Vinte dias atrás, no final da tarde de domingo, 22 de agosto, o casal carioca Cristiane Nogueira da Silva, de 48 anos, e Leonardo Machado de Andrade, de 50, embarcaram na traineira Novo Milênio I, que pertencia a ele, e partiram, só os dois, da Praia da Longa, na Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, para apreciar o pôr do sol na vizinha Lagoa Verde, a pouco mais de um quilômetro de distância.

E desapareceram – bem como o barco no qual estavam.

Nove dias depois, o corpo de Cristiane surgiu em uma parte erma da Baía de Mangaratiba, a quilômetros de distância do ponto para o qual supostamente haviam partido, assim como dois itens que pertenciam ao barco, mas em áreas opostas – o que, juntamente com um intrigante foguete sinalizador avistado na região na noite seguinte ao desaparecimento, deu ao caso ares de mistério.

Embora a causa mais provável seja a de um simples naufrágio, outras hipóteses ainda estão sendo consideradas pela polícia.

Ao longo de mais de duas semanas, a Marinha vasculhou toda a região, que é bem grande, já que mais de 50 quilômetros de mar separam a Lagoa Verde da baía da Marambaia, onde o corpo de Cristiane foi encontrado.

E tudo o que foi encontrado foi uma janela e duas boias do barco, boiando no mar.

Só que em locais opostos, o que confundiu ainda mais as buscas pelo barco supostamente afundado.

A janela, segundo a polícia, foi encontrada na Lagoa Verde, na Ilha Grande – um claro indicativo da área onde a traineira teria afundado.

Já as duas boias apareceram na baía de Marambaia, área oposta à da lagoa, mas a mesma onde apareceu o corpo de Cristiane, e aparentemente pelo mesmo motivo: a influência da correnteza, que teria arrastado corpo e boias da Ilha Grande para lá – algo bem comum de acontecer na região.

Para complicar ainda mais as buscas pelo barco, no início da noite do dia seguinte ao desaparecimento do casal, um grupo de amigos filmou o disparo de um foguete sinalizador, equipamento náutico usado para pedir socorro no mar, na região da Marambaia.

Aquele foguete poderia ter sido disparado do barco do casal, como um pedido de socorro.

Embora o autor do vídeo diga que entrou em contato com os Bombeiros para avisar sobre o estranho sinal, aparentemente, na mesma noite, nenhuma busca na região foi feita.

“A polícia só foi para lá dias depois, quando o corpo da Cristiane apareceu”, lamenta a ex-esposa de Leonardo, Vanessa Morett, com que o casal mantinha um bom relacionamento.

No entanto, não há como relacionar o disparo do tal foguete com o barco do casal – pode ter sido um disparo acidental ou brincadeira vinda de outro barco, já que não são raros os donos de embarcações que usam erradamente aquele tipo de sinalizador como foguetes de comemoração.

Além disso, como explicar que a janela do barco tenha sido encontrada a dezenas de quilômetros de lá, na Lagoa Verde, no sentido contrário ao da correnteza?

Ainda assim, a divulgação do foguete sinalizador, que só pipocou nas redes sociais dias depois, levou a polícia e a Marinha a ampliar as buscas pelo barco em muitos quilômetros quadrados, aumentando também as chances de não encontrá-lo – porque, quanto maior for a área, mais difícil fica o trabalho.

“Achar o barco é fundamental”, sempre disse o delegado encarregado do caso, Vilson de Almeida Silva, da 166ª Delegacia Policial de Angra dos Rei. “Só a partir dele será possível entender o que aconteceu com o casal. Se é que o barco afundou de fato…”

Já a segunda dúvida que paira sob a hipótese de naufrágio é por que o corpo de Cristiane não estava com um colete salva-vidas quando foi encontrado, uma vez que vestir este equipamento costuma ser a primeira providência em casos desse tipo – sobretudo para alguém tão atento às questões de segurança, quando a primeira esposa garante que era o ex-marido.

Para reforçar este argumento, uma foto da traineira usada pelo casal mostrava claramente muitos coletes salva-vidas armazenados debaixo da cobertura do convés, além de duas boias salva-vidas penduradas na lateral da cabine – as mesmas que, depois, foram encontradas boiando nas águas da baía de Marambaia.

Por que aqueles equipamentos de segurança não foram usados pelas vítimas no eventual naufrágio?

Uma das hipóteses é que o naufrágio tenha sido tão fulminante que não houve tempo para nada, o que também invalidaria o disparo do tal foguete sinalizador.

Outra, é que as duas boias encontradas no mar tenham se desprendido naturalmente do barco quando ele afundou, já que elas estavam apenas penduradas na lateral da

A possibilidade de haver uma relação direta entre o disparo do foguete sinalizador e o barco do casal, 24 horas depois do desaparecimento deles, só se explicaria se a embarcação tivesse tido algum problema (quebra do motor ou inundação parcial – o que explicaria aquela janela encontrada no mar…), e ficasse à deriva durante toda a noite e também ao longo do dia seguinte inteiro, sendo levada pela correnteza, na direção da baía de Marambaia.

No entanto, logo no dia seguinte ao desaparecimento do casal, um helicóptero sobrevoou a região e não encontrou nenhum sinal da traineira – que não poderia ter ido tão longe, em tão pouco tempo, levada apenas pela correnteza.

Além disso, é pouco provável que outro barco não tivesse visto a traineira à deriva, durante todo o dia, em uma das áreas mais movimentadas da região.

A menos que o barco do casal já não estivesse mais na superfície – o que, no entanto, eliminaria de vez a relação dele com aquele foguete, na noite de segunda-feira.

Ou, então, que o foguete não estivesse no barco e sim com um dos náufragos no mar…

Além da hipótese de naufrágio instantâneo, causado por algum acidente – tese defendida pela maioria das pessoas –, também não foi descartada a possibilidade de o casal ter sido vítima de um assalto e roubo do barco no mar, embora o corpo de Cristiane não apresentasse lesões.

Até porque, antes de sair de casa, Leonardo teria confidenciado a um amigo vizinho que, após assistir ao pôr-do-sol, pretendia “namorar” um pouco no barco, ou seja, já na parte da noite.

Isso pode ter deixado o casal desatento, além de levá-los para o interior da cabine, sem, portanto, visão externa de uma eventual movimentação ao redor do barco – situação na qual poderiam ser facilmente dominados por ladrões.

A tese de assalto seguido de latrocínio também explicaria por que o corpo de Cristiane fora encontrado sem um colete salva-vidas, equipamento que o barco tinha em profusão.

Mas é contraditória com as duas boias encontradas no mar – que ladrão lançaria boias para as vítimas que jogara ao mar?

Tão logo o desaparecimento do casal foi noticiado, o filho de Cristiane, Guilherme Brito, recebeu ligações de supostos sequestradores, que diziam estar com as duas vítimas e pediam resgate.

Mas era golpe: bandidos estavam se aproveitando do desespero da família para tentar extorquir dinheiro.

Embora a hipótese de o casal ter sido vítima de assalto, seguido de roubo do barco e arremesso deles ao mar, não tenha sido descartada pela polícia, o surgimento das duas boias enfraqueceu esta tese – e reforçou ainda mais a de um simples naufrágio.

Ou, então, a de um golpe muito bem arquitetado…

Cristiane e Leonardo vinham ensaiando uma reconciliação há tempos, após dois anos separados de uma união que durara mais de oito.

Foi com esse intuito que o casal decidiu passar um fim de semana junto, na mesma na praia onde Leonardo vinha morando, desde que deixara o Rio de Janeiro.

Cristiane veio, então, de Salvador, onde estava morando, para encontrar o ex-companheiro, com quem vinha mantendo um bom relacionamento à distância.

Se algo aconteceu entre eles na noite do desaparecimento, não se sabe.

Mas câmeras de segurança da casa mostraram os dois saindo, para embarcar no barco, no final da tarde do dia em que desapareceram, em perfeita harmonia.

“De jeito algum acredito em crime passional ou feminicídio”, garante a ex-esposa Vanessa. “O Leonardo jamais foi violento”.

Ainda assim, a polícia também não descarta a hipótese de Cristiane ter sido vítima do ex-companheiro.

Segundo esta linha de raciocínio, ele poderia tê-la jogado ao mar antes de fugir com o barco, e simular o naufrágio – neste caso, a janela e as duas boias encontradas no mar fariam parte de uma encenação.

Ou, então, de ter intencionalmente provocado o naufrágio com ela dentro do barco.

Isso explicaria por que o corpo de Leonardo ainda não foi encontrado, bem como o barco – embora, casos desse tipo não sejam nada raro de acontecer no mar.

O fato de os documentos e celular de Leonardo não terem sido encontrados na casa (ao contrário dos de Cristiane), levou a polícia a pedir a quebra do sigilo telefônico e rastreio do aparelho dele.

Mas nada ainda foi provado.

“Não se trata de acusar uma vítima, mas é preciso investigar todas as possibilidades”, argumenta a polícia, que ainda não tem a menor ideia do que realmente aconteceu com o casal, no mar de Angra dos Reis.

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