Na manhã de 3 de outubro de 1955, o Joyita, um ex-iate de luxo transformado em barco cargueiro, partiu do porto de Apia, capital de Samoa, no Pacífico Sul, com destino ao arquipélago de Tokelau, distante cerca de 270 milhas náuticas. Levava 25 pessoas e um...
O jovem casal que vai passar um ano num barco num dos piores mares do mundo
Praticamente desde que se casaram, oito anos atrás, a “casa” do casal Bruna Sobé e Jairo Machado é um veleiro de aço, de 37 pés, o Caboges, com o qual nunca mais pararam de viajar.
Já passaram temporadas inteiras em Florianópolis, Ilha Grande, Paraty, Angra dos Reis, sul da Bahia e muitos outros locais.
Recentemente, subiram navegando até Fernando de Noronha, e ali ficaram algumas semanas, com o seu barco-casa.
Em seguida, levantaram âncora e partiram rumo a um destino bem mais distante, desafiador e difícil: o lendário Cabo Horn, último pedaço de terra firme da Terra do Fogo, no extremo sul da América do Sul, onde o oceano Atlântico encontra o Pacífico e, por isso mesmo, banhado por um dos mares mais tenebrosos do planeta.
Ali eles pretendem ficar o próximo ano inteiro, inclusive durante o inverno, quando as temperaturas despencam, os ventos aumentam e o mar fica ainda mais violento.
Mas nada disso assusta o jovem casal, que agora está navegando na companhia de outro barco, o Guga Buy, e com planos de só retornar ao Brasil em 2021.
“Navegar no Cabo Horn sempre foi o sonho do Jairo e eu sempre gostei de viajar. Então, resolvemos juntar as duas vontades e ir”, diz Bruna, que quando embarcou na ideia de morar num barco, em vez de uma casa, sofria de síndrome do pânico, tinha receio do mar e enjoava com muita facilidade – três problemas que hoje ficaram para trás.
“Vivemos bem, felizes e sem dificuldades financeiras, embora tenhamos entrado nessa vida sem um centavo no bolso, porque tudo o que tínhamos gastamos na compra e reforma do barco”, garante Bruna.
Desde então, para se manter, o casal vende charters no seu barco (inclusive no caminho que estão fazendo até o Cabo Horn), hoje o único ganha pão dos dois, que, no passado, sempre viveram de salários – ele como fisioterapeuta, ela como advogada recém-formada.
“Transformamos o barco na nossa casa e, também, no nosso trabalho”, diz Bruna. “Moramos nele e vivemos dele. Mas, por onde passamos, arranjamos clientes. O único problema é que, se acontecer algo com o barco, a gente perde a casa e, também, o emprego”, brinca a gaúcha, que também irá continuar recebendo hóspedes durante os doze meses que o casal permanecerá nas águas frias da Terra do Fogo.
“Queremos receber brasileiros que queiram navegar no “Fim do Mundo”, diz Bruna, citando o apelido pelo qual é conhecida a região do Cabo Horn, já que, depois dele, não há mais nada – só a Antártica.
Bruna e Jairo só pensam em voltar a viver em terra firme se, um dia, tiverem um filho. “Mas, só por um tempo, até que o bebê cresça e possa ir para o barco”, ela acrescenta.
“Pretendemos morar no mar enquanto tivermos saúde física e mental para isso”, garante Bruna, que, no entanto, para viver num barco teve que abrir mão de algumas coisas. Uma delas, um armário cheio de roupas.
“Hoje, tenho só uma calça jeans, que não usei mais do que três vezes esse ano. Quando alguém quer me dar um presente, peço maiô, camiseta, short ou pijama, porque é tudo o que eu visto atualmente. Quer dizer, agora, também vou precisar de um casaco”, brinca, numa alusão ao frio quase permanente no extremo sul do continente, onde, no inverno, parte dos canais da Terra do Fogo até congela.
“Morando num barco, descobri que quase tudo que eu tinha na cidade, roupas, bens, automóvel, era apenas uma ´obrigação social`, algo que a gente tinha só porque os outros também tinham. Troquei a vaidade pela paz de espírito. Meus valores mudaram. Hoje, não sinto falta de nada. Só mesmo da família, que a gente só vê quando passamos com o barco por Porto Alegre”, diz Bruna.
E ela completa: “Nossas famílias têm pena da gente, porque acham que passamos privações e necessidades no barco. Mas, que nada! Viver assim foi uma escolha e um privilégio”.
No momento, o casal está em Mar Del Plata, na Argentina, a caminho do extremo sul do continente sul americano, onde pretendem chegar na segunda quinzena de janeiro.
Lá, irão se juntar a outra navegadora brasileira, a carioca Christina Amaral, que também pretende passar o próximo ano inteiro navegando no mar da Patagônia, “para sentir na pele as bruscas mudanças das estações do ano no Fim do Mundo”, diz a velejadora.
Bruna e Jairo não são o primeiro jovem casal que decidiu trocar uma casa por um barco, e a vida convencional pelo prazer de sair navegando por aí. Mas parecem determinados a não voltar atrás.
“Estamos escolhendo um lugar no mundo para lançar âncora no futuro, quando estivermos velhinhos”, brinca a gaúcha. “E o barco tem ajudado também nessa pesquisa”.
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