Durante a Segunda Guerra Mundial, o transatlântico alemão SS Berlin, construído em 1925 para fazer a ligação entre a Alemanha e Nova York, foi requisitado para o esforço nazista de guerra e, tal qual outros navios de cruzeiro do gênero, transformado em navio-hospital.
Mas nem isso impediu que ele viesse a afundar ao tocar em duas minas submarinas, no primeiro dia de fevereiro de 1945, quando participava da Operação Hannibal, de evacuação de refugiados na região do mar Báltico.
Primeiro, o SS Berlin tocou numa mina quando navegava com muitos pacientes feridos a bordo e ficou parcialmente danificado, o que fez com que fosse puxado por outro navio até o porto de Kiel. Mas ele não chegou lá. No caminho, enquanto era rebocado, tocou em outra mina e, desta vez, começou a afundar de fato.
Para tentar resgatar os sobreviventes das duas explosões (praticamente nenhum paciente escapou), o navio que rebocava o SS Berlin arrastou o moribundo transatlântico até águas mais rasas e ali deixou que ele afundasse, visando facilitar o seu resgate mais tarde – o que, de fato, aconteceu, quatro anos após o fim da guerra, mas pelos russos, que se apoderaram do navio.
O SS Berlin passou oito anos em reformas, até que, em 1957, sob bandeira russa e rebatizado Admiral Nakhimov, voltou a navegar como navio de cruzeiro, em alegres roteiros pelo Mar Negro. E assim ficou por quase 30 anos.
Mas, na noite de 15 de setembro de 1986, ao partir do porto da cidade russa de Novorossysk para mais um cruzeiro, voltou a ser vítima do pesadelo de um (novo) naufrágio. E, desta vez, bem mais
Trágico.
Menos de uma hora após ter deixado o porto de Novorossysk, quando ainda navegava dentro da baía da cidade, o comandante do Admiral Nakhimov, capitão Vadim Markov, detectou um navio cargueiro, o Pyotr Vasev, comandado pelo também russo Viktor Tkachenko, vindo na sua direção e fez contato, pedindo atenção. Como resposta, recebeu um “fique tranquilo”. Ele, então, passou o comando do navio a um subordinado e foi dormir em sua cabine.
O substituto do comandante do Admiral Nakhimov seguiu monitorando o outro navio e, ao perceber que o cargueiro mantinha a mesma direção e velocidade, passou a emitir uma série de mensagens. Em vão. O Pyotr Vasev manteve o mesmo rumo, que era quase de colisão.
O encarregado decidiu, então, guinar o Admiral Nakhimov em dez graus, a fim de evitar um possível choque. Mas acabou por provocá-lo, porque o comandante do Pyotr Vasev havia previsto passar rente ao transatlântico, desde que ele mantivesse o rumo – e nada fez para alterar o seu.
Só quando o substituto que estava no comando do transatlântico berrou ao rádio sobre a colisão iminente é que o capitão do cargueiro resolveu agir. Mas já era tarde demais.
A proa do Pyotr Vasev espetou o casco do Admiral Nakhimov, que imediatamente começou a fazer água. Muita água. O rombo foi de quase 100 m2 e permitiu a inundação instantânea de parte dos camarotes – matando, na hora, os seus ocupantes.
Contribuiu para a inundação do navio o fato de praticamente todas as escotilhas do transatlântico estarem abertas, já que fazia certo calor naquela noite de primavera.
Quando o Admiral Nakhimov adernou violentamente, vítima da colisão e da inundação, as escotilhas abertas tocaram o mar e puseram ainda mais água para dentro do navio. Em sete minutos, ele afundou por completo.
O primeiro barco de socorro chegou dez minutos depois, mas já não havia mais sinal do transatlântico na superfície – apenas escombros e vítimas boiavam, boa parte delas mortas.
Das 1 234 pessoas que havia a bordo do Admiral Nakhimov, 423 morreram no naufrágio.
Entre os sobreviventes, porém, estava o comandante Markov, que, mais tarde, seria julgado e condenado por negligência, por ter delegado o comando do navio a um subordinado frente a uma situação delicada.
Já o comandante do cargueiro, Viktor Tkachenko, que após a colisão seguiu navegando rumo ao porto e só reportou o acidente 40 minutos depois, também foi condenado e passou seis anos preso, até ser solto, em 1992.
Ainda assim, uma pena branda demais para quem causou mais de 400 vítimas fatais – que, com certeza, desconheciam o passado sinistro daquele navio durante a Segunda Guerra Mundial.
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