Em maio de 2014, um grupo de mergulhadores nadava entre os recifes de Arraial do Cabo, no litoral do Rio de Janeiro, quando deram de cara com um lindo – mas aterrorizante – peixe: um pequeno exemplar de peixe-leão.
O que, para qualquer leigo em biologia marinha seria uma sorte e tanto (a de ver, solto na natureza, um peixe admiravelmente bonito, que aqui só é visto em alguns aquários), para aqueles esclarecidos mergulhadores soou como a sirene de um alerta: o invasor havia chegado.

Não se tratava de nenhum cardume. Era apenas um – só um – peixinho, de não mais que 20 centímetros de comprimento, que foi imediatamente capturado e morto. Mas o que ele representava era inversamente proporcional a sua aparente insignificância.

Era a quase confirmação daquilo que os biólogos tanto temiam: a possibilidade da chegada do temido peixe-leão à costa brasileira.

O que há de errado nisso? Tudo. Primeiro, porque o peixe-leão não pertence ao mar brasileiro e sim a oceanos do outro lado do planeta. Ele é nativo da Ásia, sobretudo das águas da Indonésia e Filipinas. E toda vez que uma espécie é inserida em um habitat diferente, afeta a biodiversidade.

Mas isso nem seria um terrível problema, não fosse algumas características ferozes deste lindo e aparentemente fofinho peixe.

Uma delas é que ele é extremamente voraz e devora praticamente tudo o que caiba na sua boca – de crustáceos a peixes bem maiores.

Ao caçar, o que faz o tempo todo, o peixe-leão encurrala a presa erguendo seus enormes espinhos dorsais (os mesmos que o tornam tão gracioso aos olhos dos incautos, porque mais parecem bandeirolas presas ao corpo) e, com a vantagem do aumento extra de tamanho, a hipnotiza para, em seguida, a engolir por inteiro, com um movimento fulminante. Ou em bocadas, caso a vítima seja maior do que ele, o que acontece com frequência, já que o seu estômago pode se expandir até 30 vezes.

Mas o verdadeiro problema não é este. É que, fora dos mares asiáticos, o peixe-leão praticamente não tem predadores. No Brasil, os únicos seres marinhos capazes de transformá-los em alimento são os meros, que, no entanto, estão cada vez mais escassos.

Além disso, uma única fêmea de peixe-leão é capaz de gerar dois milhões de ovos por ano, o que explica porque este peixe se tornou uma praga em certos mares do mundo que não têm nada a ver com o seu habitat. Como o Caribe.

Ali, para deleite dos mergulhadores mal informados (e verdadeiro pânico dos ambientalistas), o peixe-leão já virou uma epidemia e se espalhou por todas as ilhas.

Estima-se que eles tenham chegado às águas azuis do Caribe (e, depois, se alastrado por toda a costa leste americana), apenas duas ou três décadas atrás, dentro ds tanques de lastro dos navios ou como meros descartes de quem não queria mais tê-los no aquário de casa – para o peixe-leão expandir desenfreadamente sua população não é preciso mais do que um ato ingênuo desse tipo.

No Caribe, os peixes-leões se espalharam de maneira fulminante. Começaram dominando as águas de Cuba, Jamaica e do Golfo do México, onde, rapidamente, os pescadores notaram a diminuição na quantidade de pescado – os peixes tinham virado comida para o invasor, que, por ser desconhecido pelas espécies locais, não era percebido como um predador.

Depois, avançaram pelo litoral da Costa Rica, Panamá e Colômbia. Mais recentemente, invadiram toda a costa da Venezuela. E, de lá, teme-se que, agora, estejam descendo para a costa brasileira.

O peixe-leão já é considerado a maior ameaça à vida nos recifes do Atlântico. Para alguns especialistas, não há mais como erradicá-lo. A menos que façamos com ele o mesmo que ele faz com outros peixes. Ou seja, comê-los.

A alternativa vem sendo amplamente divulgada em campanhas nos países caribenhos afetados pela praga deste peixe de aparência cinematográfica. Nas Bahamas, a sua captura já é largamente incentivada. Na Jamaica, uma agressiva campanha tenta convencer os jamaicanos a experimentarem a novidade na panela. E, em Porto Rico, renomados chefs já estão oferecendo pratos feitos à base deste peixe indesejado.

Outra característica perversa das invasões dos peixes-leões é que eles começam a ocupar as regiões pelas partes mais fundas. Quando começam a surgir nas águas mais rasas, onde são mais facilmente identificados, é porque toda a área já está infestada.

Por essas e outras, é fácil saber por que o peixe-leão é, atualmente, o ser marinho mais temido e odiado pelos ambientalistas, que sonham em exterminá-lo de todos mares, exceto aqueles de onde eles vieram. E motivos para isso não faltam.

O tumultuado resgate do navio do ouro

O tumultuado resgate do navio do ouro

Quando estourou a Corrida do Ouro, na Califórnia, em meados do século 19, a movimentação de pessoas entre as costas leste e oeste dos Estados Unidos explodiu. Como ainda não haviam estradas - muito menos automóveis –, e as ferrovias não atravessavam o país inteiro, o...

ler mais
Um resgate mais que improvável

Um resgate mais que improvável

Havia três semanas que o velejador australiano Tim Shaddock, de 51 anos, havia partido da enseada de La Paz, na Baja Califonia mexicana, rumo à Polinésia Francesa, levando como única companhia a bordo do seu surrado catamarã Aloha Toa uma cadelinha que ele encontrara...

ler mais
Resgatado por puro acaso

Resgatado por puro acaso

Em outubro de 2021, o americano Aaron Carotta, um ex-repórter de TV de 43 anos, partiu da costa oeste dos Estados Unidos em busca de um feito inédito: tornar-se o primeiro homem a dar a volta ao mundo com um barco a remo. Mas a aventura terminou antes mesmo de ele...

ler mais
O mistério do Joyita

O mistério do Joyita

Na manhã de 3 de outubro de 1955, o Joyita, um ex-iate de luxo transformado em barco cargueiro, partiu do porto de Apia, capital de Samoa, no Pacífico Sul, com destino ao arquipélago de Tokelau, distante cerca de 270 milhas náuticas. Levava 25 pessoas e um...

ler mais
A incrível corrida de transatlânticos no oceano

A incrível corrida de transatlânticos no oceano

No início do século 19, quando todas as viagens entre Europa e Estados Unidos só podiam ser feitas pelo mar, uma vez que os aviões ainda não tinham sido inventados, alguns donos de empresas marítimas inglesas decidiram criar uma espécie de prêmio, a ser dado ao navio...

ler mais