O mistério do velejador que saiu para testar um piloto automático e nunca mais voltou

O mistério do velejador que saiu para testar um piloto automático e nunca mais voltou

No início da tarde de 15 de janeiro de 2023, um domingo de sol, o velejador Edison Gloeden, mais conhecido como “Alemão”, dono de boa experiência em navegação, saiu sozinho com seu barco, um veleiro Brasilia de 32 pés, batizado “Sufoco”, da marina onde ficava guardado, no canal do porto de Santos, com um só objetivo: testar um piloto automático, equipamento que permite manter o rumo sem assistência humana, que ele havia instalado.

E disse que retornaria rápido. Mas nunca mais voltou.

Preocupada, nas primeiras horas da manhã seguinte, após uma noite sem dormir, a esposa do velejador, a professora aposentada Maria de Fátima Calaca Alves procurou a Marinha e registrou o desaparecimento do marido.

Aviões e barcos – alguns deles, particulares, de amigos do velejador – começaram a vasculhar a região, caracterizada por uma grande baía, com intenso movimento de lanchas e navios, já que dá acesso ao principal porto do Brasil.

Mas nada encontraram.

Sequer indícios de um eventual naufrágio, como partes da embarcação boiando no mar.

Começava ali um mistério que nunca foi desvendado: o que aconteceu com o Sufoco e seu pobre velejador?

Com base nas informações disponíveis – poucas, já que Edison dissera na marina que voltaria rápido, por isso, sem maiores detalhes –, diversas hipóteses e teorias foram aventadas.

Mas nenhuma delas jamais pode ser comprovada.

Como o objetivo do velejador era apenas testar o correto funcionamento de um novo modelo de piloto automático que havia acabado de instalar, ele embarcara sem nenhum suprimento, praticamente sem água nem comida, mas com o tanque de combustível cheio, como sempre fazia, já que queria testar o funcionamento do equipamento também com o veleiro navegando a motor.

Nada, porém, indicava que pretendesse sair dos limites da baía de Santos naquele dia de mar calmo e tranquilo, com bastante movimento de lanchas e jet skis, além dos costumeiros navios entrado e saindo do porto.

Com base nestas duas informações – o intenso movimento de barcos na baía e o tanque de combustível completamente cheio no veleiro – desenvolveu-se a primeira teoria: a de que ele pudesse ter ido na direção do mar aberto, justamente para evitar as marolas geradas pelos outros barcos, a fim de avaliar melhor o correto funcionamento do piloto automático.

Mas, uma vez acionado, o equipamento pode ter mantido o barco avançando indefinidamente, até que o combustível do tanque se esgotasse.

Na ocasião, estimou-se que o veleiro de Edison teria uma autonomia entre 25 e 30 horas de navegação a motor, o que significa que poderia ter avançado, em linha reta, até cerca de 120 milhas da costa.

Depois disso, sem combustível, teria ficado à deriva em uma região que sofre a ação de uma forte correnteza que desce para o sul do país.

E sido arrastado por ela.

Mas, por que o barco teria ficado sem o controle do velejador?

A rigor, havia duas possibilidades: queda no mar ou mal súbito – ou uma coisa em decorrência da outra.

Como estava sozinho no barco, e com rumo comandado pelo piloto automático, o velejador poderia ter perdido o equilíbrio ao fazer alguma função no convés (como erguer as velas, para testar o equipamento também sob efeito do vento) e caído no mar, enquanto o veleiro seguiu em frente, de maneira autônoma, sem que ele conseguisse alcançá-lo à nado.

Contribuía para esta tese o fato de o velejador já ter certa idade, sem, portanto, muita agilidade – e, segundo comentários, não ser um exímio nadador.

Além disso, Edison poderia ter caído ao mar desacordado, por conta da segunda hipótese aventada: a de mal súbito – embora, aparentemente, ele não tivesse nenhum problema sério de saúde.

A hipótese de suicídio foi logo descartada – não havia nenhum motivo de ordem pessoal para o velejador tirar a própria vida.

No dia, o mar estava tranquilo, embora, no final da tarde, tenha se formado uma rápida tempestade, com raios e trovoadas.

E isso poderia ter gerado algum problema no veleiro de Edison ou agravado a situação dele.

Outras duas possibilidades, embora bem menos prováveis (já que nenhum vestígio ou pedaço do veleiro foi encontrado flutuando na água), foi a de que o barco do velejador tivesse sido atingido por um navio e afundado em seguida, uma vez que o porto de Santos é o mais movimentado do país, e o local de onde ele partiu para testar o piloto automático fica bem no acesso marítimo à cidade.

Ou então que, ao navegar de forma autônoma, por conta do piloto automático, o veleiro de Edison tivesse colidido com uma laje que sabidamente existe a cerca de 20 milhas da Baía de Santos e afundado.

Já a esposa do velejador sempre teve outra teoria para explicar a morte do marido: avaria no barco – um problema mecânico, elétrico ou nas velas, que o tenha impedido de voltar.

Ou que, por conta do estresse gerado por isso, ele tenha tido um mal súbito fatal e o barco tenha seguindo em frente, sozinho, carregando o corpo do velejador, até ser engolido pelo oceano, tempos depois.

Se foi isso o que aconteceu – ou qualquer outra das hipóteses –, jamais se saberá.

Porque nem o veleiro Sufoco nem o corpo do velejador Edison Gloeden jamais apareceram.

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Sem água, sem roupas e sem motor. O velejador que desafiou tudo na volta ao mundo e fez história

Sem água, sem roupas e sem motor. O velejador que desafiou tudo na volta ao mundo e fez história

Acima de tudo, o velejador argentino Vito Dumas foi um sujeito ousado.

Entre outras proezas, entre 1942 e 1943 ele fez, sozinho, a primeira circum-navegação do planeta pelo paralelo 40 graus Sul, uma faixa oceânica abaixo de todos os continentes (exceto a Antártica) e dominada por temperaturas cruéis, mar sempre grosso e ventos tão violentos que ganharam o apelido (dado por ele próprio, por sinal) de “40 Bramadores” – porque “rugem” dia e noite.

Um roteiro, até então, considerado duro demais para ser tentado por algum velejador em solitário.

Mas não para Vito Dumas.

O argentino gastou 272 dias para cumprir aquela duríssima travessia, sobretudo porque o seu barco, o Lehg, iniciais de “Lucha, Entereza, Hombría e Grandeza” (“Luta, Integridade, Masculinidade e Grandeza”, em português), valores que precisou mesmo ter para completar a viagem, era tão espartano que não tinha sequer motor nem tanque para armazenar água doce.

Quando sentia sede, Dumas bebia água da chuva. Quando chovia – o que, felizmente, naquelas altas latitudes, era frequente.

O argentino tampouco tinha trajes apropriados para aquele frio intenso e permanente.

Para se aquecer, forrava as roupas com folhas de jornal.

Antes disso, ele só havia feito uma única travessia, já que sua entrada no mundo náutico aconteceu por puro acaso.

Dumas era um nadador de longos percursos, quando, em 1931, decidiu atravessar o Canal da Mancha a nado.

Mas, vencido pelo cansaço, desistiu antes de chegar à outra margem.

Envergonhado, decidiu que não voltaria para a Argentina de cabeça baixa.

Comprou, então, um veleiro ali mesmo, na Inglaterra, e embora nada soubesse sobre barcos e navegação, resolveu retornar velejando, o que significava atravessar nada menos que o Atlântico – o que ele fez com galhardia.

Quando chegou a Buenos Aires, Dumas já tinha tomado gosto em definitivo pelo mar e não mais pararia de navegar.

Mas sempre de maneira bem precária e quase nada planejada.

Dois anos depois daquela sua ousada, mas bem-sucedida, volta ao mundo pela parte de baixo do globo terrestre, Dumas partiu para uma nova jornada em solitário, a bordo do mesmo barco.

Desta vez, resolveu ir de Buenos Aires a Nova York.

Mas, como ele insistia em não ter um motor no seu barco (porque dizia que para um veleiro bastavam os ventos…), não conseguiu penetrar no Rio Hudson, que banha a maior cidade americana, por causa da forte correnteza contrária.

Ou seja, Dumas foi até a entrada de Nova York para então descobrir que não conseguiria chegar até ela.

Mas ele não se abateu com o imprevisto.

Ali mesmo, deu meia volta e tomou outro rumo, cruzando o Atlântico, até os Açores — onde também não conseguiu aportar, por conta da alternância de calmarias e ventos contrários.

Dos Açores, aproou, então, de volta a América do Sul e foi dar na costa do Ceará, depois de mais de 100 dias no mar, sem parar em lugar algum.

Dumas foi um navegador nato, que, na água, se sentia em casa.

Morreu em 1965, aos 65 anos, quando já era um herói na Argentina e uma lenda náutica mundial.

Dos quatro livros que escreveu, um deles em especial, “Os Quarenta Bramadores”, sobre aquela épica travessia nos confins do mundo, inspirou diversos navegadores a repetirem o seu feito, o que se tornou uma espécie de troféu no currículo de qualquer velejador.

Com aquela insensata travessia, Vito Dumas fez história.

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O capitão alemão de submarinos U-boats que virou cidadão americano

O capitão alemão de submarinos U-boats que virou cidadão americano

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos ex-oficiais da Marinha Alemã foram viver em outros países, e refizeram suas vidas.

Foi o que também fez o ex-comandante de quatro submarinos nazistas U-boats, Herbert Werner – mas só depois de viver um purgatório nas mãos dos seus inimigos.

Primeiro, Werner foi capturado pelos ingleses e passou um bom tempo passando por interrogatórios diários severos, na Inglaterra.

Depois, foi entregue pelos ingleses aos franceses, que, entre outras punições, o obrigavam a dormir ao relento e a cantar a Marselhesa todas as manhãs.

Até que ele conseguiu fugir da cadeia, e, para escapar dos franceses, quase chegou a se alistar da Legião Estrangeira.

De volta à Alemanha, Werner não ficou muito tempo.

Em 1957, pediu – e conseguiu – cidadania americana, apesar de ter afundado seis navios Aliados durante os combates.

Herbert Werner foi, então, viver na Flórida, onde escreveu o livro Caixões de Ferro, considerado um dos melhores relatos já feitos sobre a insana vida dos marinheiros dentro dos U-boats

E ali ele morreu, em abril de 2013, como cidadão americano.

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O navio alemão da Primeira Guerra Mundial que navega até hoje

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Os raros turistas que decidem atravessar o lago Tanganika, entre a Tanzânia, Burundi, Zâmbia e a República Democrática do Congo, no leste da África, costumam levar um susto quando vêem o barco no qual será feita aquela viagem.

Trata-se do MV Liemba, um arcaico navio a vapor construído em 1913 (portanto, 110 anos atrás), que combateu nas águas daquele mesmo lago, na Grande Guerra Mundial – a Primeira e não a Segunda.

É o único navio usado naquele conflito que ainda navega normalmente e, também, um dos mais antigos barcos de passageiros em atividade no mundo.

Mas o que torna o MV Liemba ainda mais interessante é a sua própria história.

Ele foi construído em pedaços na Alemanha, com o nome Goetzen, para ajudar a defender o leste africano, então dominado pelos alemães.

Mas só foi montado na distante Tanzânia, já que, como o lago Tanganika fica quase no meio do continente africano, não daria para chegar lá navegando.

O navio foi dividido em cerca de 5 000 caixas, que foram transportadas (primeiro de navio, depois de trem, num total de 14 000 quilômetros) da Europa até o coração da África, onde, finalmente, foi montado – feito um gigantesco Lego.

A montagem do Goetzen, que era equipado com quatro poderosos canhões, só ficou pronta em 1915, quando a Primeira Guerra já corria solta na Europa e ameaçava invadir os domínios alemães na África.

Mas logo o navio se transformou em uma espécie de barreira contra a penetração dos aliados naquela parte da África, porque não havia outro barco tão bem equipado na região.

Os ingleses, então, decidiram usar o mesmo expediente dos alemães e despacharam para o lago dois outros navios, igualmente desmontados.

Mas nem assim conseguiram derrotar o Goetzen, que seguiu garantindo a liderança alemã no coração da África.

Até que, já sem recursos para continuar se defendendo dos ataques cada vez mais violentos dos Aliados, os próprios alemães decidiram por um fim ao seu valioso navio: retiraram os quatro canhões que o equipavam e ordenaram que a própria tripulação do Goetzen o afundasse nas águas do Tanganika, para que ele não caísse nas mãos dos inimigos.

Durante oito anos, o navio ficou submerso.

Até que, com o fim dos combates, uma equipe inglesa resolveu resgatar o barco.

Inflaram centenas de barricas sobre o casco e fizeram o outrora mais poderoso navio de combate da África voltar à superfície.

Em seguida, doaram o navio ao governo da Tanzânia, que o rebatizou MV Liemba, e o colocou para fazer o transporte de cargas e pessoas, no próprio lago.

O que acontece até hoje, quase cem anos depois.

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A deficiente física inglesa que velejava sozinha, só com a boca

A deficiente física inglesa que velejava sozinha, só com a boca

Era apenas o terceiro dia de uma jornada prevista para durar semanas, no mar que circunda a Inglaterra, quando a velejadora inglesa Hilary Lister passou mal, perdeu a respiração e sua cabeça pendeu, inconsciente, sobre o cockpit adaptado do barco no qual ela navegava.

Imediatamente, sua equipe de apoio, que navegava ao lado, abordou o barco da velejadora e iniciou um procedimento médico de urgência, a fim de reanimá-la.

A ação levou intermináveis segundos, até que Hilary abriu os olhos, voltou a encher os pulmões de ar e sorriu, satisfeita.

Porque ela estava onde mais gostava de estar – no mar, navegando com um veleiro especialmente construído para a façanha que pretendia realizar: a volta completa da grande ilha da Grã-Bretanha, algo que incontáveis velejadores já haviam feito, mas nenhum da maneira como ela vinha fazendo.

Porque Hilary era tetraplégica e só conseguia mover a cabeça.

Todos os comandos do veleiro eram executados por meio de canudos, que ela assoprava ou sugava, de acordo com o movimento pretendido de leme e vela, o que exigia um esforço pulmonar intenso – daí aquela parada respiratória, causada pelo esforço em fazer o barco se movimentar.

Mesmo assim, Hilary fazia questão de navegar sozinha no barco, a despeito de suas severas limitações físicas.

Se precisasse se mover, ela não conseguiria.

Se o barco virasse e caísse no mar, certamente morreria.

Ainda assim, o máximo que a jovem inglesa, então com 37 anos de idade, permitia, era o acompanhamento de um barco de apoio, no qual seguiam médico e enfermeiro, prontos para qualquer emergência.

Em outras duas ocasiões durante aquela mesma jornada, Hilary perderia os sentidos e teria que ser reanimada.

Mas seguiu navegando, até que completou a sua circum-navegação das Ilhas Britânicas, em agosto de 2009, feito que a levou a ser premiada naquele ano como uma das quatro maiores velejadoras do mundo, pela Federação Internacional de Vela.

Na ocasião, Hilary assombrou o mundo.

Antes disso, porém, ela já havia feito outras travessias igualmente extraordinárias para alguém que não conseguia mover braços nem pernas, e navegava com o corpo inerte, estirado sobre o convés.

A primeira foi a travessia – também em solitário no barco – do Canal da Mancha, entre a Inglaterra e a França, em agosto de 2005, ocasião em que chegou a fixar um mapa na ponta dos pés, a fim de visualizar a rota.

Dois anos depois, ela voltou ao mar e contornou, da mesma forma, toda a Ilha de Wight, um dos ícones náuticos da Inglaterra – e tornou-se, também, a primeira pessoa com tamanho grau de deficiência física a fazer isso.

O objetivo de Hilary ao executar suas impressionantes travessias era duplo: provar que mesmo pessoas com deficiências físicas severas eram capazes de realizar grandes feitos, e se sentir feliz pela liberdade de movimentos que não tinha no seu dia-a-dia, sempre presa a uma cama ou cadeira de rodas.

“Comandar meu próprio barco me trouxe uma sensação de liberdade que nunca pensei que teria de volta”, disse Hilary, ao final de sua primeira improvável travessia. “Isso, literalmente, salvou minha vida”.

A vida de Hilary Lister começou a definhar ainda menina, por volta dos 11 anos de idade, quando suas pernas passaram a sofrer dormências e perda de firmeza.

Mais tarde, o mesmo aconteceu com suas mãos e braços, para perplexidade dos médicos, que não sabiam ao certo o que ela tinha.

Só aos 17 anos de idade, Hilary foi diagnosticada com uma doença degenerativa rara: a distrofia reflexa.

Dez anos depois, ela já não tinha mais nenhuma mobilidade do pescoço para baixo – só conseguia mover a cabeça, os olhos e a boca.

A limitação extrema a levou a pensar em suicídio.

Certa vez, decidiu que tomaria uma overdose de medicamentos, para pôr um fim naquele sofrimento.

Foi quando um amigo a levou, de cadeira de rodas, para velejar em um lago perto de sua casa.

Aquilo mudou sua vida.

A recuperação da capacidade de se locomover sem depender de ninguém fez Hilary se apaixonar pelos barcos, e ela não sossegou mais enquanto não conseguiu um que ela mesmo pudesse comandar, sozinha.

A solução veio quando um projetista canadense conseguiu adaptar para um pequeno veleiro, de 20 pés de comprimento, o mesmo sistema de movimentação através de sopros de ar que ela usava para se locomover em sua cadeira de rodas.

Através de variações nas pressões do ar dentro de tubos que Hilary operava com a boca, microprocessadores eletrônicos eram capazes de controlar a movimentação do barco.

Um tubo gerenciava o leme; outro, a posição da vela.

E assim, soprando e sugando o ar, ela conseguia navegar, sem depender de mais ninguém a bordo.

“Se você multiplicar por mil a sensação de liberdade que todo mundo sente por poder dar um passo na direção que quiser, vai saber como eu me sinto agora”, disse Hilary, ao testar o barco pela primeira vez.

Em seguida, ela deu início às suas travessias, ao mesmo tempo em que criou uma instituição, a Dream Trust (algo como “Confiança no Sonho”), dedicada a ajudar pessoas com deficiências físicas a realizar seus desejos.

“Com as ferramentas certas, até grandes aventuras são possíveis”, explicou Hilary ao criar a entidade e partir para a maior de suas façanhas, a circum-navegação da Grã-Bretanha – aquela em que quase morreu em três ocasiões, por perda da consciência causada pelo esforço de mover um barco à vela apenas com o ar dos próprios pulmões.

Sua última travessia foi em 2014, quando cruzou o Mar da Arábia a bordo de um veleiro convencional, mas já na companhia de outras pessoas.

Em seguida, por conta de uma infecção permanente causada pela própria doença, a saúde de Hilary começou a definhar, e ela morreu, quatro anos depois, aos 46 anos de idade.

Deixou, no entanto, uma lição perene de vida e perseverança, na busca pela liberdade de movimentos, mesmo quando o corpo conspira contra isso.

De certa forma, Hilary Lister venceu até a medicina.

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