De acordo com as estatísticas, mais da metade da população mundial possui algum animal de estimação.
O velejador francês Guirec Soudée foi um deles.
Só que, ao contrário da esmagadora maioria dos habitantes do planeta, o bichinho que ele tinha não era um gato nem um cachorro.
Mas sim uma galinha – que Guirec batizou de Monique.
Não seria nada excepcional, não fosse o local onde Guirec (sempre com Monique ao seu lado) passava a maior parte do tempo: dentro de um barco, navegando mundo afora.
Só ele e a galinha.
“Conheci Monique quando fiz uma escala com meu barco nas Ilhas Canárias, a caminho do Caribe, cinco anos atrás. Ela era jovem, saudável, bonita e conclui que seria ótima companhia na viagem, porque galinhas não enjoam, não reclamam e ainda põem ovos, para ajudar no almoço”, disse Guirec, que jura que jamais pensou em transformar a própria companheira de viagem em item do cardápio.
“Todo mundo me falou que não ia dar certo, que ela ia ficar estressada com o balanço do veleiro e pararia de pôr ovos. Mas, que nada. Logo na primeira noite da travessia, ela botou um ovo e, depois, não parou mais. Foram 25 ovos em 28 dias no Atlântico”.
E assim foi, por cinco anos seguidos no mar.
Sempre ao lado de Monique, que só desembarcava para passear e, se possível, ciscar.
Após a travessia do Atlântico, Guirec e Monique deram simplesmente a volta ao mundo, no sentido Norte/Sul, e visitaram os dois pontos mais gelados do planeta: os polos Sul e Norte.
Ou seja, o Ártico e a Antártica.
Na ocasião, eles partiram do Caribe, subiram até o Ártico (onde, entre outras façanhas, passaram quatro meses trancados no mar congelado da Groenlândia, vivendo basicamente só de arroz e milho, respectivamente), atravessaram para o outro lado do continente americano e desceram até a Antártica, onde passaram uma nova temporada de meses seguidos no gelo, antes de retornarem à Europa, o que só aconteceu cinco anos depois do primeiro encontro entre o velejador francês e aquela galinha sortuda – possivelmente, a ave mais viajada do mundo.
No momento, os dois estão na casa de Guirec, numa pequena ilha na Bretanha, ele finalizando um documentário sobre a longa viagem que fizeram, ela cacarejando no jardim e catando minhocas, enquanto aguarda a hora de embarcar de novo.
“A Monique é muito aventureira”, garante o francês. “Já andou de trenó na neve, navegou em prancha de stand up e foi a primeira galinha que se tem notícia a atravessar a Passagem Noroeste, que une o Atlântico ao Pacífico pelo Ártico, e chegar viva do outro lado, escapando da panela”, brinca o francês,
“É, também, a única galinha do mundo que sabe velejar, ou, pelo menos, que não sai cacarejando histericamente quando o barco inclina. E adora sentir o vento balançando suas penas, além de gostar tanto de peixe quanto de milho”, diz o exótico velejador, que passou a usar a galinha como sua principal ferramenta de marketing pessoal.
O barco/casa de Guirec e Monique é um veleiro de 32 pés, que ele comprou quando tinha apenas 20 anos de idade, mas planos já maduros de sair navegando pelo mundo – a princípio, sozinho.
A galinha mudou isso. “A gente se dá muito bem e ela não reclama de nada. Nem da falta de poleiros no barco”, diz, rindo.
Segundo Guirec, Monique tem cerca de sete anos de idade e, como toda galinha, pode viver até os 15, “se ninguém devorá-la antes disso, claro”.
Mas não será ele que irá fazer isso.
“Ainda temos muito o que explorar juntos. Adoro aventuras e ela, também”, diz o francês.
Juntos, Guirec e sua galinha também já lançaram três livros sobre as travessias marítimas da improvável dupla: “O mundo segundo Monique”, “A fabulosa história de Guirec e Monique”, e o infantil “A galinha que deu a volta ao mundo”.
E alimentam, diariamente, uma legião de fãs nas redes sociais.
Os dois têm mais de 130 mil seguidores no Facebook, outra metade disso no Instagram, vídeos que, vira e mexe, viralizam no Youtube, e tornaram-se conhecidos no mundo inteiro, o que levou o francês a vislumbrar um meio de ganhar dinheiro com palestras – nas quais, obviamente, a galinha vai junto.
“Quem me conhece, sabe que eu nunca fui totalmente normal”, diz o francês, com total sinceridade.
E nem Monique discorda disso.
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