O náufrago que virou presidente dos EUA

O náufrago que virou presidente dos EUA

Nos duros tempos da Segunda Guerra Mundial, o atropelamento de uma pequena lancha americana de patrulha, a PT-109, por um destroyer japonês, nas águas do Pacífico, em agosto de 1943, nem chegou a ser notícia, apesar da morte imediata de dois dos 12 ocupantes do pequeno barco.

Mas, quase duas décadas depois, com a posse daquele que se tornaria o mais carismático presidente da História dos Estados Unidos, o ex-marujo John Fitzgerald Kennedy, o episódio veio à tona.

Por um bom motivo: um dos sobreviventes daquele trágico acidente havia sido o próprio Kennedy, então um tenente da Marinha Americana e responsável por aquela patrulha, naquele dia.

Kennedy não só escapou com vida do atropelamento do barco que comandava, como, depois, liderou com firmeza os seus subordinados na luta pela sobrevivência.

O grupo ficou unido, boiando no mar, até o amanhecer do dia seguinte, quando uma pequena ilha surgiu no horizonte.

Kennedy, então, estimulou seus comandados a nadarem até a ilha, o que exigiu mais de cinco horas de braçadas no mar aberto.

Ele próprio rebocou um dos feridos no acidente, arrastando-o pelo cinto, que levava preso entre os dentes.

Ao chegar à ilha, o grupo descobriu que ela era deserta e não tinha nada além de cocos.

Após dois dias naquele ermo naco de terra, Kennedy conclui que, para não morrerem de fome e sede, era preciso voltar ao mar e nadar até outras ilhas próximas, em busca de ajuda.

E decidiu que ele mesmo faria isso, tendo como companheiro apenas um dos seus subordinados.

Depois de muito nadar, os dois chegaram a uma ilhota, onde havia dois nativos com uma canoa – que não entendiam o que Kennedy dizia.

O jovem tenente, então com 26 anos, pegou um coco, esculpiu na casca um pedido de socorro e persuadiu um dos nativos a navegar até a maior ilha da região, a fim de entregar aquela mensagem a alguma autoridade.

Depois de muitas tentativas, o nativo, finalmente, compreendeu o pedido.

E só assim Kennedy e seus homens foram salvos, seis dias depois do naufrágio.

Graças ao seu esforço e gesto heroico, Kennedy foi agraciado com a medalha do mérito da Marinha Americana, e isso, mais tarde, seria decisivo na sua campanha à presidência dos Estados Unidos.

Também por isso, a ilha deserta na qual ele e seus homens passaram dias como náufragos, hoje pertencente às ilhas Salomão, foi batizada como Ilha Kennedy.

E, desde então, virou atração turística na região.

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Resgate do rádio do Titanic pode ser a segunda tragédia do navio, dizem os arqueólogos

Resgate do rádio do Titanic pode ser a segunda tragédia do navio, dizem os arqueólogos

A recente decisão de uma juíza americana de permitir que a empresa dona dos direitos de resgate de objetos do naufrágio mais famoso da História, a RMS Titanic Inc,, remova o aparelho de rádio do lendário transatlântico que afundou 108 anos atrás acaba de desencadear uma nova e intensa polêmica.

Inconformados com a sentença da juíza federal Rebecca Smith, que, pela primeira vez, autorizou a penetração nos restos do navio e a remoção de um objeto de dentro dele, arqueólogos, parentes das vítimas, entidades preservacionistas e o próprio governo dos Estados Unidos se uniram contra a medida.

“Os escombros do Titanic são protegidos como bens culturais por convenções internacionais e não podem ser violados”, diz o advogado Kent Porter, que defende o governo americano e autor de um recurso que acaba de ser feito contra a decisão da juíza. “Isso só poderia ser feito com a aprovação do Secretário de Comércio dos Estados Unidos”, alega o advogado.

Já os arqueólogos defendem outros pontos bem mais relevantes do que meros procedimentos jurídicos para condenar a operação de retirada do aparelho de rádio do navio, afundado na madrugada de 15 de abril de 1912, depois de colidir com um iceberg, no Atlântico Norte.

“O mundo já sabe tudo o que precisa saber sobre aquele tipo de rádio, bem como o conteúdo das mensagens com os pedidos de socorro que foram enviados durante o naufrágio. Então, a única motivação para o resgate do aparelho seria o interesse comercial, para exibir o rádio como atração turística, e, mais tarde, vendê-lo para algum colecionador de raridades”, diz um especialista em arqueologia submarina. “E isso pode encorajar outras pessoas a extrair ainda mais coisas do interior do Titanic”.

Os descendentes das vítimas do naufrágio, por sua vez, são contra a remoção do aparelho porque veem nisso a violação de algo que deve ser encarado como sagrado.

Para eles, os restos do Titanic são como um cemitério – algo que não pode ser violado.

“É preciso tratar com respeito o local onde mais de 1 500 almas descansam”, diz um parente de uma das vítimas do naufrágio. “Não é certo abrir uma sepultura para remover algo de dentro dela”.

O que torna o rádio do Titanic tão icônico – e valioso, sobre todos os aspectos – é que foi a graças a ele que o mundo ficou sabendo do naufrágio do navio e as circunstâncias que levaram para o fundo do mar, causando a morte de 1 517 pessoas.

Foi daquele aparelho que partiram os desesperados pedidos de socorro do transatlântico naquela trágica noite, cuja última mensagem foi um dramático pedido feito aos outros navios pelo operador do rádio, que, agora, está no centro de intensa polêmica: “Venham rápido!”, dizia apenas a última mensagem.

Em seguida, a casa de máquinas do Titanic inundou, o navio ficou sem energia, o rádio emudeceu e os infelizes ocupantes do luxuoso transatlântico condenado perderam o único contato que tinham com o restante do mundo.

Esta é a razão da relevância daquele rádio (hoje batizado de “A última voz do Titanic”), que, agora, uma empresa particular garante que irá resgatar do fundo do mar, embora até o governo dos Estados Unidos seja contra isso.

“Estamos dependendo da questão da pandemia, mas é bem provável que o resgate do rádio aconteça já no final de agosto ou início de setembro”, diz Bretton Hunchak, diretor da empresa que detém os direitos sobre itens do naufrágio, mas que, até hoje, só tinha tido autorização para coletar o que estava espalhado ao redor do navio afundado – mesmo assim, mais de 5 000 objetos, que passaram a fazer parte de exposições itinerantes promovidas mundo afora.

“Vamos usar alguns buracos que já existem no casco deteriorado pelo tempo para penetrar no navio, com um mini-robô equipado com ferramentas especiais, e chegar à sala de rádio, onde extrairemos o aparelho numa operação cirúrgica, sem danos as demais partes do Titanic. Já temos tudo simulado em imagens de 3D” explica o empresário, que recorreu à Justiça americana alegando que o estado de deterioração do navio já estava colocando em risco o famoso aparelho.

O resgate do rádio do Titanic só se tornou tecnicamente possível depois que uma parte da estrutura do navio, que ficava imediatamente acima da sala de rádio, desabou, de maneira natural, 15 anos atrás.

Com isso, abriram-se buracos que permitiriam a entrada de um mini-submarino na sala de rádio, a fim de recolher o equipamento, que, segundo Hunchak, corre sério risco de ser destruído pelo desmantelamento do próprio navio.

“Se ele não for removido rapidamente, talvez não haja uma segunda chance de fazer isso, porque a sala de rádio é a que corre maior risco de desabamento”, explicou o empresário à juíza, que pareceu convencida do argumento ao decretar que “o rádio do Titanic possui valor histórico, científico e cultural suficiente para justificar o seu resgate”, e que “leis internacionais permitem a recuperação de artefatos históricos que estejam em risco de desaparecimento”.

Mas até a questão do real estado de conservação dos restos dos Titanic agora está sendo questionada.

Alguns especialistas dizem que, a despeito de estar mais de um século debaixo d´água, a deterioração do navio é mais ou menos estável, porque ele se encontra a grande profundidade, onde não há muitas alterações no ambiente marinho.

Mas alertam que a interferência humana pode acelerar barbaramente esse processo, numa referência direta aos planos da RMS Titanic Inc. de resgatar o rádio do navio.

“O rádio do Titanic é uma peça histórica e merece ser preservada”, defende-se Hunchak. “Se não fosse por ele, bem mais pessoas teriam morrido naquele naufrágio, porque nenhum navio receberia o pedido de socorro nem viria resgatar os sobreviventes. Nem mesmo a localização dos restos do Titanic seriam conhecidos até hoje, porque ninguém saberia exatamente onde ele afundou”.

“Queremos resgatar o aparelho para exibi-lo às pessoas, porque, do contrário, só os afortunados que podem pagar milhões para visitar os restos do navio com um submarino no fundo do mar poderão fazer isso”, argumenta o empresário.

E completa: “Muitos historiadores também sempre sonharam em ver este rádio de perto”.

Mas não é o que pensam as outras partes.

“Um aparelho desse tamanho não é o tipo de coisa que se possa remover de um naufrágio, a 3 800 metros de profundidade, sem causar estragos nos destroços, ainda mais um século depois”, argumenta a entidade governamental americana NOAA, sigla, em inglês, do departamento de Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, que, com base em um acordo firmado meses atrás entre Estados Unidos, Inglaterra, França e Canadá, de restringir as visitações ao naufrágio e não permitir que nenhum país o explore, é radicalmente contra qualquer interferência nos escombros do famoso navio.

“Se permitirmos isso, imagine o que pode acontecer com outros sítios arqueológicos submersos bem menos famosos que o Titanic?”, questionam também os arqueólogos, que consideram os bens culturais submersos bem mais vulneráveis que os terrestres, “porque, como ele não estão visíveis, podem ser saqueados sem a fiscalização das pessoas e autoridades”.

“O resgate do rádio do Titanic pode ser a segunda tragédia do navio”, dizem os arqueólogos envolvidos no caso.

“A operação de retirada do rádio do Titanic pode até ser legal, mas jamais será ética”, defendem os arqueólogos, que são totalmente contra o resgate do aparelho.

Mesmo após 108 anos no fundo do mar, o Titanic ainda dá o que falar.

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Náufraga de quatro patas: a cadela que viveu meses numa ilha deserta

Náufraga de quatro patas: a cadela que viveu meses numa ilha deserta

Era apenas mais um passeio de barco do casal Jan e Dave Griffith, pelo litoral de Queensland, na Austrália, quando o inesperado aconteceu: uma onda mais forte da tempestade que se aproximava estourou sobre a lancha e arrastou para o mar o terceiro ocupante do barco: a cadelinha Sophie, que sempre ia com seus donos para o mar.

Apesar da tormenta chegando, o casal vasculhou a área durante um bom tempo, em busca da cachorrinha perdida. Mas não encontraram nem sinal do animal no mar. Resignados, voltaram para casa e tentaram esquecer o triste episódio.

Cinco meses depois, os parcos habitantes das remotas Ilhas St. Bees, na região da Grande Barreira de Corais, começaram a estranhar o surgimento de várias carcaças de filhotes de cabras mortas e chamaram a polícia florestal, pensando se tratar de algum animal selvagem.

Sim, era um animal que vinha causando as mortes daquelas cabras, mas ele não nada tinha de selvagem – tinha, apenas, fome. Era a cadelinha Sophie, tentando sobreviver naquela ilha quase deserta, feito uma versão canina de Robinson Crusoé. Facilmente capturada, ela foi despachada para o continente.

Por uma dessas artimanhas do destino, a notícia de que um cachorro havia sido encontrado numa ilha onde não existiam cães chegou aos ouvidos do ainda triste casal Jan e Dave. Mesmo sabendo que não poderia ser Sophie, já que as Ilhas St. Bees ficam a mais de dez quilômetros do local onde a onda invadiu o barco naquele dia de mar violento, os Griffith foram até o local onde estava o animal, para conhecer “A Fera da Ilha”, como aquela cadelinha passou a ser jocosamente chamada. E deram de cara com a dócil Sophie, logo transformada em heroína náutica, assim que sua história foi contada.

O que mais impressionou o casal e os australianos em geral não foi nem o fato de Sophie ter conseguido nadar tanto no mar turbulento, nem de ter conseguido (sabe-se lá como?) avançar na direção de uma ilha que sequer era visível no local do acidente – mas sim ter sobrevivido aos tubarões, que infestam as águas da região.

Para um predador de olfato extraordinário, como é o tubarão, o cheiro forte de um cachorro molhado tem o mesmo atrativo de um churrasco. Mesmo assim, nada aconteceu com Sophie, que, além de sortuda, virou uma espécie de símbolo da sobrevivência no mar, mesmo sendo um animal com patas em vez de nadadeiras.

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A família que vive com um salário mínimo, uma criança e um bebê num barco

A família que vive com um salário mínimo, uma criança e um bebê num barco

No final de 2018, quando decidiram pegar o veleiro que haviam comprado com todas as economias que tinham e fazer uma viagem com o barco, de Buenos Aires até Florianópolis, o jovem casal argentino Juan Dorda e Constanza Coll, tinha em mente apenas passar uma temporada em Santa Catarina, com o filho pequeno, Ulisses, então com dois anos de idade.

Hoje, dois anos depois, eles continuam no Brasil (agora, na Ilha Grande, que adoram) e nunca mais voltaram à Argentina.

Nem pretendem.

Agora, menos ainda, porque a família acaba de crescer, com o nascimento, no Brasil, do segundo filho do casal: a menina Renata, que nasceu no primeiro dia de junho, em uma maternidade em Niterói – para onde a família seguiu navegando, com o único intuito de ter o bebê em terra firme.

“Queríamos que a Renata fosse brasileira e, agora, ela será a nova tripulante do nosso barco, que também é a nossa casa”, diz Constanza, de 34 anos, uma ex-jornalista de Buenos Aires, que, cansada da vida corrida e assalariada que levava na Argentina, decidiu, junto o marido, mudar radicalmente a vida da família.

“Eu tinha quatro empregos ao mesmo tempo, vivia correndo de um para o outro, e não tinha tempo para ver o meu filho crescendo”, diz o marido, Juan, um ex-psicólogo de 35 anos, que se desdobrava para poder pagar as contas e as prestações do apartamento onde viviam, na capital argentina.

“Até que, um dia, resolvemos vender tudo, comprar um barco, alugar o apartamento para ter alguma renda, e vir para o Brasil, pelo mar”, explica Juan, que agora vibra com o aumento da família.

Nem mesmo a catastrófica desvalorização que a moeda argentina vem sofrendo, o que diminui, em reais, o valor que eles recebem pelo aluguel do apartamento em Buenos Aires, único rendimento do casal, desanima ou preocupa Juan e Constanza, que todos chamam pelo apelido “Coni”.

“Atualmente, vivemos com o equivalente a um salário mínimo do Brasil, mas dá”, diz Juan. “A vida num barco é muito simples e barata, eu pesco para ajudar nas refeições e, aqui na Ilha Grande, nem tem onde gastar dinheiro”, analisa.

Os dois acreditam que nem a chegada do bebê mude este quadro.

“Sob o ponto de vista da natureza, tudo o que um bebê precisa é de atenção integral dos pais, e isso nós temos como dar de sobra”, diz Juan, que também considera um barco como sendo a casa ideal para qualquer criança, porque, como o espaço é limitado, “a família está sempre unida”.

“E se a família está bem, todo o resto está bem, também”, analisa o ex-psicólogo, que, tal qual a esposa, não sente nenhuma saudade da vida que levava na maior cidade da Argentina.

“Hoje, consigo acompanhar bem de perto cada passo do desenvolvimento do Ulisses, e o mesmo acontecerá com a Renata”, diz Juan, com total aprovação da esposa.

O veleiro-casa do casal, de apenas 28 pés, batizado Tangaroa 2 (mas muito mais conhecido como o “O Barco Amarelo”, nome que passaram a usar também nas redes sociais, onde se dedicam a mostrar o tranquilo e gostoso dia a dia da família), não tem nem geladeira, mas nem isso preocupa a família. “Bebê só precisa de leite materno”, diz Juan.

O bebê foi gerado quando eles estavam passando uma temporada com o barco na Bahia, mas, por conta da gravidez, resolveram retornar à Ilha Grande, lugar que eles adoram. “ A ilha é o nosso paraíso”, diz Coni. “Adoro tomar banho nas cachoeiras, até porque também não temos chuveiro no barco”.

Recentemente, além do bebê, a família também cresceu com a adoção da cadelinha Lula, uma vira-lata que eles acharam durante um passeio na própria Ilha Grande, e que, tal qual o pequeno Ulisses, se adaptou perfeitamente à vida no barco.

“Agora, temos até cachorro e somos uma família completa”, diz Juan, feliz da vida com a vida que ele, a mulher, o filho – e, agora, também o bebê – levam.

Mas, e o futuro?

“Não fazemos muitos planos”, diz Juan.

“No máximo, planejamos o que vamos fazer no próximo ano”.

“Mas sabemos que, em breve, teremos que colocar o Ulisses numa escola, e, mais tarde, também a Renata, porque queremos que eles tenham, assim como nós tivemos, a chance de decidir o que farão de suas vidas quando forem adultos. Eles decidirão se vão querer ter uma profissão que dependa de faculdade ou apenas aproveitarão a vida da maneira mais simples e natural possível, como estamos fazendo”, diz velejador, mais satisfeito do que nunca com o crescimento da família.

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O Iraniano quer tentar, de novo, atravessar o mar dentro de uma bolha

O Iraniano quer tentar, de novo, atravessar o mar dentro de uma bolha

Desde que botou na cabeça que iria “correr sobre o mar” dentro de uma espécie de bolha plástica, dessas usadas para divertir crianças em piscinas e laguinhos, o iraniano Reza Baluchi já tentou por três vezes atravessar da Florida para as ilhas Bermudas dessa forma.

E nas três vezes foi detido pela Guarda Costeira americana, por “colocar em risco a própria vida” – além de gerar despesas com operações montadas para resgatá-lo no mar.

Só que Reza não se deu por vencido e já planeja uma nova tentativa, tão logo consiga arrecadar dinheiro para construir uma nova bolha, já que a anterior foi afundada pela polícia, para que ele não tentasse de novo.

Mas nem isso o fez mudar de ideia.

“Penso que todo mundo deveria ir atrás do seu sonho e o meu é atravessar até as Bermudas correndo sobre a água”, diz Reza, que é um peculiar corredor de ultramaratonas, especializado em longas jornadas em solitário.

Ele garante já ter atravessado duas vezes os Estados Unidos correndo de costa a costa, e feito em mesmo em todo o perímetro do país, bordeando as fronteiras com o México e o Canadá, sempre para arrecadar fundos para missões filantrópicas e, ao mesmo tempo, angariar publicidade para si mesmo.

A obsessão em correr longas distâncias por dias a fio já rendeu ao iraniano, que começou a correr ainda pequeno, no Irã, porque não havia meio de transporte para ir à escola, o apelido de “Forrest Gump”, o icônico personagem vivido por Tom Hanks no cinema, que corria sem parar e, embora simplório, era adorado por todos.

Mas, de tempos para cá, Reza, hoje com 48 anos e dono de certa popularidade nos Estados Unidos por conta justamente de seus feitos folclóricos, passou a ser mais conhecido como o “Capitão Bolha”, por causa da ousadia de querer correr sobre o mar dentro de uma espécie de roda giratória, o que ele já tentou três vezes.

A primeira vez foi em 2014, quando Reza partiu de uma praia da Florida e, dias depois, foi resgatado pela Guarda Costeira com visíveis sinais de esgotamento físico, após ter pedido orientação a um barco, no meio do mar, sobre “qual direção seguir para chegar às Bermudas?”.

Alertada pelo tal barco, a Guarda Costeira enviou embarcações e até um helicóptero para resgatá-lo em alto-mar, o que, segundo a entidade, gerou um custo de 140 000 dólares na operação.

Na volta, frente a determinação do iraniano, que não queria ser resgatado, Reza foi alertado de que, caso tentasse novamente aquela insana travessia, seria multado em 40 000 dólares, “por navegar em embarcação considerada inadequada”.

Na ocasião, o chefe da Guarda Costeira da Florida resumiu a ousadia de Reza Baluchi da seguinte forma: “É mais fácil ganhar na loteria do que aquela maluquice dar certo”.

Mesmo assim, dois anos depois, Reza tentou de novo atravessar da Florida para as Bermudas com sua bolha de plástico.

E, mais uma vez, foi detido pela Guarda Costeira e trazido de volta para a terra firme.

Mas não por muito tempo.

Apenas quatro meses depois, Reza partiu novamente.

Mas, desta vez, tomou a precaução de não fazê-lo a partir da Florida, para não infligir as leis americanas.

Ele convenceu um amigo, dono de um barco, a levá-lo até além dos limites do mar territorial americano, e de lá tomou o rumo das Bermudas, com sua bolha navegadora.

Mas, de novo, não foi longe.

Alertada uma vez mais, a Guarda Costeira foi novamente em busca do iraniano e o abordou quando ele “navegava” a cerca de 150 quilômetros da costa americana, alternando extenuantes sessões de corridas dentro daquela engenhoca revestida de plástico, onde o calor interno beirava os 45 graus, com períodos de descanso, quando armava uma rede e dormia dentro da própria bolha.

Como de hábito, Reza, a princípio, não quis desistir da travessia.

Mas acabou sendo removido a força, algemado e levado para exames em um hospital psiquiátrico – de onde saiu dias depois, após convencer os médicos de que não era louco, mas apenas um sujeito com uma ideia maluca na cabeça.

Já a sua bolha, para que ficasse claro que não mais seria usada, foi furada e afundada pela Guarda Costeira, impedindo assim Reza de fazer uma nova tentativa.

Pelo menos até que ele consiga arrecadar dinheiro suficiente para construir outra bolha, um dos seus objetivos no momento.

“Talvez eu leve uns três ou quatro anos para conseguir o dinheiro, mas isso só aumenta a vontade de realizar o meu sonho. Não vou desistir dele”, avisa o destemido aventureiro.

Maluquices a parte, a bolha do iraniano, projetada por ele mesmo, era um primor de engenharia criativa.

Continha, entre outras coisas, painéis solares que alimentavam baterias que o permitiam assistir até filmes no computador portátil (seu filme preferido era O Náufrago, que assistia enquanto descansava), e um dessalinizador, que transformava água do mar em potável.

Para dormir, Reza montava uma rede dentro da bolha e passava as noites boiando à deriva no mar, sendo rolado pelas ondas, feito uma rolha.

E para comer, servia-se – apenas – de barrinhas de cereais, que ele mesmo produzia.

Por dia, nos melhores dias, conseguia avançar cerca de dez quilômetros, correndo sobre o mar feito um hamster dentro de sua bolha giratória.

Sua previsão é que levaria cerca de cinco meses para chegar às Bermudas, que ficam a mais de 1 600 quilômetros da costa da Florida.

De lá, ele ainda pretendia descer até Cuba, antes de retornar aos Estados Unidos, completando assim toda a região conhecida como Triangulo das Bermudas, famosa pelos desaparecimentos misteriosos de aviões e embarcações.

Por três vezes, ele não conseguiu. Mas nem assim desistiu.

“Assim que der, eu tento de novo”, avisa o desmiolado Capitão Bolha.