por Jorge de Souza | jul 23, 2021
Poucas coisas mexem tanto com a imaginação das pessoas quanto à caça a um tesouro.
Todo mundo sonha com isso.
Mas, no mar, este sonho é perfeitamente possível de se realizar – porque, como as riquezas do passado eram transportadas em barcos, que não raro afundavam, é certo que muitos deles persistem até hoje nas profundezas.
Raríssimas pessoas, no entanto, já encontraram um tesouro de verdade.
O americano Mel Fisher foi um deles.
Em 1985, após 16 anos de uma obstinada busca quase que diária nas águas rasas da região das Keys, minúsculas ilhas e bancos de areias no extremo sul da Flórida, nos Estados Unidos, Fisher finalmente encontrou o que tanto procurava: os restos do naufrágio do galeão espanhol Nuestra Señora de Atocha, ocorrido exatos 363 anos antes.
Foi um acontecimento histórico – e um dos mais fabulosos tesouros náuticos oficialmente encontrados.
Mas Fisher não teve como manter em sigilo o seu achado.
Até porque ele se revelou-bem maior do que o esperado.
Só em lingotes e moedas de ouro e prata, além de esmeraldas e outras preciosidades, estimou-se que aquele achado valia cerca de 400 milhões de dólares.
Uma dinheirama que despertou a cobiça do próprio governo da Flórida, que acionou a Justiça, alegando ter direitos sobre o tesouro, já que ele estava nas águas do estado.
Mas não conseguiu.
Fisher ganhou a causa e, uma vez milionário, tomou duas atitudes: passou a se dedicar com afinco à arqueologia submarina (atividade que o fez passar a dar tanto valor a um simples pote de barro quanto a uma moeda de ouro) e abriu um museu sobre tesouro recuperado do Atocha na pequena cidade de Key West, a pouca distância de onde o galeão foi encontrado.
A história do tesouro do Atocha remonta ao século 17, quando as minas de ouro e prata das Américas faziam enriquecer a corte espanhola.
De Potosi, na Bolívia, saiam fortunas, por terra, até o México, onde eram embarcadas para Cuba. E, de lá, para a Espanha.
No final de agosto de 1622, uma grande frota com oito galeões escoltados por outros barcos, para combater os piratas, partiu de Havana, levando um novo carregamento de ouro e prata para a Europa.
O barco-líder da flotilha era o galeão Nuestra Señora de Atocha, com 250 tripulantes e muitas toneladas de preciosidades a bordo.
Mas a viagem começou bem atrasada.
Quando a flotilha partiu de Cuba, no início de setembro, a temporada de furacões do Caribe já havia começado.
Como consequência, dias depois, quando a flotilha navegava nas proximidades da ponta da atual Flórida, um furacão atingiu a região e dois galeões naufragaram: o Santa Margarita e o próprio Atocha.
Os sobreviventes retornaram a Cuba nos galeões que restaram e contaram o ocorrido, fazendo com que os espanhóis enviassem equipes para recuperar os tesouros.
Mas eles não localizaram os dois naufrágios.
Começava a saga em busca dos milionários restos do Atocha.
Trezentos e cinquenta anos depois, Mel Fisher, um ex-criador de galinhas, passou a se interessar por resgate de naufrágios.
Em especial, pelo tesouro do Atocha, que estava vagamente registrado em velhos livros, que ele gostava de pesquisar.
Só que ninguém sabia onde o galeão repousava – apenas que ele estava em algum ponto do fundo do mar da Flórida.
Por conta própria, Fisher passou a vasculhar a região.
Teve sorte e logo encontrou um velho galeão, que não continha tesouro algum, mas lhe rendeu algum dinheiro, com objetos históricos.
Com o que ganhou, ele montou uma empresa profissional de salvatagem e contratou um historiador, Eugene Lyon, para decifrar velhos manuscritos espanhóis.
Seu objetivo era um só: encontrar o Atocha.
Nos Arquivos das Índias, em Sevilha, na Espanha, o historiador Lyon achou um texto de 1626 que versava sobre as tentativas de localização do galeão Santa Margarita, que afundara junto com o Atocha.
E lá estava uma pista: o documento citava um certo “Cayo Marquesas”, um banco de areia que existe até hoje na região das atuais Florida Keys.
Fisher partiu para lá, com sua equipe.
Mas um equívoco na tradução do espanhol arcaico, a princípio não detectado pelo pesquisador, fez Fisher começar as buscas no lado errado do banco de areia, a Leste e não a Oeste, como seria o correto.
O engano custou anos de trabalho em vão para o mergulhador.
Até que o próprio Lyon descobriu a confusão e avisou Fisher.
Ao mudar de localização, as buscas começaram a surtir efeito.
E vestígios foram aparecendo.
Só que, em seguida, aconteceu uma tragédia: dias depois de descobrir um canhão submerso, prova cabal de ali havia um antigo naufrágio, o filho de Fisher, a mulher dele e outro mergulhador morreram afogados, quando um dos barcos da empresa virou no mar, durante os trabalhos de prospecção da área.
Fisher ficou muito abalado com a perda do filho, mas nem assim perdeu o entusiasmo em encontrar o galeão que tanto sonhava.
Antes de cada novo mergulho, sempre reunia a equipe e dizia a mesma frase: “Hoje é o dia!”.
Até que, um dia, ele acertou.
Mas isso só aconteceu dez longos anos após começar a procurar o Atocha no lado certo do banco de areia.
Era 20 de julho de 1985 quando o Atocha foi, finalmente, descoberto — após 16 anos de buscas.
O galeão estava destruído, mas seu tesouro, intacto.
Sobretudo o ouro, a prata e as esmeraldas.
Foi o maior achado do gênero na época e tornou o museu onde hoje está a mostra uma parte do que foi encontrado, uma das maiores atrações turísticas do sul da Florida.
Mel Fisher morreu em 1998, aos 76 anos, rico e famoso por ter sido um dos mais perseverantes caçadores de tesouros náuticos de todos os tempos.
Mas as buscas ao restante do tesouro do Nuestra Señora de Atocha seguem até hoje.
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André Cavallari, leitor
por Jorge de Souza | jul 20, 2021
Quando, em 2008, o casal de velejadores alemães Claudia e Manfred Fritz Bajorat resolveu se separar, cada um tomou um rumo diferente.
Claudia desembarcou na ilha Martinica e ali ficou, até 2010, quando morreu.
Já Manfred, desgostoso pela perda da companheira, tomou, sozinho, o rumo do mar e, desde 2009, nunca mais foi visto.
Até que, sete anos depois, em 31 de janeiro de 2016, seu veleiro, o Sayo, foi avistado, à deriva e sem mastro, boiando no meio do Pacífico, pela tripulação do barco de competição Lmax Exchange, que participava da regata de volta ao mundo Clipper 2015-2016.
Intrigados com aquele barco avariado e aparentemente abandonado no oceano, a tripulação do Lmax Exchange deu meia volta e resolveu investigar.
Um dos tripulantes mergulhou e foi nadando até o misterioso barco, que, a princípio, pareceu não ter ninguém a bordo.
Mas, ao olhar para dentro da cabine, o que ele viu o deixou perplexo: sentado com o tronco apoiado sobre a mesa de navegação, e o bocal do rádio em uma das mãos, jazia o corpo de Manfred.
E completamente mumificado, sinal de que havia morrido muito tempo antes.
A cena, gravada pelo tripulante que abordou o barco, chocou a tripulação do Lmax Exchange.
Mas, depois de avisar os organizadores da regata (que preferiram não tornar pública a descoberta para não macular a imagem da competição, embora tenham avisado a guarda-costeira americana, já que o Soya boiava a não muita distância da ilha de Guam), o veleiro voltou à prova e deixou o caso nas mãos da polícia.
Que, no entanto, nada fez.
Só um mês depois, o Soya e seu mórbido ocupante foram avistados novamente, desta vez no mar das Filipinas, a muitas milhas do primeiro encontro, por um grupo de pescadores, que redescobriram o corpo petrificado (e incrivelmente bem conservado) do alemão dentro do barco.
E só então o raro caso de mumificação espontânea no mar foi divulgado.
Embora raríssima, a auto-mumificação do corpo do alemão, cuja autópsia revelou morte quase instantânea por ataque cardíaco (estaria ele tentando pedir socorro pelo rádio quando foi fulminado?), teve uma explicação científica: a alta salinidade no interior do barco, que vagava no oceano sabe-se lá há quanto tempo, e o ar excepcionalmente seco no período posterior a morte do alemão teriam conservado o seu cadáver em perfeito estado.
Um cenário pra lá de macabro, mas que mostrou que, apesar de toda a sua água, o mar é capaz de produzir até múmias petrificadas.
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por Jorge de Souza | jul 8, 2021
Os Grandes Lagos são como uma espécie de mar interior, na fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá.
São enormes e frequentemente açoitados por ventos fortes, que erguem vagas inimagináveis para um lago.
Pois foi nesse ambiente muitas vezes hostil que, em junho de 1864, afundou o Alvin Clark, então a maior escuna cargueira da região, depois de tombar durante uma tempestade, bem próximo da margem, na divisa entre os estados americanos de Michigan e Wisconsin.
Dos seus cinco tripulantes (bem menos que o habitual, já que o barco estava retornando de uma viagem e sem carga), três desapareceram nas águas doces e frias dos Grandes Lagos.
Entre eles, o seu comandante.
Foram, no entanto, estas duas características (o frio e a ausência de sal na água) que mantiveram o Alvin Clark perfeitamente conservado no fundo do lago por mais de um século.
Até que, em novembro de 1967, 103 anos após o seu naufrágio, um pescador teve sua rede enganchada em algo no fundo do lago e chamou o mergulhador Frank Hoffmann para soltá-la.
Hoffmann mergulhou e o que descobriu, 30 metros abaixo da superfície, foi uma preciosidade: o enorme casco de madeira da Alvin Clark ainda em perfeito estado, mesmo após tantos anos debaixo d ´água.
Até os dois mastros ainda estavam em pé, como se o barco estivesse na superfície.
Mais tarde, era exatamente isso o que aquele histórico barco voltaria a fazer.
Entusiasmado com o achado, Hoffmann decidiu resgatar a Alvin Clark do fundo do lago.
Nos anos seguintes, fez mais de 3 000 mergulhos no local, e, com a ajuda de amigos, removeu toneladas de lama que prendiam o casco, além de cavar valas por baixo dele, a fim de passar correntes que permitiriam trazer o barco de volta à superfície.
E assim foi feito.
Com pleno sucesso.
Em 1969, o Alvin Clark saiu inteiro do fundo do lago, mais de um século depois de ter afundado.
Um feito e tanto.
O objetivo de Hoffmann era claro: ganhar dinheiro exibindo o barco, nas margens do lago, como uma espécie de museu vivo.
Mas o sonho de fazer fortuna com isso durou pouco.
Passada a novidade, logo os visitantes começaram a minguar, o movimento tornou-se bem menor que o esperado e os parcos recursos auferidos com a venda de ingressos não foram suficientes para garantir a preservação do barco, inadequadamente mantido a céu aberto, sem maiores cuidados.
Em contato direto com o ar, os ventos e as chuvas, o Alvin Clark começou a definhar e apodrecer rapidamente, o que qualquer estagiário em arqueologia sabia que iria acontecer.
Menos Hoffmann.
Desolado, ele passou a beber.
Certo dia, bêbado e com raiva, chegou a tentar colocar fogo no barco, mas foi contido a tempo.
Depois, endividado, vendeu a área onde ficava o Alvin Clark para um empreendedor imobiliário, que, no entanto, só queria saber do terreno na beira do lago.
Para o comprador, aqueles restos de um velho barco na margem não passavam de um estorvo na paisagem e precisavam ser retirados.
E foi o que ele mandou fazer.
O que restava do pobre barco foi destruído por guindastes, a fim de liberar a área.
25 anos depois de voltar à vida, o Alvin Clark morreu de vez, vítima da então falta de legislação para a preservação de naufrágios, o que só passou a existir nos Estados Unidos após aquele episódio e a morte do próprio Hoffmann.
Foi um triste aprendizado.
Se tivesse permanecido submerso ou enviado a um museu especializado, o Alvin Clark hoje seria uma das maiores atrações da arqueologia submarina americana.
Mas acabou aos pedaços, soterrado por uma insólita terraplenagem.
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por Jorge de Souza | jul 6, 2021
Em dezembro de 2018, o nadador francês naturalizado americano Ben Lecomte, então com 51 anos, e que já tinha no currículo outras façanhas incríveis, como a travessia do Atlântico também a nado, em 1998, precisou desistir da inédita travessia que vinha fazendo do Oceano Pacífico a nado por um problema que não teve nada a ver com sua capacidade para encarar aquele desafio monumental: seu barco de apoio quebrou e a travessia teve que ser abortada quando ele já havia cumprido dois terços do caminho e se aproximava do Havaí.
Na ocasião, apesar da decepção, o supernadador não saiu da água totalmente frustrado, porque um novo projeto brotara em sua mente, justamente enquanto ele nadava: voltar a nadar no Pacífico, mas numa área específica, a da maior concentração de lixo plástico do mundo, que fica entre o Havaí e a Califórnia, em uma extensão de mais de 500 quilômetros.
“Enquanto eu nadava, vi tanto lixo e plástico no mar que conclui que a melhor maneira de ajudar a chamar a atenção das pessoas para a gravidade dos problemas seria nadar no maior lixão dos mares do planeta”, disse o nadador, na ocasião.
E foi isso o que ele fez.
Em 14 de junho do ano seguinte, 2019, Lecomte partiu do mesmo ponto onde terminou precipitadamente sua épica jornada anterior, para atravessar, a nado, a área que é tida como a de maior concentração de lixo e resíduos plásticos dos oceanos.
O objetivo era sentir o problema, literalmente, na pele.
“Na travessia do Pacífico, eu cansei de esbarrar em peças plásticas na superfície e ver grandes emaranhados de redes de pesca abandonados no meio do mar e foi isso que quis tentar mensurar na prática”, disse Lecomte antes de começar sua bisonha travessia, que foi acompanhada de perto por um barco de apoio, com dez voluntários e pesquisadores a bordo, onde ele descansava após os turnos de horas e mais horas seguidas no mar, nadando.
“Nossa missão não era recolher o lixo, porque para isso seriam necessários navios, mas sim ter uma ideia prática do problema, através de medições da quantidade de micropartículas de plásticos a cada captura que fazemos com uma espécie de rede que levamos no barco”, explicou o nadador.
Entre outros itens absurdos, Lecomte encontrou escovas de dente e tampas de privada no meio do oceano, incontáveis tampinhas de garrafas, um cesto de lavanderia coberto de cracas (sinal de que estava no mar há anos), diversas boias marítimas desgarradas e uma inacreditável quantidade de redes de pesca abandonadas no mar, as chamadas “redes fantasmas”, que mesmo fora de uso continuam capturando e matando peixes e demais seres marinhos que nelas se enroscam.
A equipe também capturou um peixe da espécie dourado, que, ao ser aberto, revelou inúmeros pedacinhos de plástico no estômago – este o maior problema da questão do lixo plástico nos mares, porque os microplásticos são engolidos pelos peixes e tartarugas, que os confundem com comida.
“As peças maiores, como sacolas plásticas e garrafas pets, costumam chocar mais as pessoas, mas são as minúsculas partículas do plástico que já se decompôs na água que representam o verdadeiro risco para a fauna marinha”, explicou na ocasião o supernadador.
Logo no primeiro dia, quando Lecomte ainda nadava em águas havaianas, ele encontrou uma grande rede de pesca abandonada no mar, e a captura de amostra da água revelou 95 partículas de microplásticos em apenas meia hora de coleta – número que, depois, subiria para mais de 500 partículas, na parte mais crítica do chamado “Lixão do Pacífico”.
Segundo pesquisadores, a cada ano, oito milhões de toneladas de lixo plástico vão parar no Oceano Pacífico, levados, sobretudo, pelos rios que nele deságuam.
Mas o que é visto boiando na superfície representa apenas 1% disso.
“99% dos resíduos plásticos que poluem os mares estão submersos ou transformados em micropartículas. O que vemos na superfície é só a pontinha do iceberg”, diz o cientista ambiental Markus Eriksen.
Mesmo assim, o pesquisador é otimista.
“Ainda dá tempo de fazer algo e reverter este quadro. Mas é preciso agir rápido e convencer as pessoas de todo o planeta de que sempre que elas descartam lixo fora dos locais apropriados, ele vai parar no mar, levado pelas enchentes, pelas tubulações e pelos rios. Este hábito precisa mudar”.
Os mais pessimistas, no entanto, veem a questão com outros olhos, bem mais alarmantes.
Segundo eles, em 2050 (portanto, daqui há apenas 29 anos), haverá mais plásticos do que peixes nos oceanos, o que não deixa de ser um exagero.
Mas foi quase isso que o nadador francês encontrou em certos pontos da sua travessia, onde a concentração de lixo era maior que a de cardumes.
“Em certas partes, o mar parecia uma sopa de resíduos plásticos, que não dissolvem tão rápido quanto o restante do lixo. Não passei mais de meia hora na água sem esbarrar em porcarias. E isso a mais de 1 000 quilômetros da costa”, contou o nadador.
A razão pela qual essa monumental quantidade de plástico se concentra naquele ponto específico do Pacífico tem a ver com as correntes marítimas.
Ali, diversas correntes se encontram e ficam dando voltas sem parar, no chamado Giro do Pacífico, uma espécie de corrente marítima circular.
Por conta dessa característica, aquela parte do Pacífico virou uma espécie de gigantesco redemoinho, concentrando a maior parte da sujeira do oceano, sobretudo o plástico, que leva décadas para começar a se degradar na água.
Uma garrafa de plástico lançada ao mar na costa da Califórnia irá chegar ao litoral do Japão, do outro lado do Pacífico, num prazo estimado entre três e cinco anos. E após outro período igual a esse, retornará ao mesmo ponto, dando início a um novo giro.
E assim indefinidamente.
Por ficar eternamente girando no oceano, o ciclo do lixo no Pacífico não termina nunca. E o plástico, que compõe a grande maioria dele, praticamente também não. “O plástico foi feito para desafiar a natureza”, lamenta um ambientalista da equipe de Lecomte.
Esta perversa característica das correntes marítimas da região foi descoberta, por acaso, em 1990, quando um navio deixou cair um container com 65 000 pares de tênis no meio do Pacífico.
Embora o container tenha espalhado sua carga no mar, nenhum tênis jamais chegou à costa, por conta das correntes circulares. E estão lá até hoje.
Segundo a oceanógrafa Sarak Royer, da Universidade do Havaí, plásticos que foram parar no mar quando do início da popularização deste material, na década de 1950, ainda seguem boiando no Pacífico ou (o que é ainda pior) transformados em micropartículas, com efeito letal para alguns seres marinhos.
“É como se o ar que respiramos estivesse impregnado de partículas toxicas”, comparou Lecomte, ao terminar a sua inédita e bizarra jornada, meses depois, na Califórnia.
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por Jorge de Souza | jul 2, 2021
Apesar da data, não era nenhuma brincadeira ou mentira.
Em 1º de abril de 2008, quando vasculhavam o fundo de uma antiga lagoa que secara, por conta do recuo do mar, na costa da Namíbia, litoral da África, geólogos da maior empresa de diamantes do mundo, a De Beers, encontraram algo bem mais valioso do que as pedras preciosas que buscavam.
Encontraram os restos de uma caravela portuguesa do século 16, contendo lingotes de cobre, presas de marfim e nada menos que 2 333 moedas de ouro.
E foram as moedas que permitiram identificar a nau como sendo a Bom Jesus, que partira de Lisboa em março de 1533, rumo à Índia, levando bens que seriam trocados por especiarias.
Mas a Bom Jesus, capitaneada por Francisco de Noronha e tripulada por mais 300 homens, entre marinheiros, mercadores, escravos e padres, não passou da costa africana.
Ali, pouco antes de dobrar o Cabo da Boa Esperança, uma provável tempestade atirou a nau na direção da terra firme, onde a Bom Jesus encalhou e ficou, para sempre, caprichosamente dentro dos limites do que viria a se tornar uma das maiores e mais protegidas minas de diamantes do mundo.
Uma nau cheia de moedas de ouro enterrada em uma praia repleta de diamantes, numa região que viria a ser chamada Sperrgebiet, ou “Área Probida”, em alemão, idioma predominante na Namíbia durante muito tempo – não poderia haver local mais seguro para a preservação de um tesouro histórico.
Contribuiu também para a perfeita preservação de boa parte da embarcação portuguesa, que, ao ser escavada, revelou até uma primitiva seringa de metal, usada para injetar mercúrio nos tripulantes contaminados pela sífilis, mas nenhum osso humano, o que permitiu supor que todos teriam escapado com vida, antes de sucumbirem a uma das áreas mais inóspitas da África, o fato de, ao contrário do esperado, seus restos não estarem debaixo d´água e sim soterrados sete metros na areia seca do que se tornaria, com o recuo do mar, uma extensão do grande deserto da Namíbia, que avança até o litoral.
Para os geólogos, que, com a descoberta, passaram a minerar história em vez de diamantes, foi um achado tão surpreendente quanto curioso, já que não precisaram sequer molhar os pés para encontrar a caravela Bom Jesus, cujo destino havia se perdido no grande incêndio de Lisboa, em novembro de 1755.
Em vez de mergulhar, eles apenas cavaram.
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foto: Dieter Noli/Divulgação
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