O navio que decidiu o destino dos seus tripulantes

O navio que decidiu o destino dos seus tripulantes

O porto de Hamburgo estava particularmente agitado na manhã de 21 de julho de 1939. Entusiasmados com a boa performance da economia alemã, depois da crise desencadeada com o fim da Primeira Guerra, e embalados pelo forte sentimento nacionalista que tomava conta do país nos dias que antecederam o início de um novo conflito mundial, mais de uma centena de passageiros preparava-se para embarcar em um longo cruzeiro de ida e volta à África, a bordo de um dos melhores transatlânticos alemães da época: o Windhuk (“Canto do Vento”, em alemão). O navio era tão luxuoso que tinha uma tripulação quase duas vezes maior do que o número de passageiros: 250 tripulantes, quase todos tão alemães quanto o próprio comandante, Wilhelm Brauer.

A viagem estava prevista para durar 60 dias, com escalas em diversos países da Europa antes de descer até Moçambique, de onde o navio regressaria ao mesmo porto da Alemanha. Mas o Windhuk jamais voltou – embora nenhuma tragédia tenha acontecido naquela viagem. Ao contrário, ela teve um final feliz para todos os tripulantes do navio, mesmo tendo o Windhuk ido parar do outro lado do Atlântico, no porto brasileiro de Santos, cinco meses depois.

Quando, em 1º de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polonia, dando início a Segunda Guerra, o Windhuk estava tranquilamente atracado no porto da Cidade do Cabo, na África do Sul, com seus passageiros aproveitando as mordomias de bordo, que incluiam uma requintada gastronomia. Mas a ordem era clara: o Windhuk deveria sair imediatamente daquela então colonia inglesa e retornar à Alemanha. Avisados, quase todos os passageiros decidiram desembarcar ali mesmo, ficando a bordo apenas os tripulantes – exceto um deles, que havia saído para passear em terra-firme no seu dia de folga e não conseguiu voltar para o navio a tempo

Às 22 horas do mesmo dia, o navio saiu do porto às pressas e com pouco combustível, o que levou o comandante Brauer a optar por navegar só até a cidade de Lobito, na costa da atual Angola, que nada tinha a ver com o conflito. Ali, ele esperava abastecer o navio e seguir viagem para a Alemanha.

Mas, no precário porto angolano, o Windhuk teve que esperar dois longos meses até que conseguisse um pouco mais de combustível e pudesse voltar ao mar. Confinados no navio, os tripulantes do Windhuk, inocentes garçons, camareiros, engenheiros e marinheiros, todos civis em nada envolvidos com a guerra, não faziam a menor ideia do que se passava na distante Europa. Tampouco o que o destino lhes reservaria dali em diante. Só restava esperar e torcer para que o navio conseguisse, finalmente, partir.

Cinco deles não suportaram a angústia da espera e traçaram um plano para voltar para casa por conta própria, com um dos barcos salva-vidas do navio. Certa noite, colocaram o bote na água e partiram a remo. Dois meses e meio depois – e após receberem a ajuda de um navio português que lhe forneceu mantimentos no meio do caminho -, o grupo foi dar numa praia das distantes Ilhas Canárias, num feito e tanto.

Já o comandante do Windhuk tinha outras preocupações além da fuga de tripulantes e da carência de suprimentos, inclusive comida para tanta gente a bordo, durante tanto tempo: ele não sabia como driblar os navios ingleses que já patrulhavam trechos da costa africana.

No início de novembro, depois de conseguir um pouco de combustível, surgiu uma brecha na patrulha dos ingleses. O Windhuk, então, partiu ainda mais escondido do que da primeira vez, juntamente com outro navio alemão, o Adolf Woermann, que também aguardava uma chance de escapar do cerco dos ingleses aquartelado naquele porto angolano. A bordo, não havia comida suficiente para toda a tripulação na longa a viagem que o Windhuk faria (uma ironia num navio famoso justamente por sua gastronomia), nem tampouco era garantido que o combustível desse para chegar a Alemanha.

Mesmo assim, o comandante Brauer mandou soltar as amarras, apagar todas as luzes do navio e ganhou o mar, seguido pelo Adolf Woermann, que, no entanto, não foi longe. Descoberto pelos ingleses, o outro navio alemão foi atacado e afundado logo após sair de Angola. Já o Windhuk seguiu em frente. Mas nem o seu comandante sabia exatamente para onde. Importante era escapar do cerco.

No afã de driblar os ingleses, o Windhuk navegou em linha reta Atlântico adentro, saindo da rota natural para a Europa e alongando a distância até a Alemanha – um grande problema frente a questão do combustível. Seria, portanto, necessário parar em outro porto, para reabastecer. Mas, qual, se os ingleses patrulhavam praticamente toda a costa africana? Foi quando Brauer teve a ideia de seguir em frente, cruzar todo o oceano e buscar recursos em algum país sul-americano, todos ainda neutros na guerra.

A fim de evitar as rotas mais usadas pelos navios, o comandante do Windhuk decidiu navegar bem mais ao sul do que o habitual. E quase foi parar nas ilhas Malvinas. O acréscimo extra no percurso tornou o nível do combustível ainda mais crítico.

Para economizar, o Windhuk passou a se arrastar no mar, a míseros seis nós de velocidade, quando tinha capacidade de navegar três vezes mais rápido do que isso, em velocidade de cruzeiro. Além disso, para escapar o mais rápido possível da crítica área da costa africana, ele chegou a navegar a 22 nós de velocidade, o que sugou sobremaneira os seus tanques.

A bordo do Windhuk, a situação dos tripulantes era angustiante. Eles não tinham comida, nem destino fixo, tampouco sabiam se o combustível daria para chegar a algum porto seguro. Gastavam os dias vendo o mar passar, lentamente, sob o casco, sem saber para onde estavam indo. Nem o comandante Brauer arriscava um palpite mais certeiro sobre para qual porto seguir. Sem muita convicção, acabou optando por rumar para Baia Blanca, na costa da Argentina.

Mas, para complicar ainda mais as coisas, foi informado dos ataques que o couraçado alemão Graf Spee vinha sofrendo na região e resolveu evitá-la. Foi quando o porto de Santos, na costa brasileira, surgiu como a melhor opção.

O Brasil ainda não havia entrado na guerra e, portanto, era seguro para um navio alemão. Ainda assim, Brauer tomou uma precaução: mandou camuflar o Windhuk com outro nome, outra bandeira e até outra cor no casco, que deixou de ser cinza e virou preto. A pintura, feita com latas de tinta que restavam no porão, aconteceu em pleno mar, durante a própria navegação, e foi uma arriscada epopéia que durou vários dias. Os marinheiros ficavam dependurados sobre a água, com o navio em movimento. Quem caísse estaria perdido, porque o comandante avisara que não haveria como manobrar o navio. Por sorte, ninguém caiu.

O novo nome e a nova “nacionalidade” do Windhuk foi escolhida ao acaso. Como havia alguns asiáticos trabalhando na lavanderia do navio, Brauer optou pelo nome de um navio japonês que costumava visitar o porto para o qual estavam indo, o Santos Maru, e mandou que os tripulantes orientais o escrevessem num pedaço de papel, para ser copiado no casco – bem como a confecção de uma bandeira, algo fácil no caso da japonesa, que se resume a uma bola vermelha sobre fundo branco.

E assim foi feito. Só que os tripulantes eram chineses, não japoneses, e o novo nome do Windhuk acabou escrito com caracteres errados.

Mas ninguém percebeu o erro. Nem mesmo os práticos do porto de Santos, que, ao verem o navio chegando, estranharam apenas o fato de o verdadeiro Santos Maru ter voltado tão rápido, já que havia partido dali dias antes. E, ainda por cima, voltou com duas chaminés em vez de apenas uma.

A confusão foi esclarecida, entre risos e tapinhas nas costas, assim que os funcionários do porto subiram a bordo e deram de cara com uma tripulação de alemães de olhos azuis e não japoneses de olhos puxados. Mas, como o Brasil ainda nada nutria contra a Alemanha, nada aconteceu com eles. Apenas o navio ficou retido, como era praxe nos tempos de guerra. Era o dia 7 de dezembro de 1939 – data que, até hoje, é comemorada pelos descendentes daqueles mais de 200 alemães, que nunca mais quiseram sair do Brasil.

Para os 244 tripulantes do Windhuk, a nova e tranquila vida em Santos passou a ser uma espécie de recompensa pelas privações e temores que passaram durante aquela longa e tensa viagem. Eles ganharam a liberdade de fazer o que bem quisessem, desde que não saíssem do munícipio. Inclusive deixar o navio e ir morar na cidade. Alguns começaram a namorar garotas. Outros se casaram, como os tripulantes Hildegard e August Braak, cuja cerimônia aconteceu no próprio navio e com a presença até do prefeito.

Para os moradores de Santos, aquele grupo de alemães boas-praças nada tinha a ver com as notícias ruins que chegavam da Europa. E não tinham mesmo, porque não passavam de pacíficos marinheiros transformados em vítimas indiretas da guerra. Eles ficaram na cidade por mais de dois anos, em total harmonia com os brasileiros.

A situação só começou a mudar em janeiro de 1942, quando, em resposta ao afundamento de navios brasileiros na costa do Nordeste, o Brasil decretou guerra aos países do Eixo. Imediatamente, todos os tripulantes do Windhuk foram presos, na mesma cidade onde já se sentiam em casa.

Contribuiu também para isso o gesto patriótico de alguns deles, a começar pelo comandante Brauer, de sabotar o próprio navio no porto de Santos. Quando ficaram sabendo que o Windhuk seria confiscado e vendido aos americanos, então já em guerra contra a Alemanha, eles trouxeram sacos de areia, pedra e cimento para dentro do navio e atiraram dentro do seu maquinário, que ficou inutilizado. O objetivo era que o Windhuk não pudesse mais navegar e assim não saísse do Brasil. Mas não foi o que aconteceu.

Rebocado, o navio acabou sendo levado para os Estados Unidos, onde foi recuperado e convertido em navio de combate. Já o destino dos seus tripulantes foi ainda mais improvável.

Depois de passarem uma temporada na Casa de Detenção de Imigrantes, em São Paulo (eles eram tão numerosos que não cabiam na pequena cadeia de Santos), acabaram se transformando nos primeiros ocupantes dos campos de concentração em território brasileiro, aqui chamados de “campos de internação”. E para onde, depois, também foram levados italianos e japoneses.

A bordo de um trem lacrado e com a patética escolta de soldados fortemente armados, os pacatos tripulantes alemães foram divididos em grupos e mandados para cinco destes campos, todos no interior do estado de São Paulo: Bauru, Ribeirão Preto, Pirassununga, Guaratinguetá e Pindamonhangaba, este o maior do gênero no país. Neles, no entanto, a despeito do trabalho por vezes forçado, seguiram gozando quase a mesma liberdade de antes, já que não representavam perigo algum ao país.

No campo de concentração de Pindamonhangaba, em clima de total camaradagem com os guardas, os marinheiros alemães receberam autorização para construir suas próprias casas, criaram galinhas, ordenharam vacas, jogavam futebol contra times que vinham de fora, assavam pães para vender aos visitantes e até saiam para fazer compras na cidade – ocasião em que chegavam a dividir rodadas de cerveja com os próprios guardas que os vigiavam. Também os músicos da orquestra do navio eram frequentemente convidados para tocar em festas na cidade, e os cozinheiros do Windhuk passaram a preparar jantares sofisticados para os oficiais do próprio campo. De presidiários, eles nada tinham.

Na maior parte do tempo, a vida era tão agradável nos campos de internação que o mesmo casal Hildegard e August, que havia se casado quando o Windhuk estava atracado no porto de Santos, resolveu ter um filho ali mesmo. Nasceu assim Carl Braak, o único brasileiro que veio ao mundo dentro de um campo de concentração.

Hoje, ele é o principal convidado nos encontros anuais que os descendentes dos tripulantes do Windhuk, já que todos já morreram, organizam em um restaurante de São Paulo, que não por acaso leva o mesmo nome do navio, sempre no dia 7 de dezembro, data que ele chegou ao Brasil. O último tripulante morreu em 2015.

Nos campos de internação, onde viveram por mais de três anos, os marinheiros do Windhuk se habituaram ainda mais com a vida no país. Quando a guerra terminou, em 1945, o governo brasileiro, sem saber o que fazer com aquele incômodo grupo, deu a eles duas opções: voltar para a Alemanha, arrasada pela guerra, ou ficar de vez no Brasil, com direito a cidadania. Praticamente todos escolheram a segunda opção. Apesar do sotaque carregado, já eram brasileiros de coração.

Em seguida, eles se espalharam por cidades de São Paulo, Santa Catarina Minas Gerais e Rio de Janeiro, e foram trabalhar em diversas áreas. Um deles, chegou a vice-presidência da Coca-Cola no Brasil. Já Hildegard, mãe de Carl, tornou-se uma das maiores especialistas do país em ortóptica, uma área da oftalmologia que trata de desvios oculares. Muitos, porém, preferiram subir a serra que brotava aos pés do campo de internação de Pindamonhangaba e foram trabalhar, como cozinheiros, no recém-criado Grande Hotel de Campos do Jordão, cidade que, até então, era apenas um centro de tratamento para tuberculosos.

Com a experiência culinária que tinham do navio, os alemães do Windhuk transformaram aquele hotel em um centro de excelência gastronômica e foram praticamente os responsáveis por implantar as bases do que viria a ser a estância turística de Campos do Jordão nos dias de hoje. Outro tripulante, porém, preferiu abrir um bar em São Paulo, batizá-lo com o nome do navio, e passar a reunir os antigos companheiros para relembrar as histórias do passado – o precursor do restaurante Windhuk, onde os seus descendentes se encontram até hoje.

Já o navio deixou de existir há muito tempo. Depois de servir nas guerras do Vietnã e da Coréia, sob bandeira americana e com o nome USS Le Jeune, o ex-Windhuk acabou seus dias num ferro-velho asiático. Mas o seu sino foi preservado e ainda toca, todos os dias, em um quartel de treinamento do exército americano, na Califórnia, onde, no entanto, quase ninguém sabe que o navio de onde ele veio acabou decidindo o improvável destino de mais de 200 alemães, durante a guerra.

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Eles moram num barco há praticamente 20 anos. E só veem vantagens nisso

Eles moram num barco há praticamente 20 anos. E só veem vantagens nisso

20 anos atrás, o casal Hélio Viana e Mara Blumer decidiu mudar radicalmente de vida. Um se aposentou e o outro pediu demissão do emprego de analista de sistemas, alugaram o apartamento onde viviam no Rio de Janeiro, se desfizeram de praticamente tudo o que tinham e foram morar no pequeno veleiro que eles mesmo haviam acabado de construir. Coisa de rico? Nada disso. Até porque, dinheiro é algo que eles nunca tiveram sobrando. Mas, desde então, garantem que vivem bem melhor do que antes, e com muito menos dinheiro.

A decisão de trocar o apartamento por um barco e a vida na cidade por uma vaga numa marina foi acalentada durante os muitos meses que os dois levaram construindo o pequeno barco, de pouco mais de oito metros de comprimento, com a ajuda de amigos. Até que o casal se encheu de coragem e resolveu experimentar viver nele, 20 anos atrás. “Nós teríamos que esperar até quando para mudar de vida?”, recorda Hélio. “Quando não pudéssemos mais aproveitá-la direito?”.

Até hoje, Mara e Hélio não se arrependem da escolha – embora, atualmente, dividam o tempo entre o barco e um minúsculo apartamento bem em frente a ele, na Marina Bracuhy, em Angra dos Reis, onde o casal vive desde que resolveu virar a própria mesa. “Diminuímos o padrão de vida, mas aumentamos infinitamente a qualidade da vida que passamos a ter”, recorda o casal sobre a decisão tomada duas décadas atrás, embora ela não tenha sido motivada pela vontade de ganhar o mundo viajando com um barco, como acontece na maioria desses casos.

“Gostamos de navegar, mas sempre passamos mais de 90% do tempo com o barco parado na marina, porque nossa proposta nunca foi sair velejando pelo mundo, já que isso exigiria um veleiro maior e mais recursos”, explica Hélio, hoje com 61 anos. “Para nós, o barco sempre foi, acima de tudo, a nossa casa, o lugar onde morávamos – e bem”, completa Mara, atualmente com 63 anos.

“E não foi só o tamanho da ´casa` que diminui”, ela prossegue. “Num barco, você muda as necessidades e logo aprende a viver com muito menos do que qualquer casal de classe média numa grande cidade, porque se você não tem grandes contas para pagar, não precisa de muito dinheiro para viver, além de se divertir muito mais”, completa Mara.

Mara e Hélio são casados há 37 anos e, embora tenham passado praticamente os últimos 20 vivendo sem terra firme debaixo dos pés, não se arrependem nem um pouco disso. O barco deles, de 29 pés, tem apenas pouco mais de 25 m2 de área, dividido entre a cabine, com um quarto com cama (triangular) de casal, uma saleta conjugada com a cozinha e um micro-banheiro, e o convés, do lado de fora – “o nosso quintal” eles brincam.

Mas Mara e Hélio se habituaram a viver com pouco espaço, tanto que o apartamento onde hoje passam parte do tempo, na própria marina, bem em frente ao barco, não é tão maior assim do que ele. “A gente, hoje, fica alternando entre o barco e o apartamento. Mas não passamos um dia sem ficar um bom tempo no veleiro, porque a sensação de estar sobre a água, mesmo parado na marina, é bem relaxante”, diz o casal, que, de vez em quando, também sai para passear com o seu barco-casa, pelas ilhas de Angra. “Às vezes, até passamos alguns dias fora, para visitar os amigos que também moram em barcos”, acrescenta Hélio. “O bom de morar num barco é que, quando você sai, leva a casa inteira junto”, brinca. “Todo mundo acha que viver num barco custa caro, mas é justamente o contrário”, ele garante.

Apesar do orçamento modesto e do barco acanhado, Mara e Hélio, há 20 anos, personificam o sonho de muita gente: o de viver no mar. Os dois também foram quase precursores no Brasil desta forma de vida e têm inspirado muitos outros casais a fazerem o mesmo. “Nós somos uma boa prova de que isso é perfeitamente possível”, diz Mara.

Foto: Douglas Roquete

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A lagosta que quase levou o Brasil à guerra contra a França

A lagosta que quase levou o Brasil à guerra contra a França

Na década de 1960, a pesca da lagosta no litoral do Nordeste brasileiro gerou uma séria crise diplomática entre Brasil e França e quase culminou em ações bélicas entre os dois países, no que ficou conhecido como a Guerra da Lagosta – que, de guerra mesmo, felizmente, não teve nada.

Tudo começou quando barcos lagosteiros franceses passaram a frequentar o litoral de Pernambuco em busca do cobiçado crustáceo, amparados por autorizações concedidas pelo governo brasileiro para realizar “pesquisas pesqueiras” no nosso litoral. Mas, ao constatar que os barcos estavam apenas capturando lagostas com fins comerciais, a licença foi cancelada.

Os barcos franceses, no entanto, não desistiram da empreitada e um deles foi apreendido pela corveta brasileira Ipiranga, deflagrando o conflito.

No auge da crise, a França chegou a enviar um navio de guerra para as proximidades da costa do Nordeste, com a tarefa de proteger os pesqueiros franceses. Já o Brasil respondeu mandando vários barcos e aviões para a região.

As discussões diplomáticas duraram meses, até que, em 10 de março de 1963, a França concordou em retirar o seu navio das águas brasileiras, bem como os pesqueiros que vinham sendo protegidos por ele. E o Brasil pode, finalmente, dizer que vencera a “Guerra da Lagosta”.

Como consequência deste episódio, um ano depois, o Brasil estendeu os limites do seu mar territorial de 12 para 200 milhas da costa, acabando assim com eventuais pendengas futuras sobre a fatia do mar que lhe pertencia.

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Um ano depois, bolinhas de Natal ainda chegam às praias do litoral paulista

Um ano depois, bolinhas de Natal ainda chegam às praias do litoral paulista

Mais de um ano depois de o navio Log In Pantanal ter lançado no mar da baía de Santos 46 containers, durante uma violenta ressaca, parte das mercadorias que ele transportava ainda seguem surgindo nas praias do Litoral Norte de São Paulo, a mais de 100 quilômetros do local do acidente. E num ritmo que não para.

Praticamente todos os dias, funcionários do Instituto Argonauta, órgão de conservação costeira criado 20 anos atrás pelo Aquário de Ubatuba, recolhem coloridas bolinhas de árvore de Natal que vão dar nas praias monitoradas pelo órgão, entre São Sebastião e Ubatuba. E isso 15 meses após o episódio.

As bolinhas de Natal, que seguem chegando às praias do Litoral Norte paulista ao ritmo de uma ou duas por dia, recheavam um dos 28 contêineres que afundaram na madrugada de 11 de agosto do ano passado e que até hoje não foram encontrados, no fundo do mar. “O container das bolinhas nunca foi achado, mas o que ele continha aparece todos os dias nas praias da nossa região”, diz o diretor do Instituto Argonauta, o oceanógrafo Hugo Gallo. “Isso prova que ainda há lixo vagando no mar desde aquela época”, completa.

O acidente com a carga do Log In Pantanal gerou multa de quase R$ 50 milhões a armadora do navio, um processo de negligência contra alguns tripulantes e uma gigantesca operação de resgate dos contêineres perdidos no mar, que se estendeu até março deste ano. Mesmo assim, apenas 18 deles foram localizados e resgatados. Os demais, incluindo o que estava cheio de bolinhas de Natal, foram dados como “perdidos” e só voltarão a ser procurados caso surjam evidências de onde eles possam estar, no fundo do mar.

Agora, no entanto, as próprias bolinhas que seguem boiando no mar podem ajudar na localização do contêiner do qual elas saíram – e, por conseguinte, indicar com mais precisão a região onde poderiam estar os demais contêineres, que, após a queda, se dispersaram na região. “Através das correntes marítimas predominantes, estamos traçando a rota que as bolinhas fizeram até chegar às praias do Litoral Norte de São Paulo, só que ao contrário, num processo chamado de backtracking”, ou rastreamento inverso”, explica Gallo.

“Ainda dependemos de algumas informações que virão da região Sul do litoral paulista, mas se o rastreamento inverso der certo, as próprias bolinhas poderão ajudar a encontrar, ao menos, o contêiner de onde elas saíram”, torce o pesquisador, que há mais de duas décadas trabalha para combater o lixo marinho, através de ações permanentes do instituto que dirige.

“O que chama a nossa atenção é que algumas bolinhas estão chegando às praias em bom estado, sem limo nem resíduos marinhos incrustados, sinal de que não ficaram tanto tempo assim boiando no mar, e isso pode significar que elas ainda estão vazando de dentro do contêiner, aos poucos”, explica Gallo. “Mas não dá para simplesmente seguir o rastro das bolinhas no mar, como quem deixa pedrinhas na trilha para indicar o caminho”, brinca.

No ano passado, para chamar a atenção das pessoas para a questão do lixo marinho e estimulados pelas próprias bolinhas que não paravam de chegar às praias da região, o Instituto Argonauta montou uma curiosa árvore de Natal, na Praça da Baleia, em Ubatuba, decorada apenas com materiais que recolheu no mar, muitos deles oriundos do mesmo navio acidentado, como mochilas, escovas de dente e tampas de vaso sanitário, “Este ano, vamos repetir a dose”, diz Gallo. “Até porque as bolinhas continuam chegando”.

Foto: Instituto Argonauta

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O casal que trocou a casa por um barco e foi viver no mar

O casal que trocou a casa por um barco e foi viver no mar

Cinco anos atrás, o gaúcho Adriano Plotzki, de 38 anos, foi passar um fim de semana com a mulher, a paulista Aline Sena, na Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro, quando viu uma cena que mudaria sua vida para sempre.

Ao nadar entre os barcos ancorados numa das praias, ele viu uma família fazendo churrasco a bordo de um veleiro, algo que nunca havia passado pela cabeça daquele gaúcho de Bagé, até então um pacato dono de uma produtora de vídeos em São Paulo e com uma vida estável e confortável.

“Fazer churrasco num barco e numa paisagem daquelas. Era isso que eu queria para a minha vida!”, concluiu Adriano, que, na mesma semana, tratou de se matricular em uma escola de vela. “Eu nem sabia velejar, mas, desde então, viver a bordo de um veleiro passou a ser o meu objetivo de vida. E também da Aline, que aprendeu junto”, recorda.

Hoje, depois de passarem dois anos se adaptando gradualmente a vida no mar, alternando períodos entre São Paulo e Paraty, os dois já moram exclusivamente num barco, o veleiro Balanço, de 36 pés, que compraram, usado, por cerca de 120 mil reais, depois de venderem os dois carros e todos os móveis que possuíam na casa alugada onde viviam.

“Nossa maior surpresa foi descobrir que ter um pequeno veleiro e viver dentro dele custa bem menos do que as pessoas imaginam”, conta Adriano, que agora, junto com a mulher, se prepara para o início, de fato, de uma nova vida: o casal vai navegar por toda a costa brasileira, “o mais lentamente possível e parando onde der vontade, pelo tempo que a gente quiser”, numa viagem que não tem roteiro nem data para terminar.

“Não é bem uma viagem” corrige Adriano. “É o início de um novo tipo de vida, onde o que realmente importa é viver a vida, ainda que com simplicidade e pouquíssimas despesas”, diz Adriano, que desde que decidiu trocar a confortável casa de 400 metros quadrados onde o casal morava, num condomínio em São Paulo, por um barquinho de quarto, sala, cozinha, banheiro e mais nada, trocou, também, de trabalho.

Ele fechou a produtora de vídeos que tinha e, junto com a mulher, que também largou o trabalho de produção numa emissora de televisão, criou um canal no Youtube, chamado Hashtag Sal (#Sal), dedicado exclusivamente às pessoas que, assim como eles, renunciaram à agitação da vida urbana para ir viver num barco. “Hoje, nossa casa é pequena, mas quando enjoamos da paisagem ou dos vizinhos é só levá-la para outro lugar”, diz, feliz da vida com a nova vida que o casal escolheu para viver. “Nosso endereço não tem mais CEP”, brinca.

Para se manter, o casal vive com o dinheiro que recebe através de um site de vaquinha virtual na internet, sistema conhecido como crowdfunding. “Temos mais de 450 colaboradores, que fazem contribuições para que a nossa websérie sobre a vida a bordo de um barco não pare”, explica Adriano, que, por conta disso, junto com Aline, nunca para de trabalhar – mas de dentro do próprio barco.

“Estamos sempre gravando ou editando os vídeos que fazemos, o que consome um bom tempo”, diz ele. “Mas preferimos fazer isso quando o tempo está feio ou chovendo, porque, se o dia estiver bonito, vale mais a pena aproveitar a vida do que ganhar dinheiro”, raciocina. “Hoje, nosso maior valor não é possuir bens, mas ter tempo para viver a vida”, completa o casal, que, para isso, teve que desapegar de tudo o que tinham. “Mas a gente logo percebeu que tinha muito mais do que precisava para viver e é justamente isso o que estamos praticando agora”.

E conclui o casal: “Não estamos preocupados sobre quanto tempo nossa experiência de morar num barco irá durar, mas sim em viver bem até lá”.

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