Até a Segunda Guerra Mundial, um dos maiores problemas dos submarinos eram os banheiros.
Mais especificamente a descarga dos vasos sanitários, porque nem passava pela cabeça dos projetistas da época fazer buracos em um casco feito para ser hermeticamente fechado.
Todos os dejetos eram, então, mantidos a bordo, em pesados tanques que ainda ocupavam um espaço considerável.
Até que os alemães inventaram um sistema de válvulas que permitia a entrada e saída de água do mar para os vasos sanitários, desde que o submarino estivesse próximo à superfície, onde a pressão externa era pequena.
Mas, quase ao final da guerra, eles aperfeiçoaram o sistema para uso, também, em grandes profundidades.
Foi uma revolução no setor.
O primeiro submarino a ser equipado com o novo sistema, que consistia em uma complicada combinação de válvulas, foi o U-1206, lançado ao mar em 1944.
Meses depois, em 6 de abril de 1945, dias antes do fim da Guerra, o U-1206 partiu para a sua primeira missão no Atlântico Norte, sob o comando do capitão Karl Adolf Schlitt – que também comandava um submarino pela primeira vez.
Foi quando tudo aconteceu.
A tripulação do U-1206 consistia em meia centena de homens, mas só poucos sabiam como manusear corretamente as válvulas do novo sistema – e o capitão Schlitt não era um deles.
Tudo corria bem, até que, quando navegavam submersos ao largo da costa da Escócia, a mais de 60 metros de profundidade, o comandante do submarino alemão precisou ir ao banheiro.
E só depois de ter feito suas necessidades, descobriu que era incapaz de operar as válvulas da descarga.
Apesar da situação constrangedora para um oficial da sua patente, Schlitt pediu ajuda a um simples marinheiro, conhecedor do sistema.
Mas, na pressa em atender ao capitão, ele também se atrapalhou com as válvulas e abriu as externas antes de fechar as internas, causando a inundação parcial do submarino.
Mas ela logo estancada.
Teria sido apenas um contratempo, não fosse outra característica do projeto daquela nova classe de submarinos: as baterias dos motores elétricos ficavam bem ao lado do banheiro que fora inundado.
E em contato com a água salgada, elas passaram a liberar gás clorídrico, altamente letal, ainda mais em um ambiente sem ventilação, como os submarinos.
Schlitt, então, deu ordem para emergir imediatamente.
Mas o pior ainda estava por vir.
Ao chegar à superfície, o U-1206 foi logo avistado por aviões ingleses que patrulhavam o litoral escocês e passou a ser duramente bombardeado.
Como não podia voltar à segurança do fundo do mar por conta do gás que seguia emanando das baterias, Schlitt ordenou que a tripulação passasse para os botes salva-vidas e tomou a mais desesperada decisão que um comandante poderia tomar: afundou o próprio submarino.
O objetivo é que ele não caísse nas mãos dos inimigos, o que revelaria alguns segredos – como o próprio sistema revolucionário de ejeção pressurizada dos dejetos dos banheiros.
Desta vez, Schlitt abriu as válvulas certas e o submarino deslizou mansamente para as profundezas e só voltou a ser visto em 2012, quando um grupo de mergulhadores encontrou o U-1206 no fundo do mar.
Quatro dos 50 tripulantes do U-1206 morreram nos ataques aéreos ingleses, dez conseguiram chegar ao litoral e foram capturados e 36 recolhidos e feitos prisioneiros por barcos que passavam.
Entre eles, o próprio capitão Schlitt, que entrou para a história como o primeiro comandante a provocar um naufrágio só porque foi ao banheiro.
Uma verdadeira cag…
Gostou dessa história?
Então, leia 200 outras histórias tão boas quanto essa clicando aqui
O misterioso submarino que invadiu o mar argentino
No primeiro dia de fevereiro de 1960, o radar do navio patrulha Murature, da Armada Argentina, detectou a presença de um submarino nas águas do Golfo Nuevo, no litoral sul daquele país. Como não havia nenhuma informação sobre a presença de um submarino atuando na...
O mistério do velejador que saiu para testar um piloto automático e nunca mais voltou
No início da tarde de 15 de janeiro de 2023, um domingo de sol, o velejador Edison Gloeden, mais conhecido como “Alemão”, dono de boa experiência em navegação, saiu sozinho com seu barco, um veleiro Brasilia de 32 pés, batizado “Sufoco”, da marina onde ficava...
Os pescadores brasileiros que viraram vítimas de um submarino alemão na Segunda Guerra Mundial
Quando o barco pesqueiro brasileiro Changri-Lá partiu do porto do Rio de Janeiro para mais uma habitual temporada de pesca na região de Cabo Frio, em 28 junho de 1943, o Brasil já estava em guerra contra a Alemanha nazista havia quase um ano. Mas, exceto pelos...
A grande trapaça na maior das regatas
Em maio de 1967, o velejador inglês Francis Chichester virou ídolo na Inglaterra ao completar a primeira circum-navegação do planeta velejando em solitário, com apenas uma escala. O feito, até então inédito, animou os velejadores a tentar superá-lo, fazendo a mesma...
O incrível casal que o mar não conseguiu levar
Maralyn e Maurice Bailey eram um típico casal do interior da Inglaterra, mas com um sonho não tão comum assim: construir um veleiro e sair navegando pelo mundo. Queriam, sobretudo, ir velejando até a distante Nova Zelândia. Em 1967, depois de vender a casa onde...
A bizarra experiência náutica que deu origem ao Big Brother
Em 12 de maio de 1973, uma balsa com doze metros de comprimento por sete de largura partiu do Porto da Luz, nas Ilhas Canárias, com destino à costa do México, do outro lado do Atlântico, levando 11 pessoas a bordo – cinco homens e seis mulheres. Mas o principal foco...