Começou a travessia com um veleiro e terminou em um navio

Começou a travessia com um veleiro e terminou em um navio

Nas primeiras horas da manhã de 5 de outubro de 2023, quando navegava em solitário com seu veleiro Jambo, a cerca de 1 000 milhas da costa brasileira, após ter partido da ilha de Fernando de Noronha com destino à África do Sul, o velejador alemão Martin Daldrup, de 59 anos, sentiu um estrondo no casco do seu barco.

Navegador experiente, ele rapidamente saiu da cabine e olhou ao redor, para tentar descobrir no que havia batido, mas nada viu na superfície do mar que pudesse explicar aquele impacto.

Mas logo percebeu que o leme do veleiro não estava mais respondendo aos comandos do piloto automático.

Martin, então, voltou correndo para a cabine, a fim de checar o mecanismo interno do leme do seu Bavaria 34, cujo acesso era feito por baixo do assoalho do camarote de popa.

Mas para isso foi preciso, primeiro, esvaziá-lo, já que ele vinha sendo usado como depósito de comidas e equipamentos para aquela longa travessia.

O alemão passou a arremessar para fora da cabine tudo o que obstruía o acesso ao mecanismo, mas logo interrompeu a operação: já havia água sob os seus pés – sinal de que o barco estava sendo inundado pelo mar.

Ele ainda tentou conter a inundação, acionando todas as bombas de sucção que tinha.

Mas não adiantou: em questão de segundos, a água já estava na altura das suas canelas.

Não havia mais o que fazer.

Em vez de gastar tempo tentando evitar que o barco afundasse, era preciso se apressar para salvar a própria vida.

Com certa serenidade, embora o momento fosse propício para o puro pânico, Martin pôs em prática o que sempre exercitara mentalmente: o abandono do barco.

Pegou o passaporte, o telefone via satélite, um localizador pessoal portátil, uma bolsa de emergência – que mantinha sempre pronta, com água e alimentos, para situações como aquela -, e voltou ao convés.

Ali, lançou ao mar e disparou a injeção de ar em uma balsa salva-vidas inflável, pulando para dentro dela em seguida.

Depois, já na balsa – por força do hábito de quem passara os últimos anos registrando as travessias que fazia com seu veleiro para o bem-sucedido canal de vídeos que mantinha na internet -, Martin, mais conhecido como “Martin Jambo” nas redes sociais, fez aquele que seria o último registro fotográfico do seu veleiro, já bastante adernado pelo peso da água que entrava furiosamente por baixo do casco.

E ficou olhando o seu barco ser gradativamente engolido pelo oceano, até que desapareceu por completo.

Entre o instante do impacto e completo naufrágio do barco, pouco mais de cinco minutos havia se passado.

A bordo da pequena balsa salva vidas, Martin respirou fundo e ficou conjecturando sobre o que poderia ter causado o seu acidente.

Colisão com uma baleia que estivesse dormindo rente à superfície?

Sim, era possível: baleias em repouso nem sempre detectam a aproximação silenciosa de um veleiro.

E a época do ano, início da primavera, era favorável a presença maciça delas na costa brasileira.

Mas o fato de não ter avistado nenhuma movimentação na superfície, ao sair da cabine para tentar descobrir no que havia batido, fez o alemão concluir que aquele não havia sido o motivo do naufrágio do seu barco.

Restou, então, apenas a segunda hipótese: colisão com um contêiner caído ao mar, mas não totalmente afundado – esta, sim, uma hipótese bem mais provável.

Apesar da impossibilidade eterna de comprovar a veracidade deste fato, Martin adotou a colisão com um contêiner como sendo a única explicação possível para o seu infortúnio.

E aceitou, resignado, a perda do barco.

Martin, no entanto, comemorou muito – como, aliás, já havia feito com a esposa, ao telefone – o fato de ter sobrevivido ao naufrágio, embora agora estivesse praticamente no meio do Atlântico, muito longe de qualquer naco de terra firme.

E dentro de uma frágil balsa inflável.

Mas – de novo – ele não se desesperou.

Ativou o seu localizador pessoal, pegou o telefone via satélite e ligou para a esposa, na Alemanha, pedindo que ela acionasse o serviço de resgaste do seu país – que, por sua vez, contatou a Marinha do Brasil.

Como o alemão estava muito distante da costa brasileira, a solução foi acionar os navios que porventura estivessem na região, a fim de efetuar o resgate do velejador.

Mas não havia nenhum navio por perto.

Só no dia seguinte, o cargueiro com bandeira das ilhas Antígua e Barbuda Alanis, que estava a mais de 500 milhas de distância do náufrago quando recebeu o pedido de ajuda da Marinha Brasileira, chegou ao local e resgatou o velejador – que, apesar de bem preparado para aquela situação, subiu a bordo dando graças a Deus pela sua salvação, e garantindo que, mesmo sabendo que seria resgatado, passara a pior noite de sua vida, sacudindo o tempo todo na balsa, molhado e com muito frio.

No navio, Martin foi recebido com uma calorosa recepção, mas informado de que, de acordo com os protocolos marítimos, teria que seguir viagem com o cargueiro, até o seu porto final, na África do Sul – coincidentemente, o mesmo destino para o qual ele seguia com seu veleiro, quando bateu no quer que tenha sido, no meio do oceano.

Três semanas depois, o velejador alemão desembarcou – são e salvo, mas um tanto amargurado -, no porto sul-africano de Saldanha, onde sua aliviada esposa já o aguardava.

Ele, afinal, chegara à África do Sul pelo mar.

Mas não com a embarcação que desejava ter completado aquela longa travessia.

Gostou desta história?

Ela faz parte dos livros HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, cujos VOLUMES 1 e 2 podem ser comprados com desconto de 25% para os dois volumes e ENVIO GRÁTIS, CLICANDO AQUI.

Clique aqui para ler outras histórias

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE OS LIVROS HISTÓRIAS DO MAR


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor


“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor

O sortudo gato dos três naufrágios

O sortudo gato dos três naufrágios

Na Segunda Guerra Mundial, um certo gato preto e branco, que vivia a bordo de navios de combate, fez história – tanto pela sorte que teve, quanto por ter atuado nos dois lados do conflito: o alemão e dos Aliados

A saga do bichano começou em maio de 1941, quando foi levado, por um marinheiro alemão, para o encouraçado alemão Bismarck, que, no entanto, afundaria em seguida.

Dos 2 221 homens que havia bordo, só 115 sobreviveram – além do gato, que, mais tarde, foi encontrado aboletado sobre destroços do navio, por outro marinheiro.

Só que este, inglês.

Batizado de Oskar, o gato, então, foi levado pelo marinheiro que o resgatara para o destroier inglês HMS Cossack, onde viveu por quatro meses.

Até que o seu novo lar foi torpedeado pelos alemães, na região de Gilbraltar, em outubro daquele ano.

E ele, novamente, sobreviveu ao naufrágio.

Resgatado uma vez mais no mar – e rebatizado Sam -, o animal passou um tempo vivendo em uma fortaleza inglesa da região, até que voltou a morar a bordo de outro navio: o porta-aviões inglês Ark Royal – ironicamente um dos que havia feito o Bismarck afundar.

E – adivinhe só – o Ark Royal também foi torpedeado, pelo alemães, um mês depois.

E o gato, uma vez mais, escapou com vida e voltou a ser resgatado.

Pela terceira vez.

E não parou por aí.

Ainda na guerra, ele viveu a bordo de dois outros navios ingleses, o Legion e o Lightning, ambos também afundados em combate.

Mas, quando isso aconteceu, Sam já havia sido despachado para a Inglaterra, por conta da fama que passou a ter entre os marinheiros mais supersticiosos, de trazer mau agouro aos navios.

Lá, foi adotado por um marinheiro irlandês, que o levou para casa, após a Guerra, onde aquele sortudo gato malhado viveu por mais incríveis 14 anos.

Oskar/Sam ganhou fama de trazer azar aos navios. Mas teve a sorte de sobreviver a todos eles.

Gostou desta história?

Ela faz parte dos livros HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, cujos VOLUMES 1 e 2 podem ser comprados com desconto de 25% para os dois volumes e ENVIO GRÁTIS, CLICANDO AQUI.

Clique aqui para ler outras histórias

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE OS LIVROS HISTÓRIAS DO MAR


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor


“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor

 

Caiu no mar e ninguém viu. Mas o azarado virou sortudo

Caiu no mar e ninguém viu. Mas o azarado virou sortudo

Aconteceu em abril de 2003, durante um desses cruzeiros pelo Caribe, repletos de bebidas e folias.

Tim Sears, um americano de 31 anos, embarcou com um amigo para uma semana de diversões, a caminho da Ilha de Cozumel, no México, quando, na noite do quinto dia de viagem, caiu no mar de uma maneira que, até hoje, nem ele sabe explicar.

Inexplicável também foi a sorte que ele teve de sobreviver a um tipo de acidente que costuma ser fatal em quase 100% dos casos, especialmente quando ninguém a bordo percebe a queda, como foi o caso.

Tudo o que Sears recorda é que ele havia passado o dia bebendo muito, e que, à noite, depois de dançar um pouco (e beber ainda mais), resolveu procurar o amigo, no cassino.

Daí para a frente, mais nada.

Quando deu por si, Sears já estava dentro d´água, só de cueca e camiseta, na escuridão do mar.

E sem o navio por perto.

O mais provável é que Sears tenha sido vítima de um apagão, causado pelo excesso de álcool, e caído da varanda de sua cabine, o que, por si só representava um quase milagre, porque o navio Celebration, no qual ele estava, tinha a altura equivalente a um prédio de dez andares.

Porém, mais incrível do que a queda sem sequelas foi Sears escapar com vida daquele infortúnio, porque ninguém no navio sentiu falta dele até o dia seguinte, quando o Celebration ancorou na ilha mexicana.

Quando recobrou os sentidos, após a queda, Sears percebeu que estava no meio do mar.

E bem distante da costa mais próxima.

Mesmo assim, ele saiu nadando, sem rumo, o que fez praticamente a noite inteira.

Quando o dia amanheceu, Sears continuou nadando.

Até que, por volta do meio-dia, viu um navio vindo, mais ou menos, na sua direção e juntou forças para nadar ainda mais rápido.

Minutos depois, ao se aproximar do navio em movimento, tentou o impossível: gritar para que alguém lá dentro o ouvisse.

E não é que alguém ouviu os seus gritos?

Um dos tripulantes do cargueiro Eny estava passando pelo convés justamente naquele instante, quando ouviu os berros e localizou o americano na água.

Sears foi resgatado, após passar 14 horas no mar.

E praticamente no mesmo instante em que, ao chegar ao porto mexicano, sua falta, finalmente, foi dada no navio do qual despencara.

Gostou desta história?

Ela faz parte dos livros HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, cujos VOLUMES 1 e 2 podem ser comprados com desconto de 25% para os dois volumes e ENVIO GRÁTIS, CLICANDO AQUI.

Clique aqui para ler outras histórias

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE OS LIVROS HISTÓRIAS DO MAR


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor


“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor

 

O navio que afundava e virava periscópio

O navio que afundava e virava periscópio

A cena sempre deixava os leigos apavorados. E os técnicos, eufóricos.

De repente, toda a parte da frente daquele estranho e fino navio, que mais parecia um charuto, começava a afundar, erguendo a popa, até ela ficar totalmente na vertical, só com a ponta do casco fora d´água, como uma recriação dos instantes finais do Titanic.

Mas, não. Não era um naufrágio – apenas a estranha rotina daquele estranho navio, a mais peculiar embarcação que já se viu no mar.

O Flip (iniciais de “Floating Instrument Platform”, embora “flip” – “virar” em inglês – também designasse a principal característica daquele esquisito navio) foi feito justamente para afundar quase que totalmente, e assim ajudar os oceanógrafos a estudar o mar.

Com um simples comando, o mar passava a invadir a parte frontal do casco (um grande cilindro oco, repleto de válvulas e compartimentos), e, com o peso da água entrando, o Flip começava a erguer a popa e mergulhar gradativamente no oceano, enquanto seus ocupantes tratavam de se locomover de um plano para outro, já que tudo dentro do navio ia ficando cada vez mais inclinando.

Até que, 20 minutos depois, quando a água já ocupava 80% dos seus 108 metros de comprimento do casco, a inundação estancava, e o navio passava a ficar espetado no mar, totalmente na vertical, só com a popa fora d´água, feito um periscópio, ou a ponta de um pilar submerso – e quase tão estável quanto um objeto fixo no fundo do mar.

O Flip, criado no final da década de 1950 por dois geniais engenheiros americanos, e inaugurado (com certa desconfiança) em 1962, a fim de atuar em pesquisas oceânicas, era um prodígio da engenharia naval.

Uma alternativa bem mais barata e viável do que os submarinos, para estudar as colunas de água oceânicas, abaixo da superfície. Era como um laboratório submerso. O mais original de todos, por sinal.

Contudo, mais interessante até do que a capacidade daquele navio de mudar da posição horizontal para a vertical no mar, era o que acontecia dentro dele, durante isso.

Com a transição, tudo o que estava assentado no piso do interior do navio (camas, mobiliário, instrumentos etc) passava a fazer parte das anteparas das cabines – e vice versa.

O chão virava parede, e o mastro, passarela. E os tripulantes tinham que migrar de um plano espacial para outro, durante a operação.

“A primeira vez que senti na pele o navio inclinando, até virar um poste no mar, pensei: isso não vai dar certo”, recorda Ed Childers, um dos primeiros tripulantes do Flip.

“Mas não é que o Flip operou por mais de 50 anos, sem nenhum acidente?”.

Por conta da sua incrível capacidade de rotacionar 90 graus, e de mergulhar no mar sem afundar, o Flip era equipado com uma série de recursos inimagináveis em um navio convencional.

Como escadas em forma de arco (que permitiam subir e descer qualquer que fosse o plano), duas portas por cômodo (uma delas, estranhamente, sempre fixada na parede), luminárias que migravam do teto para as laterais, dependendo da posição em que o navio se encontrava, e mobiliário instalados sobre roldanas, que giravam na medida que o casco inclinava.

Os banheiros tinham duas pias e dois vasos sanitários: um na horizontal, outro na vertical.

Um desavisado que entrasse no Flip, julgaria estar em um experimento sensorial, caminhando sobre paredes e pendurando suas roupas no chão.

Quando quase totalmente submerso, o Flip tanto podia ficar estático, atado à três pesadas âncoras, quanto flutuando e derivando junto com a correnteza, sem que isso afetasse a sua estabilidade, já que, pelo formato do seu casco, roliço feito um tubo, e mais largo na frente do que atrás, sua oscilação na superfície era mínima.

Mesmo sob a ação de ondas de cinco ou seis metros de altura, o Flip, quando na vertical, não variava mais do que meia polegada na superfície – como uma garrafa boiando no mar com líquido dentro.

E jamais tombava.

Para voltar à posição normal, bastava ao comandante fazer o processo inverso do mergulho, injetando ar comprimido no interior do casco – que, gradativamente, retornava à superfície.

O Flip foi um engenho surpreendente. Especialmente para algo projetado 70 anos atrás.

Durante 59 anos, o Flip, que fora construído para atender ao Instituto Americano de Pesquisas Navais, serviu a cientistas e oceanógrafos, atuando como laboratório avançado para pesquisas marítimas – e ponha avançado nisso…

A bordo dele, trabalhando em um navio quase de ponta-cabeça, pesquisadores desenvolveram inúmeros trabalhos e teorias sobre correntes marítimas, comportamento e canto das baleias, interações entre ar e mar, e especialmente avaliações acústicas oceânicas, já que, como não tinha motores (para movimentá-lo, era preciso rebocá-lo), o Flip não produzia nenhum ruído que pudesse atrapalhar as medições.

Uma vez fincando no oceano, como um gigantesco microfone flutuante (até pela forma inusitada que adquiria), o Flip era capaz de ficar praticamente parado na superfície, imune às oscilações, e oferecendo pouquíssima resistência aos ventos e ondulações – daí ter sido uma ferramenta tão valiosa para os pesquisadores.

“O Flip foi uma maravilha da engenharia e ajudou muito a humanidade na compreensão dos oceanos”, disse a diretora de um dos institutos para os quais ele atuou, o Scripps, da Universidade da Califórnia, Margaret Leinen, na comemoração dos 50 anos de atividade do navio, em 2012.

Quando isso aconteceu, o Flip, por sua capacidade de afundar sem que isso virasse uma tragédia (embora sempre arrancasse gritos horrorizados dos mal-informados), já havia virado atração na internet.

Por sua engenhosidade, durante décadas, o Flip participou de centenas de estudos científicos marinhos.

Alguns dos mais recorrentes, envolviam as ondulações oceânicas, especialmente as chamadas “ondas loucas”, ondas oceânicas de tamanho anormal, que surgem sem nenhum aviso e bem mais altas que as demais, na tentativa de descobrir um padrão que possibilitasse prevê-las.

E foi durante um desses estudos, que ocorreu o único incidente da história deste peculiar navio.

Em 1969, os ocupantes do Flip tiveram que ser resgatados no mar, após se jogarem na água, quando ondas com mais de 25 metros de altura (limite máximo para o qual ele fora projetado) passaram a bombardear a estrutura vertical do navio. Mas não houve vítimas.

O Flip seguiu sendo usado nas pesquisas sobre ondas, inclusive as “internas”, grandes massas de água que se movem abaixo da superfície, já ainda não inventaram nada melhor para isso do que um navio que afunda quase inteiro para “senti-las”.

Até então, medições desse tipo eram feitas por meio de barcos convencionais (o que, às vezes, resultava em desastres) ou através de plataformas de petróleo, fincadas no leito marinho – mas que, por isso mesmo, não ofereciam a mesma precisão nas avaliações.

Nenhum outro meio era capaz de estudar, de maneira inequívoca, o que de fato acontecia debaixo d´água.

Até que, nove anos depois, em 2021, já precário e necessitando de uma série de reparos, decidiu-se que o Flip seria aposentado.

E, mais tarde, ele foi vendido à uma empresa de desmanche de navios, que o transformou em pura sucata.

Nunca houve um navio tão original quanto o Flip.

Gostou desta história?

Ela faz parte dos livros HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, cujos VOLUMES 1 e 2 podem ser comprados com desconto de 25% para os dois volumes e ENVIO GRÁTIS, CLICANDO AQUI.

Clique aqui para ler outras histórias

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE OS LIVROS HISTÓRIAS DO MAR


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor


“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor

O melancólico fim do Monstro do Mar Cáspio

O melancólico fim do Monstro do Mar Cáspio

Na segunda metade da década de 1970, no auge da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, um satélite espião americano sobrevoou uma base aérea russa e fotografou o que parecia ser um enorme avião sendo construído.

Mas ele não tinha semelhanças com os demais aviões.

Era enorme, mas tinha asas bem curtas.

E seus motores – quatro de cada lado, mais dois na cauda – ficavam junto à cabine do piloto, colados uns aos outros, formando uma espécie de segunda asa, à frente da principal – que, por sua vez, ao contrário dos aviões convencionais, não tinha motor algum.

Além disso, a parte de baixo da sua fuselagem tinha o formato de um casco de barco, com o intuito óbvio de flutuar na água.

Um veículo, sem dúvida, esquisito.

Mas, o que seria?

Um novo avião anfíbio?

Um enorme barco alado?

Ou um misto destas duas máquinas?

A confusão aumentou ainda mais quando o tal “veículo” ficou pronto e ganhou o símbolo da marinha russa pintado na fuselagem, embora o seu comando tenha sido entregue a pilotos da Força Aérea, como apuraram os espiões americanos, cada vez mais intrigados com aquele gigantesco engenho, de quase 100 metros de comprimento, que fora construída secretamente e classificada pelos russos como “segredo de estado”.

Até que no dia 16 de outubro de 1966, após um sigiloso e camuflado transporte marítimo (que para evitar satélites bisbilhoteiros só era feito à noite), desde a base aérea onde foi construído até às margens do Mar Cáspio, onde seria testado pela primeira vez, os americanos, finalmente, desvendaram o que era aquela estranha máquina: tratava-se de um ecranoplano, um tipo de aeronave com características bem peculiares, que, de fato, se aproximavam das embarcações.

Mas não era um simples hidroavião ou aerobarco.

Era um híbrido entre as duas coisas – uma máquina que voava praticamente rente à água, mas sem tocá-la.

Inventados pelo engenheiro naval soviético Alexeev Evgenievich, nos anos de 1950, os ecranoplanos, eram aeronaves que voavam a baixíssima altitude, rentes a qualquer terreno que fosse suficientemente plano (como as águas do mar, por exemplo), sustentadas apenas pelo “colchão de ar” formado pela pressão criada entre suas asas e a superfície logo abaixo delas – uma espécie de fenômeno oposto ao do “efeito-solo”, mais tarde adotado nos carros da Fórmula 1, só que, no caso, para aumentar a aderência deles ao asfalto.

O principal benefício disso era que, por voarem rentes ao solo, os ecranoplanos não eram detectados pelos radares – e isso era uma vantagem e tanto para um país em conflito com outro.

Outros ecranoplanos experimentais já haviam sido construídos por Evgenievich, na União Soviética.

Mas nenhum com tamanho porte.

Com 92 metros de comprimento e quase 500 toneladas de peso, aquele fabuloso engenho – na época, a maior aeronave do mundo – era capaz de transportar meia dúzia de mísseis e tropas inteiras, o que fez com que o governo soviético apostasse cegamente no projeto do seu super-avião que voava rente à água.

De tão superlativo, aquela espécie híbrida entre barco e avião, que os soviéticos batizaram com as inicias KM (de “Korabl Maket”, ou “Navio Modelo”, em russo – o que reforçava a sua vocação muito mais para o mar do que para o ar) ganhou outro nome entre os americanos: “Monstro do Cáspio”, numa referência direta ao seu porte mais que avantajado e aparecia um tanto bizarra.

O primeiro voo da estranha aeronave que só voava a míseros palmos da água – porque, se passasse disso, perderia sustentação e cairia -, aconteceu em 16 de outubro de 1966, durou pouco mais de 50 minutos, mas mostrou que o engenho de Evgenievich (que, contrariando o protocolo, estava a bordo no dia do teste) era viável, embora os pilotos tivessem que ficar atentos o tempo todo quanto a presença de barcos ou ondas na superfície – embora o “Monstro do Cáspio” também tivesse a capacidade de furá-las, desde que não fossem muito altas.

Quando em movimento, o gigantesco “Monstro do Cáspio” mais parecia um navio planando na superfície. Ou um enorme avião cargueiro prestes a desabar na água – nos dois casos, uma visão impressionante.

Os testes de aperfeiçoamento do ecranoplano KM no Mar Cáspio se estenderam por mais de 15 anos, até que, durante um deles, em 15 de dezembro de 1980, os pilotos não aplicaram a potência necessária na decolagem, a aeronave tocou a superfície do mar de maneira descontrolada, rodopiou, danificou parte da fuselagem e começou a encher de água.

Os ocupantes nada sofreram e foram socorridos em seguida.

Mas o KM acabou sendo abandonado no mar, afundou uma semana depois, e, pelo seu tamanho, não teve como ser resgatado.

Era o fim do “Monstro do Cáspio”, mas não dos projetos de Evgenievich, de fazer algo bem mais pesado que o ar voar rente ao mar.

Do que ele aprendeu com o KM, surgiu outro imenso ecranoplano: o Lun, de 74 metros de comprimento, que, no entanto, teve vida ainda mais curta e praticamente não passou da fase de testes – e sequer chegou a ser usado para fins militares.

Em 1991, com o colapso da União Soviética, o projeto dos ecranoplanos foi abandonado e o Lun confinado em um imenso hangar, de onde só saiu quase 30 anos depois, para um final melancólico.

Em 31 de julho de 2020, quando era rebocado ao longo do Mar Cáspio, rumo à cidade russa de Derbent, no Daguestão, onde viraria atração em um futuro parque de equipamentos militares, o Lun se desprendeu do comboio que o puxava (composto por nada menos que três rebocadores e dois navios de apoio), e encalhou em uma das praias desertas da região.

Moradores e equipes de resgate tentaram, de todas as formas, devolver o pesado veículo ao mar – que a própria Organização Marítima Internacional reconheceu como sendo um navio, não um avião -, mas seu tamanho avantajado falou mais alto.

E por ali ele ficou. Para sempre.

A única solução foi puxar a segunda versão do Monstro do Mar Cáspio para a areia da praia, a salvo das ondas que ameaçavam destruí-lo, e mudar o museu de lugar, instalando-o no local onde o único ecranoplano militar superlativo que resistiu ao tempo – e apenas o segundo a ser construído – jamais sairá.

Porque aviões não encalham. Mas barcos, sim.

Gostou desta história?

Ela faz parte dos livros HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, cujos VOLUMES 1 e 2 podem ser comprados com desconto de 25% para os dois volumes e ENVIO GRÁTIS, CLICANDO AQUI.

Clique aqui para ler outras histórias

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE OS LIVROS HISTÓRIAS DO MAR


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor


“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor

Os impressionantes recordes do Senhor das Profundezas

Os impressionantes recordes do Senhor das Profundezas

Em abril de 2021, o milionário e aventureiro americano Victor Vescovo, então com 55 anos, acrescentou mais uma façanha ao seu currículo de grandes feitos.

A bordo de um mini-submarino que ele mesmo mandou construir, ao custo de quase 300 milhões de reais, desceu até o mais profundo naufrágio até hoje conhecido, o do destroier americano USS Johnston, afundado pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, que repousa no fundo do mar das Filipinas, a impressionantes 6 456 metros de profundidades.

Nunca ninguém havia feito isso.

Mas Vescovo fez, apenas pelo prazer que sente em visitar as profundezas dos oceanos, e assim, de alguma maneira, ajudar a ciência – além de torná-lo ainda mais famoso, é claro.

“Encontrei o navio com suas armas apontadas para a mesma direção, o que significa que ele afundou disparando contra os inimigos”, disse Vescovo, na ocasião.

Além de ser o naufrágio mais profundo do mundo – pelo menos entre os conhecidos -, o USS Johnston foi um navio emblemático, porque, na época em que foi afundado, era comandado por Ernest Evans, cujos pais foram índios cherokees, e que se tornou o primeiro nativo 100% americano a comandar um navio de guerra da Marinha dos Estados Unidos.

Ao receber a incumbência de comandar o USS Johnston, Evans, que também morreu no ataque, juntamente com outros 185 dos 327 tripulantes do navio, havia prometido lutar até a morte, o que de fato fez, aos 36 anos de idade.

Por isso, recebeu, postumamente, a Medalha de Honra, a mais alta honraria da Marinha Americana.

Para visitar o atual naufrágio mais profundo do mundo, Victor Vescovo usou o mini-submarino DSV Limiting Factor, que tem casco de titânio com nove centímetros de espessura, a fim de suportar a impressionante pressão das grandes profundezas.

Foi o mesmo submarino que ele usou para realizar aquela que, até hoje, foi sua maior façanha.

Entre o final de 2018 e meados de 2019, Vescovo mergulhou, sozinho, nos cinco pontos mais profundos dos cinco oceanos do mundo, incluindo o mais profundo ponto do planeta: a Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, quando chegou a impressionantes 10 924 metros de profundidade.

O feito lhe valeu o apelido de “Senhor das Profundezas” e a entrada no Livro do Recordes, como autor do mergulho mais profundo do mundo, embora sua marca tenha sido contestada pelo diretor de cinema James Cameron, também um apaixonado pelas grandes profundezas e o primeiro homem a visitar o Titanic no fundo do mar, navio que ele ajudou a eternizar no cinema.

Cameron havia mergulhado na mesma Fossa das Marianas um pouco antes de Vescovo, e tocou o fundo do mar a 10 908 metros de profundidade – 16 metros a menos que a marca que Vescovo disse ter atingido.

Na ocasião, chamuscado pela fogueira das vaidades que passou a arder entre os dois exploradores submarinos, Cameron alfinetou o milionário americano.

“Ele não pode ter atingido um ponto que não existe”.

Mas a polêmica só fez aumentar a popularidade de Vescovo entre os exploradores modernos.

Trata-se de um aventureiro nato.

Vescovo já caminhou até os dois polos magnéticos do planeta, o Polo Sul e o Polo Norte, e escalou as sete maiores montanhas do mundo, incluindo a mais alta de todas, o Monte Everest.

Com isso, após descer ao ponto mais profundo dos oceanos, tornou-se a única pessoa do mundo que já esteve nos dois pontos mais opostos do planeta: o mais alto e o mais baixo.

“Sempre gostei de desafios”, resume o americano, que já planeja outras incursões mar  adentro.

Mas, o que há nas profundezas dos oceanos?

“Silêncio. Um relaxante silêncio”, contou Vescovo, ao concluir a descida nas Fossas Marianas, em 2019.

“Lá embaixo, a escuridão é total e o silêncio, absoluto. É um ambiente que traz muita paz”, disse o explorador, que, na ocasião, se tornou a quarta pessoa a descer até o ponto mais profundo do planeta.

Os dois primeiros foram o americano Don Walsh e o francês Jacques Picard, que, em 1960, durante uma expedição promovida pela Marinha Americana, chegaram ao fundo da Fossa das Marianas a bordo de um batiscafo, uma espécie de avô dos atuais mini-submarinos, e que funcionava feito uma espécie de balão ao contrário.

Mas os dois pouco viram, porque, sem câmeras e com uma única janelinha do tamanho de uma moeda, praticamente não enxergaram nada.

Mesmo assim, visualizaram uma nova espécie de peixe, quase transparente, e comprovaram que mesmo no ponto mais inóspito e profundo do planeta há vida.

Foi a maior herança deixada por aquele histórico mergulho, 63 anos atrás.

Já Vescovo conta com a ajuda da alta tecnologia e nenhum problema financeiro para seguir adiante com o projeto continuar mergulhando em pontos dos oceanos onde ninguém jamais esteve, aumentando assim ainda mais a coleção de feitos do cada vez mais famoso Senhor das Profundezas.

Gostou desta história?

Ela faz parte dos livros HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, cujos VOLUMES 1 e 2 podem ser comprados com desconto de 25% para os dois volumes e ENVIO GRÁTIS, CLICANDO AQUI.

Clique aqui para ler outras histórias

VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE OS LIVROS HISTÓRIAS DO MAR


Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador

“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor


“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor

“Leiam. É muito bom!” 
André Cavallari, leitor