O que se sabe sobre o barco que surgiu soterrado na praia de Santos

O que se sabe sobre o barco que surgiu soterrado na praia de Santos

Três anos atrás, quando a maré baixou, a praia de Santos, no litoral de São Paulo, revelou algo semienterrado na areia: uma fileira de intrigantes pontas de madeira, que, logo se concluiu, fazia parte da estrutura de um grande e antigo barco – que, em seguida sumiu, engolida pelo mar, para reaparecer outras tantas vezes depois.

Mas, que barco era aquele?

Começava ali um enigma, que, até hoje, três anos e algumas pesquisas depois, ainda não pode ser respondido com 100% de certeza – embora todas as evidências apontem na direção do mesmo barco: o veleiro-cargueiro inglês Kestrel, que sabidamente encalhou na praia de Santos, em 11 de fevereiro de 1895, e por lá ficou.

“Tenho 80% de convicção de que se trata daquele barco, porque tamanho e localização do encalhe batem. Mas é preciso uma comprovação científica”, diz o pesquisador Sérgio Willians, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e diretor técnico da Fundação Arquivo e Memória da cidade, que baseia sua opinião sobre a identidade do barco graças, também, a um antigo quadro.

A tela, pintada por Benedito Calixto, um dos grandes nomes da pintura brasileira do início do século passado, que viveu parte de sua vida em Santos, mostra um grande veleiro encalhado na beira de uma praia, mas foi erroneamente classificado como sendo o barco Caldbeck, no município vizinho de Praia Grande.

Não era. Após comparar a paisagem ao fundo da tela com a topografia das praias dos dois municípios, Willians concluiu que aquela praia era a de Santos e que o barco retratado, o Kestrel – o mesmo que, tudo indica, agora vem aflorando gradualmente na areia da praia da cidade, 125 anos depois.

“Que o barco do quadro é o Kestrel, não tenho dúvidas, diz o pesquisador Willians. “Mas não posso afirmar com precisão que seja ele que que está enterrado na praia, embora tudo indique que sim”.

A mesma opinião é compartilhada pelo arqueólogo Manoel Gonzalez, do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas de Santos, que vem acompanhando o surgimento gradual dos escombros desde 2017, quando os restos do barco apareceram nitidamente pela primeira vez na praia.

E ele é ainda mais otimista na identificação do barco.

“Arrisco dizer que há 90% de chances de ser o Kestrel, mas é preciso escavar o local para comprovar isso. E é aí que começam os problemas”, diz Manoel, que, ao mesmo tempo em que vibra com a descoberta de algo tão valioso para um arqueólogo, reconhece que não será nada fácil executar o trabalho.

“O local onde o barco está soterrado é extremamente ingrato, porque passa metade do tempo seco e outra metade debaixo d´água, por conta do sobe e desce das marés”, explica o arqueólogo.

“Seria até mais fácil se ficasse o tempo todo submerso, porque aplicaríamos técnicas de arqueologia submarina. Mas com essa variação abrupta de ambiente, não dá para fazer nem uma coisa nem outra. É preciso, primeiro, construir um grande muro em torno dele, para reter o mar e permitir escavar no seco. E isso custa caro”, completa Gonzalez.

O centro de pesquisas arqueológicas dirigido por Gonzalez orçou em cerca de R$ 2 milhões os recursos necessários para escavar o casco soterrado, que, segundo ele, está afundado três metros na areia, sendo que a maior parte desse dinheiro seria destinada a construção do tal muro para reter o mar em torno do achado.

“Todos os orçamentos que temos para erguer uma contenção contra o mar passam de R$ 1 milhão”, diz o arqueólogo. “Parece um valor absurdo, mas é preciso considerar que estamos falando de construir uma barreira capaz de resistir a força do mar, com três metros de altura e outros três enterrados na areia, para que a água não infiltre também por baixo. Na prática, é como construir uma ilha seca no meio do mar, para que possamos escavar”.

O custo do projeto gerou comentários irônicos dos moradores da cidade, embora Gonzalez garanta que vá tentar buscar os recursos apenas na iniciativa privada.

“R$ 2 milhões para desenterrar lixo na praia? Só pode ser piada!”, escreveu um morador de Santos, quando as primeiras notícias foram divulgadas. “Sai mais barato construir outro barco”, acrescentou outro, dando coro aos indignados com a proposta de gastar tanto dinheiro para escavar os restos do barco.

“Não é nenhuma relíquia bíblica. É apenas um monte de madeira velha. Nada que uma retroescavadeira e algumas caçambas não resolvam”, resumiu outro morador da cidade, embora parte deles vejam a descoberta na praia com bons olhos, “desde que não atrapalhe a rotina dos banhistas na praia”.

Por enquanto, a área em torno dos restos do barco foi apenas cercada, impedindo o acesso de curiosos às vigas de madeira que brotam na areia, e uma câmera de vigilância foi instalada pela Prefeitura da cidade, para monitorar o local.

Além de intimidar atos de vandalismo (“Já vi gente arrancando pedacinhos de madeira para levar para casa como suvenir”, diz, preocupado, o arqueólogo Gonzalez), o monitoramento tenta impedir acidentes com os banhistas na praia, uma vez que muitas partes do casco estão à mostra na areia e, quando a maré sobe, ficam perigosamente submersas.

“Tivemos que implantar câmera de vigilância, dedicar funcionários para monitorá-la e, cada vez que a maré sobe demais, é preciso refazer a cerca em torno do barco”, diz Wagner Ramos, secretário de Serviços Públicos da Prefeitura de Santos, que, a partir de uma decisão do Ministério Público, se tornou responsável pela manutenção e guarda dos escombros.

“E o pior é que isso tende a se tornar um trabalho quase eterno, porque vai levar muito tempo até que algo venha a ser efetivamente feito para remover os restos do barco da praia”, acrescenta o secretário, que até vê certo potencial turístico para a cidade nos restos do barco soterrado na praia, mas desde que ele seja removido de lá.

“O barco teria que ser colocado em outro lugar, o que é igualmente difícil de operacionalizar”, diz o secretário.

Uma das coisas que já se sabe é que o surgimento do barco na praia se tornou um problema para a própria cidade

O primeiro grande afloramento dos escombros do barco, em agosto de 2017, não aconteceu por acaso.

Pouco antes disso, o canal de acesso ao porto de Santos havia sido dragado, o que provocou uma alteração na movimentação das areias nas praias da baía de Santos e fez aflorar os restos do barco.

Hoje, por conta do sobe e desce das marés, os escombros somem e reaparecem na beira da praia duas vezes ao dia. E cada vez mais visíveis.

“Quando começamos a estudar o achado, só as pontas das vigas do casco ficavam à mostra. Hoje, algumas madeiras já estão meio metro acima da areia”, diz o arqueólogo Gonzalez, que brinca. “Se pudéssemos esperar mais um século, talvez a própria natureza se encarregasse de escavar o barco para nós”.

“Agora, porém, é obrigatório preservá-lo, porque, uma vez descoberto, os restos do barco se tornaram um bem com valor histórico e arqueológico que não pode mais ser destruído”, avisa o arqueólogo, que, no entanto, acha que não deve haver nada dentro do casco carcomido pelo tempo.

Após mais de um século soterrado, só deve ter restado a estrutura do casco. Mas isso tem valor arqueológico”, explica.

O Kestrel era um veleiro de transporte de carga, com casco de madeira, três mastros e 60 metros de comprimento, que fazia a rota regular entre a Europa e as Américas.

Na sua última viagem, já havia descarregado no porto de Santos e estava ancorado, enquanto a maior parte da sua tripulação – inclusive o capitão – passeava pela cidade, quando uma tempestade, com fortes ventos, arrastou o barco para a praia.

A bordo, só havia o cozinheiro e dois marinheiros, que, estranhamente, recusaram a ajuda de um rebocador, que veio ajudar a deter o avanço do barco.

Isso, mais tarde, geraria suspeitas de que o encalhe poderia ter sido proposital, para o dono do barco receber o dinheiro do seguro, já que os navios movidos a vapor tinham tornado os veleiros-cargueiros obsoletos.

“Para mim, foi um golpe descarado e o objetivo da tripulação era destruir o barco, tanto que ele estava vazio, sem nenhuma carga”, especula o memorialista Willian. “E isso enriquece ainda mais a história desse barco, se é que o que está na enterrado na praia são mesmo os restos do Kestrel”.

O comandante que destruiu o próprio navio e ganhou uma nova vida

O comandante que destruiu o próprio navio e ganhou uma nova vida

Afundar deliberadamente um barco em mau estado para receber o dinheiro do seguro é um golpe tão antigo quanto às próprias seguradoras, apesar das investigações estarem cada vez mais severas.

Mas, no final do século 19, não era assim.

Por isso, na primavera de 1897, quando o comandante italiano Cosmo Marasciulo partiu de Gênova, com destino a América do Sul, no comando do vapor Sarita, um velho navio há muito clamando por uma reforma, a ordem que ele recebeu da dona da empresa, que também se chamava Sarita, foi bem clara: ele deveria dar fim ao navio, para que o dinheiro do seguro salvasse a empresa da falência.

Foi o que o obediente comandante fez.

Ao passar pelo inóspito litoral do Rio Grande do Sul, famoso pelos fortes ventos que sempre tentam atirar os barcos de encontro a costa, o comandante Marasciulo resolveu usar a má fama da região a seu favor e colocou o Sarita a todo vapor na direção da então deserta Praia do Cassino, nas imediações da cidade de Rio Grande.

O encalhe, proposital, deixou o Sarita entalado na areia, bem perto da praia, e todos os ocupantes desembarcaram sem maiores problemas.

Mas tiveram que caminhar por dois dias na praia, até a cidade, onde registraram a ocorrência.

Na época, um precário inquérito, feito com base apenas no depoimento do próprio comandante, atestou que o navio encalhara por conta dos fortes ventos e, com base nele, meses depois, a armadora do Sarita recebeu a indenização pela perda do barco.

Para os habitantes da então pequena Rio Grande, a história do naufrágio do vapor Sarita teria terminado aí, não fosse um detalhe: a paixão que o comandante Marasciulo desenvolveu pela cidade, a ponto de decidir se mudar para lá.

Após idas e vindas entre a Itália e o Brasil, ele se radicou de vez em Rio Grande, arrumou emprego como comandante de barcos brasileiros que faziam viagens frequentes à Buenos Aires e lá casou com uma argentina, que também se mudou para a cidade gaúcha, dando início a uma grande família, hoje bastante conhecida na região: os Marasciulo.

O patriarca Cosmo Marasciulo morreu anos depois de contar a verdadeira história de sua chegada ao Brasil aos seus herdeiros, mas não a tempo de ver inaugurado um farol no exato local do encalhe do seu barco, que, não por acaso, foi batizado de farol Sarita.

Para muitos, foi uma inadequada homenagem a um velho golpe que ali deu certo.

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FOTO: acervo Popa.com

 

A estranha ilha que surgiu e sumiu

A estranha ilha que surgiu e sumiu

A região do arquipélago dos Açores é famosa pelas erupções vulcânicas submarinas, que, não raro, fazem surgir pequenas “ilhas de lava” onde antes só havia água.

Só que, quase sempre, estas mesmas ilhas desaparecem em seguida, dissolvidas pelo mar, desafiando assim permanentemente a cartografia.

Em uma destas “ilhas temporárias” ocorreu um fato curioso, em junho de 1811.

O comandante de fragata inglesa HMS Sabrina, James Tillard, navegava em busca de embarcações francesas pela região da Ilha de São Miguel, uma das que formam o arquipélago português, quando avistou colunas de fumaça no horizonte.

Julgando tratar-se de uma batalha, seguiu para lá.

Mas o que ele encontrou foi a erupção de pequeno vulcão submerso no mar, que começava a dar forma a uma nova ilha.

Sem poder se aproximar demais, Tillard tomou o rumo da principal vila de São Miguel, onde se encontrou com o consul inglês e expressou sua intenção de “tomar posse” da nova ilha em nome da Inglaterra, já que sua localização era estratégica no conflito contra os franceses.

Mas Tillard precisou esperar quase um mês até que pudesse retornar a nova ilha, que batizou de Sabrina, mesmo nome do seu barco.

Quando lá chegou, em 4 de julho, na companhia do consul inglês, para fincar a bandeira da Inglaterra e decretar aquele “novo território” como sendo parte da Coroa Britânica, a ilha que nasceu onde antes só havia mar (e com profundidades que beiravam os 100 metros) já tinha cerca de um quilômetro de diâmetro e paredões de 90 metros de altura de puro basalto.

A ousadia de Tillard, que tomara posse de uma ilha dentro de uma região que pertencia a Portugal, estremeceu as relações com os portugueses.

Mas, como naquela época a corte portuguesa havia se transferido para o Brasil e era totalmente dependente dos ingleses para se defender contra os franceses, o incidente diplomático não deu em nada.

Até porque, dois meses depois, a Ilha Sabrina já não existia mais.

Quase tão instantaneamente quanto surgiu, a nova ilha foi dissolvida pelo mar, que erodiu suas rochas basálticas como se fossem castelinhos de areia na praia.

Em outubro daquele mesmo ano, já não havia nenhum vestígio da efêmera ilha na superfície do mar.

Só o que restou daquela ilha que virou uma quase lenda entre os navegantes, mas que existiu de fato, foi um desenho das erupções que a fizeram surgir, feito por um dos oficiais da tripulação do HMS Sabrina, hoje exposto no Museu Marítimo de Greenwich, nos arredores de Londres.

Mesmo assim, até hoje, quase todos os visitantes dos Açores vão até o mirante da Ponta da Ferraria, na principal ilha do arquipélago, para ver o local onde ficava a Ilha Sabrina, aquela que só existiu por pouco mais de dois meses, e que, tão rapidamente quanto nasceu, desapareceu.

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O navio-bomba que aterroriza a Inglaterra até hoje

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Em 20 de agosto de 1944, o navio cargueiro americano SS Richard Montgomery, um Liberty Ship, como foram chamados os navios feitos às pressas pelos Estados Unidos para o transporte de suprimentos durante a Segunda Guerra Mundial, ancorou na entrada do Rio Tâmisa, na Inglaterra, com uma carga, literalmente, bombástica: milhares de bombas, que seriam usadas pelos Aliados nos combates que então aconteciam na França.

Ele havia partido da Filadélfia com mais de 6 000 toneladas de munições e explosivos, e sua missão era aguardar no estuário do principal rio da Inglaterra a chegada do comboio ao qual se juntaria, rumo a costa francesa.

Ao chegar lá, o comandante do SS Richard Montgomery recebeu ordens de se aproximar da margem, ancorar e aguardar os demais navios, que estavam por chegar. Feito isso, ele foi para sua cabine, descansar.

Horas depois, outros navios começaram a chegar e alguns deles notaram que a âncora do SS Richard Montgomery havia garrado e ele estava derivando em direção a um famoso banco de areia que havia na região.

E avisaram isso pelo rádio ao oficial de plantão – que, no entanto, inexplicavelmente não acionou o comandante, que seguiu dormindo.

O resultado foi o encalhe do cargueiro no tal banco de areia, a cerca de 250 metros do canal principal e bem diante da então pequena cidade inglesa de Sheerness.

Não seria um grande problema, não fosse o fato de o navio estar abarrotado de carga, portanto pesado, e de a maré, justamente naquele instante, ter começado a baixar.

Nas horas subsequentes, o navio foi atolando e travando cada vez mais na areia, até que, mesmo com a subida da maré, não conseguiu mais se desvencilhar da armadilha na qual havia se metido.

Em seguida, seu casco, que não era propriamente resistente, como em todos os Liberty Ships, começou a trincar.

E seguiu rachando.

Era o fim do SS Richard Montgomery.

Dois dias depois, começaram os trabalhos de resgate e transbordo da sua delicada carga.

Mas logo o serviço teve que ser interrompido, porque as rachaduras no casco haviam causado a inundação da proa e o navio passou a gemer assustadoramente – sinal claro que não aguentaria por muito tempo o esforço de combater o sobe e desce das marés.

Caso rompesse de vez, as consequências seriam imprevisíveis, dada a letalidade da sua carga.

Temendo uma explosão, as equipes de resgate abandonaram o local.

E nunca mais se cogitou retirar as bombas que restaram no SS Richard Montgomery.

Até hoje.

Uma das razões para os explosivos jamais terem sido removidos do navio foi o temor da repetição de um episódio que traumatizou os moradores de outra pequena cidade inglesa, a de Folkestone, às margens do Canal da Mancha, em julho de 1967.

Naquela ocasião, uma ação de remoção de bombas do cargueiro polonês SS Kielce, afundado em 1946, resultou numa explosão equivalente a força de um terremoto com 4,5 de força na Escala Richter, além de abrir uma cratera de seis metros de profundidade no leito marinho e destruir parcialmente muitas casas na cidade.

Se algo semelhante acontecesse com o navio, as consequências para os habitantes de Sherness seriam bem piores, tanto pelo maior tamanho da cidade quanto pela menor proximidade dela com o naufrágio.

O SS Richard Montgomery afundou em um local tão raso e perto da margem – ou seja, da cidade – que não ficou totalmente submerso.

Além disso, o velho cargueiro jaz na entrada do Rio Tâmisa, a mais movimentada rota marítima do Reino Unido, por onde passam cerca de 5 000 navios por ano.

Tempos atrás, dois deles só não atropelaram os escombros do SS Richard Montgomery – com consequências possivelmente trágicas, caso isso acontecesse – porque conseguiram desviar a tempo.

Qualquer ação mais efetiva nos destroços poderia gerar o colapso do que resta do casco e o movimento acionar involuntariamente uma das bombas, já que parte delas foi transportada com seus disparadores instalados.

Se uma única bomba for acionada, as demais também explodiriam.

Tanto que, em 2012, durante as Olimpíadas de Londres, uma equipe de agentes especiais da polícia inglesa ficou de plantão no entorno do naufrágio do SS Richard Montgomery, porque havia o temor que ele pudesse ser usado como matéria-prima para um ataque terrorista.

Mais recentemente, o plano de construção de um aeroporto nas imediações de Sherness não avançou especialmente por conta do naufrágio do SS Richard Montgomery, já que seria necessário removê-lo, o que ninguém quer fazer.

Para os moradores da região, é melhor conviver com um navio-bomba adormecido do que correr o risco de despertá-lo.

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A curiosa história do uísque que veio do mar

A curiosa história do uísque que veio do mar

Nas primeiras horas da manhã de 5 de fevereiro de 1941, uma forte ventania, aliada a uma densa neblina, fizeram o cargueiro inglês SS Politician sair da rota que seguia, entre Liverpool, na Inglaterra, e Nova Orleans, nos Estados Unidos, e atropelar as pedras da ilha Eriskay, na costa noroeste da Escócia.

E ali ele ficou entalado.

Apesar da gravidade do acidente, não houve vítimas entre os tripulantes e todos foram resgatados pelos poucos (não mais que 400) moradores da ilha, que os levaram para suas casas.

Lá, durante a habitual receptividade que dedicavam aos náufragos, os habitantes de Eriskay tomaram conhecimento da carga que o navio transportava: banheiras, pianos, móveis, roupas de cama, componentes para motores, o equivalente a três milhões de libras esterlinas em cédulas de dinheiro da Jamaica, que haviam sido impressas na Inglaterra, e sua carga mais preciosa, pelo menos para os moradores da ilha, que não estavam nem aí para a pequena fortuna em moeda jamaicana: 22 000 caixas de uísque escocês, totalizando 264 000 garrafas do mais puro scotch – este sim um autêntico tesouro para qualquer escocês, sobretudo na carência geral de suprimentos causada pela Segunda Guerra Mundial.

O fato gerou um frenesi generalizado na ilha.

Naquela mesma noite, enquanto os náufragos dormiam, teve início uma das mais peculiares ações comunitárias que se tem notícia na história do Reino Unido: o resgate, silencioso e sincronizado, das caixas de uísque que jaziam nos porões do SS Politician por todos os moradores da ilha – inclusive pacatas donas de casas, que não pensaram duas vezes na hora de aderir ao etílico butim coletivo.

Usando até velas para iluminar as pedras da costeira, e recolhendo o máximo possível de caixas a cada incursão aos restos do navio, os habitantes de Eriskay passaram a madrugada surrupiando garrafas e as escondendo na ilha, antes que o dia amanhecesse e os tripulantes despertassem.

Quem não conseguia chegar ao navio, espreitava os vizinhos na escuridão da noite, para ver onde eles escondiam as garrafas – e depois ia lá capturá-las, num típico caso de saque aos saqueadores.

Mas os moradores da ilha não pensavam dessa maneira.

Tampouco consideravam o ataque aos porões do navio como sendo um saque.

Para eles, de acordo com a tradição da região, tudo o que vinha do mar era uma dádiva – um presente que, do contrário, estaria fadado a desaparecer para sempre no fundo do mar.

Ao se apoderarem das garrafas de uísque, julgavam estar apenas fazendo o “salvamento” de parte da carga do navio, ainda que em favor apenas deles próprios.

Mas o chefe da agência alfandegária da região não pensava assim, e, na manhã seguinte, ao saber do saque comunitário perpetrado pelos moradores da ilha, acionou a polícia.

Mas não por roubo de carga, como seria de se imaginar, e sim por sonegação fiscal, já que aquele uísque estava sendo exportado e, portanto, isento de pagamento de imposto apenas se fosse consumido fora do Reino Unido – e não numa ilhota da própria Escócia.

Embora estapafúrdio, o argumento convenceu a polícia, que seguiu para ilha, embora alguns policiais estivessem tão interessados em uma daquelas garrafas quanto os próprios saqueadores.

E os saques continuaram.

Nas noites sequintes, enquanto toda a população da ilha brincava de gato e rato com a polícia, garrafas e mais garrafas de uísque eram subtraídas do navio e escondidas nos mais diferentes pontos da ilha – dentro de grutas, chaminés, colchões ou enterradas em qualquer canto, antes que o dia amanhecesse e a polícia chegasse.

O problema era que, durante as operações, os próprios saqueadores começavam a beber e, uma vez bêbados, não mais recordavam onde haviam escondido as garrafas, o que fez com que muitas se perdessem para sempre.

A farra durou semanas, durante as quais alguns moradores de Eriskay conviveram com porres homéricos, rendeu algumas prisões, para indignação geral dos habitantes da ilha, que não viam motivos para isso, e não terminou nem quando o chefe alfandegário, farto de ser ludibriado pelas artimanhas dos ilhéus, mandou explodir uma parte do casco do navio, para que ele afundasse de vez – o que, de fato, aconteceu.

Mas, ainda assim, durante um bom tempo, garrafas cheias de uísque foram dar nas praias de Eriskay, e outras foram resgatadas por mergulhadores, o que persiste até hoje.

Vira e mexe, uma nova garrafa emerge dos restos do SS Politician e atinge valores espantosos em leilões na Inglaterra, apesar dos alertas de que, talvez, a bebida não possa ser consumida, porque uísques envelhecem em barris, não em garrafas, muito menos após oito décadas debaixo d´água.

São os “Whisky Galore” (algo como “Uísque em Abundância”), mesmo nome de um livro escrito por um morador da ilha, que, depois, também virou musical e filme, que narra a bem-humorada história de como os espertos moradores de Eriskay driblaram até a polícia por uma boa dose de uísque.

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