que outro barco não tivesse visto a traineira à deriva, durante todo o dia, em uma das áreas mais movimentadas da região.

A menos que o barco do casal já não estivesse mais na superfície – o que, no entanto, eliminaria de vez a relação dele com aquele foguete, na noite de segunda-feira.

Ou, então, que o foguete não estivesse no barco e sim com um dos náufragos no mar…

Além da hipótese de naufrágio instantâneo, causado por algum acidente – tese defendida pela maioria das pessoas –, também não foi descartada a possibilidade de o casal ter sido vítima de um assalto e roubo do barco no mar, embora o corpo de Cristiane não apresentasse lesões.

Até porque, antes de sair de casa, Leonardo teria confidenciado a um amigo vizinho que, após assistir ao pôr-do-sol, pretendia “namorar” um pouco no barco, ou seja, já na parte da noite.

Isso pode ter deixado o casal desatento, além de levá-los para o interior da cabine, sem, portanto, visão externa de uma eventual movimentação ao redor do barco – situação na qual poderiam ser facilmente dominados por ladrões.

A tese de assalto seguido de latrocínio também explicaria por que o corpo de Cristiane fora encontrado sem um colete salva-vidas, equipamento que o barco tinha em profusão.

Mas é contraditória com as duas boias encontradas no mar – que ladrão lançaria boias para as vítimas que jogara ao mar?

Tão logo o desaparecimento do casal foi noticiado, o filho de Cristiane, Guilherme Brito, recebeu ligações de supostos sequestradores, que diziam estar com as duas vítimas e pediam resgate.

Mas era golpe: bandidos estavam se aproveitando do desespero da família para tentar extorquir dinheiro.

Embora a hipótese de o casal ter sido vítima de assalto, seguido de roubo do barco e arremesso deles ao mar, não tenha sido descartada pela polícia, o surgimento das duas boias enfraqueceu esta tese – e reforçou ainda mais a de um simples naufrágio.

Ou, então, a de um golpe muito bem arquitetado…

Cristiane e Leonardo vinham ensaiando uma reconciliação há tempos, após dois anos separados de uma união que durara mais de oito.

Foi com esse intuito que o casal decidiu passar um fim de semana junto, na mesma na praia onde Leonardo vinha morando, desde que deixara o Rio de Janeiro.

Cristiane veio, então, de Salvador, onde estava morando, para encontrar o ex-companheiro, com quem vinha mantendo um bom relacionamento à distância.

Se algo aconteceu entre eles na noite do desaparecimento, não se sabe.

Mas câmeras de segurança da casa mostraram os dois saindo, para embarcar no barco, no final da tarde do dia em que desapareceram, em perfeita harmonia.

“De jeito algum acredito em crime passional ou feminicídio”, garante a ex-esposa Vanessa. “O Leonardo jamais foi violento”.

Ainda assim, a polícia também não descarta a hipótese de Cristiane ter sido vítima do ex-companheiro.

Segundo esta linha de raciocínio, ele poderia tê-la jogado ao mar antes de fugir com o barco, e simular o naufrágio – neste caso, a janela e as duas boias encontradas no mar fariam parte de uma encenação.

Ou, então, de ter intencionalmente provocado o naufrágio com ela dentro do barco.

Isso explicaria por que o corpo de Leonardo ainda não foi encontrado, bem como o barco – embora, casos desse tipo não sejam nada raro de acontecer no mar.

O fato de os documentos e celular de Leonardo não terem sido encontrados na casa (ao contrário dos de Cristiane), levou a polícia a pedir a quebra do sigilo telefônico e rastreio do aparelho dele.

Mas nada ainda foi provado.

“Não se trata de acusar uma vítima, mas é preciso investigar todas as possibilidades”, argumenta a polícia, que ainda não tem a menor ideia do que realmente aconteceu com o casal, no mar de Angra dos Reis.

Gosta de histórias desse tipo?

Leia 200 delas no livro HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, que por ser comprado clicando aqui, pelo preço de R$ 49,00, com ENVIO GRÁTIS.

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE ESTE LIVRO

Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor

“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor

 

O que aconteceu com o velho comandante argentino?

O que aconteceu com o velho comandante argentino?

Na noite de 8 de abril de 2018, um domingo, o telefone tocou na sede do serviço de buscas e salvamentos Salvamar Sueste, da Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro.

Era o mestre do barco pesqueiro Robson III comunicando que havia visto um grande veleiro navegando estranhamente em círculos, nas imediações de Guaratiba, entre Angra dos Reis e o Rio de Janeiro.

O barco tinha as velas arriadas, mas seu motor estava ligado e o leme travado, de forma que ele ficava dando voltas sem parar no mar. Mas o mais intrigante é que, aparentemente, não havia ninguém a bordo.

Começava ali um dos maiores enigmas recentes do mar brasileiro: o desaparecimento, seguido de morte, do experiente comandante argentino Erwin Rosenthal, de 83 anos, único tripulante daquele barco, cujo nome, Misteriosa, ironicamente soava como um prenúncio do que viraria aquele caso – um mistério que, até hoje, não teve todas as respostas.

Na manhã seguinte ao aviso sobre a localização do veleiro à deriva, o navio patrulha Guaporé, da Marinha do Brasil, chegou ao local e constatou que o mestre do barco pesqueiro estava certo: a bordo daquele veleiro, um MacGregor, de 65 pés, com bandeira americana e agora abandonado no meio do mar carioca, não havia nenhum sinal do solitário comandante argentino, conhecido em seu país como “Capitan Erwin”, dono de um currículo com milhares de milhas navegadas. Mas sobravam sinais de que algo de anormal havia acontecido.

O interior do barco estava bagunçado, sujo e remexido – algo incompatível com o lendário jeito metódico do velho capitão. E o cockpit, cheio de pedacinhos de mato seco, desses que grudam na sola dos calçados após uma caminhada na terra – algo ainda mais absurdo em se tratando de um barco no meio do mar.

E mais: havia um botijão cheio de gás de cozinha, desses que usa em casas, não em barcos, no meio da cabine.

E, ao lado dele, um engenhoso aparato explosivo, montado com dois foguetes sinalizadores marítimos e uma garrafinha de álcool, atados a um cabo para acionamento pelo lado de fora do casco.

O objetivo parecia claro: explodir o barco.

Mas, por quê?

E por que ele não chegou a ser acionado, se estava tudo preparado?

Começavam uma série de perguntas sem respostas.

A começar pela mais relevante de todas: que fim teria levado o capitão Erwin?

A princípio, a resposta parecia óbvia.

Com mais de 80 anos de idade e navegando sozinho, como costumeiramente fazia, era fácil imaginar que o velho comandante poderia ter tido um mal súbito ou escorregado e caído ao mar, sendo deixado para trás pelo barco em movimento – tese, no começo, defendida por quase toda a comunidade náutica.

Mas aquele sinistro artefato montado no barco e a firme convicção da família de que o capitão havia sido vítima de assassinato, não de acidente, fizeram todo mundo rever suas teorias. Inclusive a própria polícia.

Restaram, então, duas hipóteses: latrocínio seguido de homicídio ou abandono voluntário do barco.

Ou seja, o próprio capitão poderia ter tramado tudo aquilo, simulando o próprio desaparecimento, seguido da destruição do barco, num típico caso de golpe contra a seguradora.

Mas havia um detalhe: nem ele nem o barco tinham seguro – a única proteção que o veleiro tinha era contra eventuais danos que ele pudesse causar em outros barcos.

Além disso, se tivesse tramado fugir e explodir o barco, por que o comandante argentino teria se dado ao trabalho de comprar, num shopping de Angra de Reis, dias antes de partir, os cremes de beleza que sua mulher pedira por telefone? – e que ela os encontrou ao vistoriar o barco, dias depois de o marido ter desaparecido.

Só estes dois fatos já bastariam para fragilizar a hipótese do sumiço premeditado do capitão, embora outras teorias tenham surgido.

Uma delas pregava a fuga do argentino por questões amorosas e não financeiras, já que o comandante chegou a hospedar em seu barco uma uruguaia durante a longa parada que fizera em Angra do Reis.

Mas a função dela teria sido apenas cuidar do veleiro enquanto ele viajava para Buenos Aires, justamente para o aniversário da esposa.

Na volta, a uruguaia teria ido embora.

Contudo, o fato decisivo que colocou por água abaixo a tese de fuga proposital do comandante veio dias depois.

Na noite de 4 de maio, quase um mês depois do aparecimento do barco vazio, um corpo do sexo masculino, sem cabeça, faltando outras partes do corpo e em adiantado estado de putrefação, foi encontrado, boiando, nas imediações da Ilha Grande.

Pelo seu estado, não havia como ser identificado, razão pela qual a polícia pediu um exame de DNA à família do argentino.

O exame ainda estava sendo processado quando, uma semana depois, outro corpo parcialmente mutilado apareceu boiando na mesma região.

Mas com dois diferenciais que logo fizeram a polícia e a família abrir mão de investigar o primeiro cadáver: o novo corpo tinha arcada dentária, um dos mais eficazes meios de identificar uma pessoa, e, mais relevante ainda, uma bermuda branca, de tecido resistente à água, idêntica a que Erwin possuía.

Uma rápida consulta à dentista do argentino, em Buenos Aires, que fez a comparação da imagem da arcada dentária com os registros do seu paciente, comprovou que se tratava, de fato, do corpo de Erwin, já bastante deteriorado pelo tempo que passou em contato com a água salgada – restava-lhe apenas parte do esqueleto (pés, por exemplo, não haviam mais), com alguns ossos unidos apenas por fiapos de tecido.

Recolhida por pescadores, a ossada foi entregue à polícia, que, um mês depois, liberou os restos mortais do velejador argentino para a família enterrá-los em Buenos Aires, sem, no entanto, conduzir uma perícia mais apurada sobre a causa da morte – nem tampouco se empenhou em buscar outras respostas.

O velho comandante estava morto – disso não restavam dúvidas. Restava saber como e por que ele havia morrido?

E, acima de tudo, já que a hipótese de queda acidental no mar estava descartada, quem o havia matado?

A alternativa mais provável passou a ser a de roubo seguido de morte, num típico caso de latrocínio, crime que, no mar, costuma ganhar um termo mais romantizado: pirataria.

Mas que ladrão se daria ao trabalho de montar todo aquele complexo sistema para explodir o barco?

Não seria bem mais fácil simplesmente afundá-lo?

Para a primeira dúvida, a causa da morte, o estado em que o corpo foi encontrado não permitiu, segundo a polícia, uma conclusão precisa – até porque, dentro do falido sistema policial do Rio de Janeiro, nem mesmo uma autópsia chegou a ser feita.

Aparentemente, não havia sinal de disparo de arma de fogo nos ossos encontrados, embora faltassem alguns deles.

Mas a ausência dos pés da vítima permitia supor que o comandante poderia ter sido atirado ao mar ainda vivo, amarrado a um peso ou âncora, o que explicaria a demora para o aparecimento do corpo – que só teria subido à superfície após o apodrecimento dos membros inferiores.

Mas, bem mais revelador do que este detalhe foi o local onde os restos do corpo foram encontrados: nas proximidades da Ilha das Palmas, bem diante da enseada com mesmo nome, na Ilha Grande – mesmo local onde toda aquela estranha história começara, cinco semanas antes.

Em 28 de março de 2018, o veleiro Misteriosa, como de hábito com apenas o velho capitão Erwin a bordo, entrou na Enseada das Palmas, após uma longa temporada ancorado em Angra dos Reis.

Ali, o comandante argentino reencontrou um conhecido, o navegador austríaco Johann Pauer, que também vivia sozinho num barco, o trimarã Pollen, que já estava no Brasil havia um tempo.

Johann ajudaria Erwin a revisar o veleiro para mais uma etapa da longa travessia que o Misteriosa vinha fazendo, desde o Uruguai até o Panamá, onde seria vendido ou usado para fazer charters. O próximo destino do roteiro seria Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, onde, então sim, outro tripulante, igualmente argentino, se juntaria ao velho capitão, para ajudar na travessia até o Caribe.

Mas o Misteriosa não foi além de Guaratiba, a pouco mais de 30 milhas da Ilha Grande, onde foi encontrado vazio e à deriva. O que aconteceu? Ninguém nunca soube ao certo.

A própria história do veleiro Misteriosa é um caso à parte.

Comprado tempos antes por um endividado empresário argentino, chamado Carlos Martinez Uria, o barco passou oito anos retido na Argentina por ter vindo do exterior em situação irregular.

Depois, foi levado para o Uruguai, onde só fez acumular dívidas numa marina.

Foi quando entrou nessa história o capitão Erwin, que conhecia Carlos, e lhe fez uma proposta: pagaria as dívidas do veleiro na marina, reformaria o barco e o levaria para o Panamá, onde ele seria vendido ou usado para fazer passeios com turistas, recuperando assim o dinheiro de ambos.

Carlos concordou e o velho capitão, depois de gastar cerca de 25 mil dólares para regularizar o barco, partiu, em agosto de 2017, rumo ao Brasil.

Aqui, foi pingando ao longo da costa, até que chegou a Angra do Reis, onde o Misteriosa passou praticamente o verão inteiro de 2018.

Até que, no final de março, retomou a viagem ao Caribe. Mas, antes, fez aquela escala na Enseada das Palmas.

A última da vida do capitão Erwin.

Lá, o Misteriosa ficou fundeado uma semana, ao lado do barco de Johann.

Motor, gerador, bombas, tudo fora checado, como ele informara a esposa, por telefone, numa das várias ligações que fizeram um para o outro.

Numa delas, Erwin informara que comprara uma arma e que Johann, que tinha experiência no assunto, o ensinaria a usá-la (mais tarde, após o sumiço do argentino, ao perguntar ao austríaco sobre a arma que o marido havia comprado, a esposa de Erwin garantiu que Johann respondera que nada sabia sobre isso).

A permanência do barco do comandante argentino na Enseada das Palmas teria durado, segundo Johann, sabidamente a última pessoa que esteve com ele, até as primeiras horas da manhã de 7 de abril, um sábado.

Por volta das cinco da manhã daquele dia, ele teria se despedido do austríaco pelo rádio e partido.

Também segundo Johann, dez ou quinze minutos depois, outro barco, um jamais identificado catamarã, com cerca de 60 pés de comprimento, que havia chegado à Enseada das Palmas apenas na noite anterior (daí não ter sido identificado, por conta da escuridão, como explicaria, depois, o austríaco), partiu também.

E, segundo Johann, no mesmo rumo do veleiro do argentino.

Se houve alguma relação direta entre a partida quase simultânea dos dois barcos, jamais se soube.

Até porque o suposto catamarã nunca foi identificado, nem sequer teve sua existência confirmada pelas autoridades, que tampouco se empenharam em localizá-lo.

Quando, no final do dia seguinte, o Misteriosa apareceu à deriva, com a cabine remexida e acrescida de um botijão doméstico de gás de cozinha, exibindo intrigantes restos de mato seco no convés e um engenhoso aparato montado para supostamente fazê-lo ir pelos ares, a primeira pessoa a ser contatada pelos familiares de Erwin e por alguns amigos que ele fizera em Angra dos Reis foi Johann, o último a estar com o argentino.

A todos, o austríaco contou sobre o tal catamarã que teria partido da enseada logo após a saída do Misteriosa, mas que só ele teria visto.

E sempre completava com o comentário de que “todo mundo sabia que Erwin navegava sozinho e que estava indo para fora do país, com um grande veleiro estrangeiro”, como forma de alimentar as suspeitas de um ato de pirataria, nada raro na região, por sinal.

De fato, não era segredo para ninguém que, a despeito da idade avançada e do porte avantajado do barco no qual navegava, o capitão Erwin preferia navegar em solitário, o que o tornava uma presa relativamente fácil.

Ele também não escondia de ninguém que estava rumando para o Caribe, portanto, uma longa viagem, que exigia recursos, bons equipamentos no barco e, obviamente, algum dinheiro a bordo.

E, ainda por cima, conduzia um veleiro vistoso, de bom porte e com bandeira americana – uma tentação para qualquer ladrão.

Mas, desde então, o que aconteceu com o velho capitão não passa de especulação.

Uma das teses mais defendidas na época pregava que o barco teria sido abordado no mar por bandidos, que teriam rendido o comandante argentino e desviado o veleiro para algum ponto de terra firme, entre a Ilha Grande e Guaratiba – muito possivelmente, a Baía de Sepetiba, repleta de ilhas e margens desertas, onde esconder um barco não é tarefa difícil.

Ali, o interior do veleiro teria sido revirado, em busca de dinheiro e objetos de valor, o que explicaria a bagunça na cabine e os intrigantes tufos de vegetação seca no cockpit, trazidos de terra-firme pelo entra e sai dos bandidos no barco.

Quando, dias depois, o veleiro foi vistoriado pela família de Erwin, esposa e filho deram falta dos dois celulares do comandante, um telefone móvel marítimo, o rádio VHF do barco, todo o dinheiro que havia na carteira dele, alguns cartões de crédito e o seu passaporte mais recente.

Mas, estranhamente, os dois computadores portáteis, onde o metódico capitão registrava todas as rotas que fazia, permaneciam no barco, algo inexplicável em se tratando de ladrões.

Além disso, havia outro fato ainda mais intrigante ligado aos dois computadores: neles, a última rota registrada do Misteriosa era a da chegada do barco à Enseada das Palmas, mais de uma semana antes.

Por que o zeloso capitão, que gravava até os mínimos percursos, como o de Angra dos Reis à vizinha Ilha Grande, não teria traçado a longa rota que faria até Búzios?

A menos que a nova rota tivesse sido propositalmente apagada por quem invadiu o barco, para não deixar pistas sobre por onde o veleiro passara após sair da Ilha Grande – outro procedimento altamente improvável no caso de simples ladrões.

Não teria sido mais fácil simplesmente dar um fim nos computadores?

Por que deixá-los no barco?

Pela teoria da simples pirataria, o capitão teria sido morto (propositalmente ou por acidente, talvez ao reagir ao assalto, já que tinha temperamento forte) não dentro do barco, já que não foram encontrados vestígios de sangue no veleiro abandonado, mas sim em terra-firme, o que explicaria o sumiço do corpo e os vestígios de vegetação no convés.

Também ali o barco teria ficado um bom tempo, no mínimo, um dia inteiro, já que o veleiro teoricamente partira da Enseadas das Palmas nas primeiras horas da manhã do dia 7 de abril e só foi encontrado na noite do dia seguinte, portanto, mais de 40 horas depois, algo inexplicável para um percurso que, em circunstâncias normais, não consumiria mais que cinco ou seis horas de navegação.

Só mesmo uma longa parada do barco em algum ponto da região justificaria tal descompasso de horários.

Ainda de acordo com a tese da pirataria, também em terra-firme o barco teria sido preparado para explodir, mais tarde, no mar, ajudando assim a despistar o desaparecimento do argentino.

Isso explicaria a inclusão daquele botijão de gás a bordo e a delicada montagem do sistema de disparo de dois foguetes sinalizadores marítimos dentro da cabine, uma operação bem mais fácil de executada com o barco parado ou ancorado do que balançando no mar – e uma operação complexa demais para ser planejada e executada por simples ladrões sem conhecimento náutico, o que pressupõe que quem preparou o sistema tinha, no mínimo, alguma noção sobre barcos.

A começar pela própria opção dos pirotécnicos marítimos como detonadores de uma explosão.

Que, por fim, não aconteceu.

Mas – de novo – por quê?

Por que o disparador não foi acionado?

Uma das explicações para isso poderia estar no fato de que, por ser fim de semana, período de intenso movimento de barcos na região, alguma embarcação poderia ter se aproximado e intimidado a ação.

Ou que algo tenha dado errado na operação, já que o veleiro foi mantido em movimento, talvez para ajudar o autor do disparo a se afastar mais rapidamente do casco prestes a explodir.

Mas quem teria feito aquela frustrada tentativa de mandar o barco pelos ares?

Se é que o objetivo era, de fato, explodir o veleiro…

Esta foi outra tese que chegou a ser ventilada na ocasião: a de que o capitão poderia ter sido vítima de interesses comerciais para que não prosseguisse viagem, já que o veleiro poderia ser vendido ali mesmo, em Angra dos Reis – como, de fato, foi tentado durante meses a fio, após a morte do argentino.

Mas, premido pela necessidade de tirar o barco do país, pois o prazo de permanência do Misteriosa em águas brasileiras estava se esgotando, e temendo não receber o dinheiro que empenhara na regularização do veleiro, Erwin teria decidido seguir em frente, “mesmo a contragosto”, segundo sua esposa, “porque o barco vinha demandando mais despesas do que ele imaginara”.

O argentino teria chegado a discutir com o dono do veleiro sobre esta questão financeira e dito que só devolveria o barco quando recebesse a sua parte.

Por esta teoria, Erwin teria sido seguido ao partir Enseada das Palmas (talvez, pelo tal misterioso catamarã que o austríaco Johann garante ter visto), interceptado no mar logo em seguida, e ali sido entregue à própria sorte, no fundo do mar.

O passo seguinte seria “simular” a fuga do capitão, criando o “cenário” para a explosão do veleiro, mas sem executá-la, já que o objetivo era, acima de tudo, poupar o barco – que, por fim, acabaria mesmo sendo devolvido ao seu proprietário dias após o ocorrido.

Isso, na hipótese de o velho capitão ter chegado a sair da Enseada das Palmas…

O fato de os restos do seu corpo terem sido encontrados bem diante da mesma enseada (e não próximos ao local onde o veleiro foi achado, ou no caminho para lá) sugere que, talvez, o desafortunado Erwin não tenha sequer partido nas primeiras horas daquela manhã de abril, como garantiu Johann.

Ou, então, que fora atacado imediatamente após isso, pelo misterioso catamarã, que, também, só o austríaco disse ter visto.

Só uma destas duas hipóteses explicaria o surgimento, naquela baía isenta de correntezas, de um corpo que tivesse passado mais de um mês preso ao fundo do mar.

O mais provável é que o crime tenha sido cometido enquanto o Misteriosa ainda estava placidamente ancorado na Enseada das Palmas, ao lado do barco do austríaco – que, por essas e outras, passaria da condição de testemunha para a de eventual suspeito.

Pelo mesmo raciocínio, após o argentino ter sido executado, seu barco teria sido levado pelo próprio executor para longe dali, preparado para explodir e abandonado no mar, enquanto o autor escapava no bote do próprio veleiro – que não foi encontrado junto com o Misteriosa, nem jamais localizado. Imaginativo demais para ser verdade?

Não quando se analisam todos os detalhes deste caso realmente enigmático.

Contribuiu para estas dúvidas a inépcia das autoridades e a forma lenta e desastrada das investigações deste caso – que, a bem da verdade, jamais foi corretamente investigado.

Embora tenha sido informada sobre o aparecimento do veleiro na noite de domingo, a Marinha só enviou uma patrulha ao local na manhã seguinte – tempo mais que suficiente para outras pessoas, eventualmente, terem abordado o barco à deriva, alterando o cenário ou retirando coisas de dentro dele, comprometendo as investigações.

Além disso, após ser rebocado pela Marinha, diversas pessoas tiveram acesso ao interior do veleiro antes que peritos fossem chamados, o que inviabilizou, por exemplo, a coleta de impressões digitais na cabine, sobretudo no botijão de gás e nos explosivos, que, possivelmente, as tinham.

Quando os peritos (da polícia e da própria Marinha) chegaram, até o convés do veleiro já não estava com tantos restos de mato seco quanto antes.

E quando a família do comandante teve acesso ao barco, ele já estava limpo, arrumado e até liberado pelas autoridades para devolução ao seu proprietário, o que, para a esposa de Erwin, soou como negligência na apuração dos fatos.

Para completar o cenário desanimador, semanas depois, a Polícia Federal, que também vistoriara o barco, informou ao Consulado Argentino que, apesar de o caso envolver o desaparecimento de um estrangeiro em território brasileiro, “não ficara comprovado nenhum indício de prática de delito que justificasse a investigação por aquela instituição”.

E este quadro não mudou nem quando foi comprovada a morte do velho capitão, nem o envolvimento anterior do austríaco Johann com a própria Polícia Federal.

Em 31 de agosto de 2017, oito meses antes do início do caso Erwin, o barco de Johann Dorfbauer fora vistoriado pela Polícia Federal em uma marina de Paraty, a partir de suspeitas de que poderia conter algo ilícito – sobretudo drogas, já que a polícia desconfiava do eventual envolvimento do austríaco com o tráfico internacional.

Em vez de entorpecentes, no entanto, os agentes encontraram um pequeno arsenal bélico, com 2 600 cartuchos de munição e três armas, para as quais Johann não tinha registros, sendo uma delas de uso restrito.

O fato gerou um inquérito e a proibição de Johann se afastar da região, enquanto ele não fosse concluído – o que austríaco cumpriu por mais de um ano.

Até que, cinco meses após o desaparecimento do argentino, e quatro da confirmação da sua morte, a polícia de Angra dos Reis, resolveu, finalmente, ouvir o testemunho de Johann, o que deveria ter feito desde o princípio.

Uma intimação neste sentido foi emitida, mas nem chegou a ser entregue – porque, coincidência ou não, na mesma época, o austríaco desapareceu da região.

A despeito da obrigatoriedade de permanecer na área por conta do inquérito sobre as armas, Johann desativou os dois celulares que possuía, levantou âncora e partiu, com rumo ignorado.

Não comunicou sua partida à Capitania dos Portos, como determina a lei no caso de barcos com bandeira estrangeira, e nunca mais o seu trimarã foi visto nas águas da baía de Ilha Grande, que ele, até então, tinha como “endereço”.

Durante semanas, o paradeiro de Johann se tornou desconhecido.

Nem sua advogada sabia dizer onde ele estava.

Até que um curioso veleiro com três cascos e um exótico mastro giratório, sistema conhecido como Aerorig, também utilizado por Amyr Klink em um dos seus barcos, chegou à distante vila de Jericoacoara, no litoral do Ceará, a quase 4 000 quilômetros de Angra dos Reis.

Era o trimarã Pollen, com Johann a bordo, a caminho do Caribe, como ele contou, despreocupadamente, a uma das moradoras da vila.

Ali, Johann ficou três dias, descansando da longa travessia e se preparando para o trecho seguinte, que o levaria para fora do país.

Alertada, a polícia do Ceará nada fez de imediato para deter o austríaco enquanto ele estava ancorado em Jericoacoara e, quando resolveu agir, o barco já havia partido.

Foi a última vez que Johann foi visto no litoral brasileiro.

Se fugia ou apenas navegava, indiferente ao fato de estar sendo procurado pela polícia, só mesmo ele poderia dizer.

E como não disse, a morte do velho capitão argentino acabou se transformando em apenas mais um caso inexplicado de homicídio em território brasileiro.

Gostou desta história?

Ela faz parte do livro HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, que por ser comprado clicando aqui, com ENVIO GRÁTIS

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE ESTE LIVRO


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor


“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor

 

Os pescadores brasileiros que viraram vítimas de um submarino alemão na Segunda Guerra Mundial

Os pescadores brasileiros que viraram vítimas de um submarino alemão na Segunda Guerra Mundial

Quando o barco pesqueiro brasileiro Changri-Lá partiu do porto do Rio de Janeiro para mais uma habitual temporada de pesca na região de Cabo Frio, em 28 junho de 1943, o Brasil já estava em guerra contra a Alemanha nazista havia quase um ano.

Mas, exceto pelos costumeiros pedidos da Marinha para que os pescadores ficassem atentos a eventuais aparições de submarinos nazista na costa brasileira – e comunicassem o fato às capitanias -, não havia motivos para preocupações.

Afinal, o Changri-Lá era um simples barco de pesca, com casco de madeira de menos de 10 metros de comprimento, que não oferecia o menor risco – ou interesse – aos inimigos.

Pelo menos era o que todo mundo pensava.

A começar, pela própria tripulação do barco, todos humildes pescadores.

Por conta do mar agitado, a travessia até a Região dos Lagos, no litoral norte do Rio de Janeiro, foi lenta e cansativa, o que levou o mestre do pesqueiro, José da Costa Marques, a fazer uma parada não prevista em Arraial do Cabo, a fim de esperar que o tempo melhorasse.

Uma semana depois, em 4 de julho, o Changri-Lá partiu novamente, acrescido de mais quatro pescadores locais, que substituíram um dos tripulantes, Gabriel Soares Cardoso, que desembarcou por ter torcido o tornozelo – e, mais tarde, ele daria graças a Deus por isso.

Com nove homens a bordo, mais o filho do mestre, de 17 anos de idade, o Changri-Lá foi para o mar, tomou o rumo de um famoso pesqueiro da região, a algumas milhas da costa, e por lá ficou, até o dia 22, quando tudo aconteceu.

Naquele dia, os infelizes pescadores viram um grande submarino emergir bem ao lado deles e, sem nenhum aviso, abrir fogo.

Primeiro, com uma metralhadora.

Depois, com um canhão de 105 milímetros, que foi disparado sete vezes contra o indefeso pesqueiro.

Era o U-199, um submarino alemão comandado pelo tenente Hans Werner Kraus, à época com apenas 28 anos de idade.

Os dez pescadores foram sumariamente fuzilados e afundaram junto com o barco.

Seus corpos jamais foram encontrados.

Como, naquela época, as comunicações no mar eram bem precárias, especialmente em um simples barco de pesca, ninguém em terra firme ficou sabendo do ocorrido.

Só quando pedaços do barco começaram a chegar às praias da região (entre eles, restos de madeira estranhamento chamuscados) é que ficou claro que o Changri-Lá havia afundado.

Mas isso foi creditado a alguma tempestade, ou ao mar revolto, como registrado pela própria Capitania dos Portos da região no precário inquérito aberto, que sequer se atentou aos detalhes dos escombros, que continuaram chegando às praias da região.

Como aquele pedaço de madeira chamuscada, sinal claro de que não havia sido um simples naufrágio.

O inquérito, que também ignorou que um submarino alemão fora visto na entrada da Baía de Guanabara dias antes do desaparecimento do pesqueiro, concluiu que o sumiço do Changri-Lá e seus dez ocupantes fora uma tragédia natural gerada pelo mar, e a decisão foi aceita, com resignação, pelos familiares das vítimas – entre elas, a esposa do mestre do barco, que perdeu marido e filho.

Um ano depois, o processo foi arquivado pelo Tribunal Marítimo do Rio de Janeiro e esquecido.

Quando isso aconteceu, o próprio submarino que causara o desaparecimento do Changri-Lá também já havia deixado de existir, bem como a maior parte dos seus tripulantes.

Em 31 de julho de 1943, menos de dez dias após mandar pelos ares o barco de pesca brasileiro e todos os seus ocupantes, o U-199 foi detectado, bombardeado e afundado por um avião da Força Aérea Brasileira, logo após ter feito outra vítima em águas brasileiras, o cargueiro inglês Henzada.

O submarino afundou em menos de três minutos, mas 12 dos seus 61 tripulantes sobreviveram, entre eles o próprio comandante Kraus, graças aos botes infláveis que o próprio avião que os atacou lançou ao mar – um gesto humanitário que os pobres pescadores brasileiros do Changri-Lá não tiveram direito.

Em seguida, os tripulantes sobreviventes do U-199 foram resgatados e enviados aos Estados Unidos, como presos de guerra.

E foi lá que o capitão Hans Werner Kraus confessou o ataque ao pesqueiro brasileiro, durante um interrogatório, justificando o ato com dois argumentos: o de que precisava aferir e calibrar os armamentos do submarino (que, recém-lançado ao mar, ainda não havia feito nenhuma vítima), e, ao mesmo tempo, impedir que os pescadores comunicassem a presença do submarino alemão em águas cariocas, como sabiam que as autoridades brasileiras haviam pedido que todos os navegantes da região fizessem.

Mas a confissão dos alemães ficou confinada nos arquivos dos Estados Unidos e jamais foi comunicada oficialmente ao governo brasileiro, que continuou aceitando a tese de que o Changri-Lá afundara por obra da natureza.

Contribuiu para a confusão o fato de o comandante do submarino ter classificado o barco brasileiro como um “veleiro”, e não um barco de pesca, já que vira uma vela pelo periscópio, antes de atacá-lo.

Mas o que nem ele nem os americanos sabiam é que, para ganhar desempenho no mar, os pescadores do litoral norte do Rio de Janeiro tinham o hábito de adaptar uma vela na proa dos seus barcos, o que causou o mal-entendido.

Este fato e todos os desdobramentos dele só vieram à tona mais de 50 anos depois, quando, no final da década de 1990, o governo americano liberou a consulta aos arquivos militares da Segunda Guerra Mundial, e um historiador particular, o carioca Elísio Gomes Filho, que já suspeitava que o naufrágio do Changri-Lá poderia ter relação com o submarino alemão afundado dias depois, resolveu investigar os documentos da época.

Após ler o depoimento/confissão do comandante alemão, Elísio pressionou – e conseguiu – que o Tribunal Marítimo Brasileiro reabrisse o caso.

Em 2001, veio a correção e o veredito sobre o desaparecimento do pesqueiro foi alterado, para “ato de guerra”.

Suas dez vítimas ganharam também o direito de fazer parte do Panteão dos Heróis, no monumento aos Mortos da Segunda Guerra, no Rio de Janeiro.

Com base na confissão do comandante alemão e na revisão do veredito do Tribunal Marítimo, parentes de algumas das vítimas decidiram processar o governo da Alemanha por crime de guerra, uma ação inédita, que se arrasta até hoje nos corredores da Justiça brasileira.

Porque, para eles, de injustiça, bastaram os mais de 50 anos que o afundamento do Changri-Lá por um submarino alemão passaram esquecidos.

Gosta desse tipo de história?

Leia 200 delas no livro HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, que por ser comprado clicando aqui, pelo preço de R$ 49,00, com ENVIO GRÁTIS.

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE ESTE LIVRO


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor


“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor