Vinte anos atrás, o mergulhador uruguaio Héctor Bado encontrou no fundo do Rio da Prata os destroços do couraçado alemão Graf Spee, afundado no início da Segunda Guerra Mundial pelo seu próprio comandante nos arredores do porto de Montevidéu, onde ele buscara abrigo...
Que fim levou o barco dos garotos?
Dois anos antes de começar a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha comprou da Bélgica um grande barco a vela, de quatro mastros, para ser usado no treinamento de jovens cadetes para a sua marinha mercante.
Batizado de Admiral Karpfanger, ele fez sua primeira viagem em setembro de 1937, entre Hamburgo e a Austrália, com uma tripulação que incluia 40 jovens aprendizes de marinheiros, com idades entre 15 e 17 anos.
O objetivo era ensiná-los rapidamente as técnicas de navegação, porque, secretamente, Hitler já planejava a invasão de países vizinhos e sabia que precisaria de muitos novos oficiais para isso.
A viagem durou quatro meses com intensos treinamentos a bordo, mas transcorreu sem nenhum incidente.
Um mês depois de chegar a Austrália, em 8 de fevereiro de 1938, o Admiral Karpfanger iniciou a travessia de volta a Europa, optando desta vez pela rota mais curta, via Pacífico Sul e Cabo Horn, no extremo sul da América do Sul, pois o objetivo era estar de volta a Alemanha antes de maio, a tempo de melhor preparar os cadetes para a guerra que se aproximava.
Mas o Admiral Karpfanger jamais chegou a lugar algum.
Desapareceu por completo, sem deixar nenhum vestígio, o que gerou uma comoção mundial por conta da jovem tripulação, a despeito da bandeira da Alemanha nazista do barco.
Jamais se soube sequer onde ele afundou nem por que.
A hipótese mais provável é que o Admiral Karpfanger tenha colidido com um bloco de gelo nos mares antárticos e naufragado sem ter como pedir socorro, porque a única coisa sabida é que o seu rádio apresentara problemas logo após partir da Austrália.
Isso ficou claro nas quatro únicas comunicações da embarcação com a base alemã em solo australiano.
A primeira aconteceu apenas três dias após a partida e comunicou que estava tudo bem a bordo.
A segunda, já repleta de chiados, foi bem mais difícil de entender.
A terceira, quase um mês depois, fez saber, com extrema dificuldade, que o barco se encontrava a cerca de 1 500 milhas ao sul da Nova Zelândia, o que indicava uma navegação bem lenta, possivelmente conta da rota escolhida, repleta de gelo e famosa pelo seu mar nada amistoso.
E o quarto e derradeiro contato pelo rádio aconteceu no dia 12 de março, quando mal deu para avisar ao segundo oficial do barco que o seu primeiro filho havia nascido, na Alemanha.
Em seguida, o rádio ficou mudo.
Foi a última vez que se teve notícias do Admiral Karpfanger.
Durante todo o mês de março, os familiares da tripulação a bordo aguardaram, ansiosos, notícias sobre o avanço da viagem.
Mas a companhia dona do barco, a Hamburg-Amerika, não deu nenhum retorno, porque simplesmente não sabia onde o navio estava.
Só no início de abril a empresa emitiu um comunicado, dizendo que a razão do silêncio era, sem dúvida, devido a uma pane no rádio de bordo.
Também garantiu que nenhum outro barco reportara qualquer avistagem do Admiral Karpfanger, porque, como o objetivo era treinar bem os garotos, ele navegava em uma área remota, de navegação mais árdua e não utilizada pelos navios comerciais.
Mas, com certeza, aquelas não eram as únicas verdades a respeito do barco alemão.
Naquelas alturas, o Admiral Karpfanger já devia ter virado tragédia.
Mas nada foi aventado aos familiares.
Só no início de maio, quando nenhum registro da passagem do barco pela ilha brasileira de Fernando de Noronha foi feito, como era hábito na época, é que os responsáveis pela Hamburg-Amerika começaram a ficar seriamente preocupados.
Consultados, outros barcos que vinham do Pacífico para a Europa reportaram muito gelo no mar nas imediações do Cabo Horn, o que fez acender o sinal de alerta na empresa.
Mesmo assim, nada foi dito aos familiares dos jovens cadetes que estavam a bordo e a companhia continuou se recusando a admitir que o Admiral Karpfanger pudesse ter naufragado.
O mês de maio também passou sem nenhuma notícia do barco.
Só em julho, quando a pressão das famílias atingiu níveis insustentáveis, já que o Admiral Karpfanger deveria ter chegado a Hamburgo em maio, é que a Hamburg-Amerika resolveu agir.
Mandou que um dos seus navios fizesse a mesma rota do barco desaparecido e pediu ajuda aos governos do Chile e da Argentina nas buscas.
Diversos vestígios e restos de naufrágios foram encontrados.
Mas, aparentemente, nenhum deles era do barco que eles procuravam.
Agosto chegou e a única certeza sobre o Admiral Karpfanger era que ele havia mesmo desaparecido.
Mesmo assim, só em setembro a empresa emitiu um comunicado admitindo isso.
Apesar da iminência do avanço bélico nazista na Europa, o mundo inteiro se sensibilizou com o desaparecimento do barco dos garotos e mensagens de condolências foram enviadas tanto aos familiares quanto ao próprio governo alemão.
Em 21 de setembro, o nefasto sino do Lloyd’s tocou em Londres, oficializando a perda do Admiral Karpfanger e iniciando toda sorte de especulação sobre o que teria acontecido com o barco.
Entre as hipóteses levantadas, uma delas pregava que, na ânsia de preparar bem os cadetes, o comandante do Admiral Karpfanger teria forçado demasiadamente o barco, que não teria suportado o esforço de navegar a todo pano numa região que exige cautela.
Outra especulava que o barco alemão poderia ter sido desviado para uma ilha remota do Pacífico, a fim de montar uma base secreta, já visando a guerra que se aproximava.
De todas as teorias, no entanto, a mais provável era mesmo o choque acidental com um bloco de gelo.
Nos meses seguintes, as buscas continuaram, mas sem nenhum vestígio do barco, exceto um intrigante pedaço de porta com uma placa de metal na qual se lia, em alemão, “Capitão e Oficiais”, encontrada numa das ilhas nas proximidades ao Cabo Horn – e que, segundo a empresa que reformara o Admiral Karpfanger antes da sua viagem inaugural sob a bandeira alemã, bem poderia ser dele. Mas ficou por isso mesmo.
Para os familiares daqueles 40 jovens só restou a dor da perda e a eterna dúvida: o que, afinal, aconteceu com o barco dos garotos?
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