por Jorge de Souza | maio 30, 2022
Quando, em 2008, o casal de velejadores alemães Claudia e Manfred Fritz Bajorat resolveu se separar, cada um tomou um rumo diferente.
Claudia desembarcou na ilha Martinica e ali ficou, até 2010, quando morreu.
Já Manfred, desgostoso pela perda da companheira, tomou, sozinho, o rumo do mar e, desde 2009, nunca mais foi visto.
Até que, sete anos depois, em 31 de janeiro de 2016, seu veleiro, o Sayo, foi avistado, à deriva e sem mastro, boiando no meio do Pacífico, pela tripulação do barco de competição Lmax Exchange, que participava da regata de volta ao mundo Clipper 2015-2016.
Intrigados com aquele barco avariado e aparentemente abandonado no oceano, a tripulação do Lmax Exchange deu meia volta e resolveu investigar.
Um dos tripulantes mergulhou e foi nadando até o misterioso barco, que, a princípio, pareceu não ter ninguém a bordo.
Mas, ao olhar para dentro da cabine, o que ele viu o deixou perplexo: sentado com o tronco apoiado sobre a mesa de navegação, e o bocal do rádio em uma das mãos, jazia o corpo de Manfred.
E completamente mumificado, sinal de que havia morrido muito tempo antes.
A cena, gravada pelo tripulante que abordou o barco, chocou a tripulação do Lmax Exchange.
Mas, depois de avisar os organizadores da regata (que preferiram não tornar pública a descoberta para não macular a imagem da competição, embora tenham avisado a guarda-costeira americana, já que o Soya boiava a não muita distância da ilha de Guam), o veleiro voltou à prova e deixou o caso nas mãos da polícia.
Que, no entanto, nada fez.
Só um mês depois, o Soya e seu mórbido ocupante foram avistados novamente, desta vez no mar das Filipinas, a muitas milhas do primeiro encontro, por um grupo de pescadores, que redescobriram o corpo petrificado (e incrivelmente bem conservado) do alemão dentro do barco.
E só então o raro caso de mumificação espontânea no mar foi divulgado.
Embora raríssima, a auto-mumificação do corpo do alemão, cuja autópsia revelou morte quase instantânea por ataque cardíaco (estaria ele tentando pedir socorro pelo rádio quando foi fulminado?), teve uma explicação científica: a alta salinidade no interior do barco, que vagava no oceano sabe-se lá há quanto tempo, e o ar excepcionalmente seco no período posterior a morte do alemão teriam conservado o seu cadáver em perfeito estado.
Um cenário pra lá de macabro, mas que mostrou que, apesar de toda a sua água, o mar é capaz de produzir até múmias petrificadas.
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por Jorge de Souza | maio 26, 2022
Até a metade do século 20, quando os aviões passaram a tomar o lugar dos navios, os transatlânticos eram bem mais do que simples meios de transporte para longas viagens.
Eram, também, oportunidades para os seus privilegiados passageiros desfrutarem o glamour dos grandes cruzeiros.
Um destes sofisticados navios de passageiros, talvez o mais grandioso dos anos pós-guerra, foi o Caronia, um luxuoso transatlântico inglês, lançado em 1947 pela empresa Cunard, com a missão de atender a rota mais exigente da época, entre a Europa e os Estados Unidos.
Entre outros ineditismos, o Caronia foi o primeiro navio a oferecer uma piscina permanente, todas as suas acomodações eram de primeira classe, tinha atendimento personalizado de um tripulante para cada passageiro, além de água quente nas torneiras e — supremo conforto — banheiros privativos em todas as cabines.
O objetivo era que ele virasse uma extensão das mansões dos seus passageiros.
E pelo menos um deles levou isso ao pé da letra: a milionária americana Clara Macbeth, que decidiu morar naquele navio.
Solitária e muito rica, ela trocou seu luxuoso apartamento na Quinta Avenida, em Nova York, por uma suíte bem lado elevador do Caronia (outra quase novidade na época), através do qual subia diretamente ao restaurante, sem precisar sequer caminhar.
Lá, sentava-se sempre a mesma mesa, e, em seguida, retornava a sua cabine.
Raramente passeava pelo navio – que, no entanto, transformara em sua casa.
Mesmo assim, “Miss Macbeth”, como era chamada por todos os tripulantes, conhecia o Caronia melhor do que qualquer marinheiro, já que viveu nele por 15 longos e consecutivos anos, emendando um cruzeiro no outro, sem desembarcar em porto algum.
Foi a mais longa permanência de um passageiro em um navio que se tem notícia.
Só com passagens, estima-se que ela gastou cerca de 20 milhões de dólares, em dinheiro de hoje.
Miss Macbeth só retornava ao seu apartamento em terra firme quando o Caronia era levado para o estaleiro, para manutenção e reparos.
Mas, tão logo ele voltasse à água, ela reembarcava.
E sempre na mesma cabine e na mesma mesa do restaurante.
No total, Clara Macbeth deu o equivalente uma dúzia de voltas ao redor do mundo, sem sair do Caronia, e somou mais horas de navegação do que os seus próprios comandantes.
Ela não era mais considerada uma passageira.
Era uma residente.
A primeira do gênero.
E, como tal, com direito a regalias, como o convite especial para o mais exclusivo cruzeiro que o Caronia realizou, em 1953, para a posse da Rainha Elizabeth, na Inglaterra – e nem assim ela desembarcou.
Mas tamanha fidelidade de uma passageira para lá de especial não foi suficiente para salvar o navio da bancarrota.
Nos anos de 1960, com a popularização dos aviões a jato, os transatlânticos perderam a primazia nos transportes de pessoas, a Cunard entrou em séria crise financeira e decidiu vender o Caronia.
Mas isso só aconteceu depois que Clara Macbeth, já bastante doente, foi obrigada a abandonar a vida a bordo e voltar a viver em Nova York.
Uma década depois, o empresário americano que comprou o Caronia resolveu aposentá-lo de vez e pôs à venda, através de um leilão em Nova York, todo o mobiliário do navio.
Quem arrematou parte dos móveis foi um homem interessado em abrir um restaurante na cidade.
Em 1974, o estabelecimento foi inaugurado na Quinta Avenida – bem em frente ao antigo apartamento de Clara Macbeth.
Mas ela não chegou a frequentar o restaurante, nem testemunhou o triste fim do seu querido navio.
Poucos meses antes de o Caronia ser demolido, quando já havia até mudado de nome, Clara Macbeth embarcou em sua última viagem – e não mais a bordo do navio que tanto amava.
Já a sua mesa, continuou lá, no restaurante, à sua espera.
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por Jorge de Souza | maio 25, 2022
Um fato anormal aconteceu em um parque aquático de Sydney, na Austrália, em 25 de abril de 1935.
Um grande tubarão-tigre, recém-capturado, para servir de atração no parque, mas com claros sinais de indigestão, regurgitou, na frente da plateia, um pedaço de braço humano, em perfeito estado.
O membro estava tão bem preservado, dentro da barriga do animal, que foi possível até ver que ele continha a tatuagem de um boxeador.
Esse detalhe levou a polícia a investigar se algum praticante do esporte havia sofrido algum acidente recente no mar da região.
E – bingo! – logo deduziram que o membro decepado pertencia ao ex-boxeador James Smith, desaparecido misteriosamente havia poucos dias.
Mas o exame do membro vomitado pelo tubarão revelou algo bem mais intrigante: aquele braço havia sido cortado a faca e não decepado pelos dentes do animal, como seria de se esperar.
E isso eliminava a hipótese de um simples ataque do tubarão à vítima.
A conclusão foi que o corpo de Smith fora esquartejado e atirado ao mar, numa tentativa de fazê-lo desaparecer para sempre.
Mas aquele tubarão, que engolira o braço inteiro, sem mastigá-lo, colocou o plano do assassino de eliminar o corpo por água abaixo.
Investigando a vida pregressa da vítima, a polícia chegou a um sócio de Smith, chamado Patrick Brady, e também ao construtor de barcos Reg Holmes.
O primeiro negou categoricamente o crime.
Já o segundo acusou Brady pela morte do pugilista, porque, segundo ele, a vítima o estava chantageando em fraudes ligadas a seguradoras.
Brady, então, foi detido e permaneceu preso até quase o julgamento, quando aconteceu outra reviravolta no caso.
Pouco antes de Brady ser julgado, o homem que o acusara, Holmes, que também era a principal testemunha sobre a morte de Smith, já que um dos seus barcos teria sido usado pelo assassino para desovar o corpo mutilado no mar, apareceu misteriosamente morto, com um tiro de revólver.
E nunca ficou comprovado quem o matou – ou quem o mandou matar -, embora o assassino tenha tentado criar um cenário que sugeriria um suicídio.
Mas um detalhe óbvio logo eliminou esta possibilidade: porque Holmes morreu vítima de três disparos…
Sem o depoimento de Holmes, não houve como acusar formalmente Brady pela morte do pugilista.
Seu advogado também tentou contestar o crime, alegando que “um braço não era um corpo”, e que Smith poderia estar vivo e apenas mutilado.
Não convenceu ninguém.
Mas, ainda assim, Brady foi solto, por falta de provas, e passou o resto da vida alegando inocência, até morrer, de causas naturais, em 1965, aos 76 anos.
Apesar do esforço involuntário daquele tubarão glutão, o caso da morte de James Smith acabou sem nenhuma punição.
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por Jorge de Souza | maio 19, 2022
Há anos, um tenso conflito acontece ao longo da grande faixa limite do mar territorial da Argentina.
De um lado, estão centenas de barcos pesqueiros – chineses, na sua maioria.
Do outro, alguns poucos navios de patrulha da Prefectura (uma espécie de Guarda Costeira) Argentina.
E a razão do embate é a pesca ilegal de uma espécie de lula, que só existe ali.
Tal qual lobos à espreita da presa, os pesqueiros infratores ficam brincando de gato e rato com a fiscalização argentina, parados rentes à linha imaginária que separa o mar territorial daquele país das chamadas Águas Internacionais, onde os argentinos não podem agir.
Mas, sempre que a fiscalização se afasta, os pesqueiros voltam a invadir o mar argentino e a capturar o precioso molusco.
É uma caçada interminável – quase como tentar enxugar gelo.
Uma guerra que os argentinos tentam combater 24 horas por dia, quase sempre sem nenhum sucesso.
Mas, de vez em quando, conseguem uma vitória.
Foi o que aconteceu na madrugada de 15 de março de 2016, a cerca de 600 quilômetros da costa argentina, mas ainda dentro dos limites do mar territorial do país.
Naquele dia, a habitual perseguição dos navios de patrulha aos barcos infratores terminou da maneira mais radical possível: com o metralhamento e afundamento de um deles: o pesqueiro chinês Lu Yan Yu Yuan 010, que tinha 32 homens a bordo.
Nenhum dos tripulantes nada sofreu no episódio e todos foram resgatados no mar.
Quatro deles, incluindo o comandante do pesqueiro invasor, pela própria tripulação do navio argentino que os atacou, o Prefecto Derbes.
Os restantes, por outros barcos chineses que estavam nas imediações, fazendo a mesma coisa que o Lu Yan Yu Yuan 010 – ou seja, a pesca ilegal.
Mas a ação teve lances de filmes de ação.
Começou com um avião argentino de patrulha localizando o pesqueiro invasor e avisando o comandante do Prefecto Derbes, que estava ali por perto.
Cumprindo o protocolo, o navio alertou o barco, pelo rádio, em inglês e espanhol, de que ele estava atuando em águas da chamada Zona de Exclusão, onde não é permitida a atividade pesqueira de barcos estrangeiros – como se isso fosse algo que os infratores não soubessem.
Como não houve nenhuma resposta, os argentinos passaram a emitir sinais sonoros e luminosos, que significavam a mesma coisa – também ignorados pelos chineses.
A única reação do barco invasor veio em seguida, quando todas as suas luzes foram apagadas, bem como o sinalizador automático da embarcação, e o pesqueiro iniciou a fuga, rumo ao abrigo seguro do outro lado da linha divisória.
Mas não conseguiu chegar lá.
Irritados, os oficiais argentinos, que também já haviam dado ordens para os chineses deterem o movimento a fim de serem abordados, partiram no encalço do barco fugitivo.
A perseguição durou um par de horas, com o navio argentino cada vez mais próximo do Lu Yan Yu Yuan 010, já quase camuflado pela escuridão da noite.
Quando a distância foi reduzida a uma centena de metros, os argentinos passaram a executar disparos intimidatórios com fuzis, visando, no entanto, apenas as partes “neutras” do barco chinês, como a proa, onde não havia pessoas, e antenas, a fim de cortar as comunicações com outros barcos invasores, já que a atuação em grupo é uma maneira que invasores usam para dificultar as ações de repressão.
Como nem assim os chineses diminuíram a marcha, a ordem seguinte foi para substituir os disparos de fuzis por rajadas de metralhadoras, que fizeram um grande estrago no barco – que, por fim, parou.
Mas não por muito tempo.
Logo, o Lu Yan Yu Yuan 010 começou a avançar, de ré, na direção da proa do navio argentino, numa clara intenção de provocar uma colisão.
A batida só não ocorreu porque o Prefecto Derbes foi manobrado rapidamente e escapou a tempo.
Mas, àquelas alturas, já estava claro que aquele embate, desta vez, não terminaria bem.
Como, de fato, não terminou.
Após a frustrada tentativa de provocar a colisão entre os dois barcos (através do choque da popa do Lu Yan Yu Yuan 010 com a proa do Prefecto Derbes, o que, depois, permitiria aos chineses alegar que a batida havia sido provocada pelo navio argentino, e não o contrário), o pesqueiro começou a adernar, num claro sinal de que estava prestes a afundar.
Quando a água atingiu a altura do convés, o comandante do pesqueiro e seus 31 subordinados embarcaram em pequenos botes e foram para o mar, de onde foram resgatados em seguida.
Dali, o capitão chinês seguiu direto para a prisão, onde ficou até o caso se tornar uma questão, também, diplomática, porque a China passou a alegar que o Lu Yan Yu Yuan 010 afundara em consequência de ter sido intencionalmente metralhado pelos argentinos.
Já o comandante do Prefecto Derbes negou com veemência, porque os disparos que autorizara não seriam suficientes para afundar um barco com casco de aço de 66 metros de comprimento, sobretudo porque foram feitos sempre acima da linha d´água.
A suspeita, jamais comprovada, mas amplamente aceita até hoje, é que, para incriminar mundialmente os argentinos por ação belicosa e forçar a diminuição do patrulhamento na região através da pressão mundial, os tripulantes do Lu Yan Yu Yuan 010 tenham aberto propositalmente as válvulas do casco do seu próprio barco e o deixado encher de água, antes de abandoná-lo – razão pela qual todos se salvaram, já que tiveram tempo suficiente para preparar a própria evacuação.
Se foi realmente isso o que aconteceu, só mesmo os 32 tripulantes do Lu Yan Yu Yuan 010 saberiam responder.
Mas, como bons infratores, eles jamais se manifestaram.
E a guerra pela captura da cobiçada lula argentina segue até hoje.
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por Jorge de Souza | maio 19, 2022
Dezembro de 2014.
Havia três dias que o barco Bob Barker, da ONG ambientalista Sea Shepherd, capitaneado pelo sueco Peter Hammarsfedt, vasculhava uma gigantesca área remota do mar da Antártica, na altura da Austrália, em busca de sua presa.
Até que surgiram três pontinhos no radar da embarcação.
Dois eram claramente icebergs.
Mas o terceiro, se movimentava.
Só podia ser ele, naqueles confins do mar antártico.
E era.
O Thunder, um navio pesqueiro com bandeira da Nigéria, que estava entre os mais procurados do mundo por praticar impunemente a pesca ilegal – aquela que desrespeita os limites das espécies e cuja quantidade nunca é declarada às autoridades.
Ele era comandado pelo chileno Luis Cataldo e tinha outros 40 tripulantes de diferentes nacionalidades a bordo – mas nenhum nigeriano, já que usava a chamada “bandeira de conveniência”, que confere “nacionalidade” a qualquer embarcação mediante apenas pagamento.
Tanto que, sistematicamente, o Thunder mudava de bandeira, e seu nome sequer era pintado no casco, resumindo-se a placas, que podiam ser facilmente substituídas por outas, com outro nome.
Tampouco ninguém sabia quem era o dono do barco.
Apenas que o que ele fazia era ilegal.
Há meses, o Thunder vinha sendo monitorado pela Sea Shepherd, já que as autoridades pouco faziam para detê-lo.
Mas sempre escapava.
Desta vez, porém, poderia ser diferente.
Eufórico com a descoberta da presa, o capitão Hammarsfedt convocou o outro barco da entidade, o Sam Simon, que estava na região pelo mesmo motivo, para juntar-se ao cerco do arredio fugitivo.
E ele chegou rápido.
Ao avistarem o Thunder, a primeira providência foi fotografá-lo.
Mas não para comprovar que estivesse pescando – algo que, em tese, não feria lei alguma, já que o barco estava em Águas Internacionais, que não pertencem nenhum país.
Mas sim para tentar descobrir, pela altura da linha d´água no seu casco, quanto de combustível ele ainda poderia ter nos tanques.
A informação era fundamental para estimar a autonomia do pesqueiro e, portanto, sua capacidade de fugir, como das vezes anteriores.
E foi, novamente, o que ele fez.
Ao ser contatado, via rádio, pelo capitão Hammarsfedt e dele receber ordem de parar as máquinas para ser abordado, já que havia uma ordem de arrestamento do Thunder expedida pela Interpol, o comandante do Thunder respondeu apenas que a Sea Shepherd não tinha autoridade legal para detê-lo.
E era verdade.
A entidade não era Polícia e não podia sair confiscando barcos infratores.
Feito isso, Cataldo desligou o AIS do seu barco, um equipamento de identificação automática de embarcações, acelerou e penetrou no labirinto de blocos de gelo da Antártica, sendo, no entanto, seguido bem de perto pelos dois barcos da Sea Shepherd.
Uma perseguição que mais parecia uma escolta – o perseguido sendo seguido, a pouca distância, pelos seus perseguidores, que, no entanto, legalmente nada podiam fazer para detê-lo.
A estratégia de Hammarsfedt passou a ser apenas a de seguir o barco infrator, até que a Interpol pudesse entrar em ação ou acabasse o combustível do Thunder – os dois barcos da Sea Shepherd não padeciam tanto desse problema, porque seus tanques eram enormes, justamente para ter grande autonomia no mar, durante as ações que faziam.
Já que Hammarsfedt não podia impedir Cataldo de seguir adiante, iria escoltá-lo, fosse para onde fosse, pelo tempo que durasse o combustível do pesqueiro.
Era o início de uma das mais longas perseguições marítimas da História recente.
Durante intermináveis 110 dias, quase quatro meses, os dois barcos da Sea Shepherd seguiram o Thunder a pouca distância, monitorando todos os seus movimentos.
Que não foram poucos.
Das águas antárticas, o pesqueiro adentrou o Pacífico, cruzou o Atlântico e penetrou no Índico, antes de dar meia-volta e retornar ao oceano anterior, numa jornada de mais de 11 000 milhas náuticas – uma patética perseguição entre gato e rato, onde ambos sabiam muito bem onde o outro estava.
Sempre que Cataldo parava para pescar, os dois barcos da Sea Shepherd também paravam.
Mas ficavam apenas observando, em busca de novas provas que incriminassem ainda mais o pesqueiro.
Em uma dessas ocasiões, rolos de fumaça passaram a ser emanados do convés do Thunder.
Como fazia com frequência, Hammarsfedt pegou o rádio, chamou o capitão chileno e perguntou sobre a origem do fogo.
Cataldo respondeu que estava apenas incinerando lixo.
Mas a verdade era outra.
O Thunder estava queimando suas gigantescas redes de pesca, algumas com mais de dezenas de quilômetros de extensão.
Ou seja, destruindo provas, já que parecia claro que aquela perseguição não iria terminar sem que eles fossem detidos pela polícia.
Quando o Thunder reentrou no Atlântico e passou a subir a costa africana, Hammarsfedt ficou se perguntando para onde Cataldo seguia.
A resposta veio dias depois, quando o pesqueiro se abrigou no mar territorial da Nigéria, país da bandeira que ostentava, e onde os barcos da Sea Shepherd não poderiam entrar sem autorização.
A suspeita era a de que o Thunder contava com a proteção das autoridades nigerianas, já que nunca ficou claro quem era o dono do barco.
Aquela longa perseguição teria acabado ali, não fosse a resiliência de Hammarsfedt, que ficou parado fora dos limites do mar nigeriano, e uma providencial manobra diplomática: a decisão do governo americano de ameaçar a Nigéria com sanções econômicas, caso a pesca ilegal com barcos sob bandeira daquele país não fosse interrompida.
Os nigerianos seguiram concedendo secretamente bandeiras de conveniência para barcos pesqueiros.
Mas, dadas as dimensões que aquele caso tomara, confiscaram o direito de o Thunder continuar a usá-la – uma maneira de tentar agradar aos americanos e impedir o boicote.
Com isso, o barco de Cataldo se tornou apátrida – uma paria dos mares, sem nenhuma bandeira para protegê-lo.
E foi sob esta situação que ele teve que deixar as águas nigerianas, para ser, novamente, perseguido pelo implacável comandante sueco.
Mas não por muito tempo.
No dia 5 de abril de 2015, três meses e meio após o início daquela perseguição implacável, o capitão Cataldo tomou o rumo de um ponto da costa das Ilhas São Tomé e Príncipe, ainda dentro do Golfo da Guiné, e, sob o olhar atento de Hammarsfedt, parou o seu barco.
Em seguida, pegou o rádio e emitiu um pedido de socorro, alegando que Thunder havia sido abalroado por outra embarcação e que estava afundando – embora não houvesse nenhum outro barco na área, a não ser os dois da Sea Shepherd.
O passo seguinte na encenação criada pelo capitão chileno foi baixar botes salva-vidas ao mar e embarcar com toda a sua tripulação, enquanto o Thunder começava a inclinar, vítima da abertura proposital das válvulas do seu casco pelos próprios tripulantes.
Seguindo o protocolo, coube aos próprios membros da Sea Shepherd resgatar os náufragos, mesmo sabendo que eles deliberadamente haviam promovido o naufrágio do pesqueiro, como forma de ocultar provas sobre a sua atividade criminosa.
O capitão Cataldo foi recolhido pelo próprio comandante sueco e acompanhou, do convés do barco que tanto o perseguira, os últimos suspiros do Thunder, com a proa apontada para o céu, antes de mergulhar para sempre no mar.
Quando isso aconteceu, Cataldo sorriu.
Nada mais poderia seriamente incriminá-lo.
A mais longa perseguição de um barco pesqueiro que se tem notícia terminou com uma simples multa por poluição marinha, por conta do afundamento proposital do Thunder, e brandas penas aos infratores.
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