No início da noite de 2 de agosto de 1981, um tufão varreu o mar do Golfo de Bengala, uma enorme porção de água entre a Índia e Myanmar.

Entre os navios que navegavam na região na ocasião estava o cargueiro panamenho, mas que pertencia a uma empresa de Hong Kong, Primrose, que partira de Bangladesh com destino a Austrália dias antes, com um carregamento de ração para frangos e 31 tripulantes a bordo – todos chineses, incluindo o capitão, Liu Chunglong.

Quando a tormenta aumentou ainda mais de intensidade, por volta da meia-noite, o capitão Chunglong não conseguiu impedir que o navio, que vinha sendo empurrado inclementemente pelas ondas e ventos, encalhasse em um recife de coral a menos de 100 metros da praia de uma das ilhas do arquipélago Andaman e ali ficasse, cravado e impossibilitado de se movimentar – mas sem risco imediato de naufragar.

O perigo, no entanto, existia.

Mas era outro.

E ainda mais apavorante.

Durante dois dias e duas noites, não houve como ajudar o navio encalhado, por conta da tempestade, que impedia a aproximação de qualquer aeronave ou embarcação.

Até que, no terceiro dia, o escritório da empresa dona do Primrose recebeu uma perturbadora mensagem do capitão Chunglong, pedindo o envio urgente de armamentos.

Armamentos?

Por que aqueles homens, retidos dentro de um navio encalhado, precisariam de armas?

Que risco o capitão achavam que corriam, entalados diante de uma ilha coberta de densa mata, que parecia deserta?

A resposta estava no nome daquela ilha: Sentinela do Norte – a famigerada ilha dos sentineleses, uma tribo de homens primitivos, selvagens e arredios a qualquer contato com o mundo exterior, considerados um dos mais hostis e isolados do mundo.

E o capitão tinha motivos para estar preocupado.

Naquela manhã, a tripulação do inerte cargueiro avistara, saindo da mata que margeava a praia, um grupo de homens negros, nus e atarracados, carregando grandes arcos, flechas e lanças, que começaram a montar o que parecia ser uma jangada, feita de troncos de árvores.

Parecia claro que a intenção do grupo era navegar até o navio imobilizado e atacá-lo – por mais absurda que aquela situação parecesse.

Imediatamente, o comandante chinês ordenou que a tripulação se armasse com tudo o que pudesse virar instrumento de defesa (pedaços de cano, pistolas sinalizadoras etc) e ficasse de vigia no convés, a despeito do mau tempo que ainda imperava na região.

Apesar do clima inclemente, aqueles sentineleses, cerca de 50 homens, como estimou o capitão, pareciam determinados a terminar a construção da primitiva embarcação e com ela avançar até o grande navio, onde três dezenas de homens viviam a angustia de um pré-ataque selvagem.

Por sorte, porém, foi o próprio mau tempo que impediu que conseguissem o seu intento.

Grandes ondas impediram que a jangada fosse além da praia, e fortes ventos desviaram as flechas que, ainda assim, eles lançaram contra o navio.

Rapidamente, a notícia de que um navio de aço estava sendo atacado por flechas indígenas em pleno final do Século 20, com risco real de vidas, virou manchete no mundo inteiro, o que pressionou as autoridades da Índia, a quem pertencem as Ilhas Andaman (embora isso não se aplique a Ilha Sentinela do Norte, cuja posse legal é dos sentineleses), a fazer algo efetivo para ajudar aqueles assustados marinheiros.

A primeira tentativa, por mar, foi frustrada: o bote inflável lançado por um navio da Marinha indiana próximo ao Primrose quase virou nas ondas e a operação teve que ser cancelada, antes que a quantidade de vítimas a mercê dos selvagens da ilha aumentasse ainda mais.

Já a segunda tentativa, pelo ar, foi bem-sucedida, após uma série de tentativas.

Um helicóptero, pilotado por um ex-aviador americano da Guerra do Vietnã, que morava na capital das Ilhas Andaman e se ofereceu como voluntário para a difícil missão de pousar a aeronave no estreito convés do cargueiro, conseguiu resgatar os tripulantes do navio, a despeito da chuva de flechas que os sentineleses disparavam da praia, contra a aeronave.

Ao final de três viagens, todos os 31 tripulantes do Primrose estavam salvos.

Mas não o navio.

Seria arriscado demais para as equipes de resgate passarem dias tentando desencalhar o cargueiro, sob a constante ameaça de ataques dos sentineleses – que, por outro lado, por serem seres vulneráveis e protegidos, não poderiam ser combatidos.

Com isso, o Primrose acabou condenado a virar um amontoado de ferros carcomidos pelo tempo, que, ainda hoje, podem ser vistos encravados em uma das pontas da Ilha Sentinela do Norte, nas imagens do Google Earth.

Dez anos depois, em 1991, naquele que seria o único e último contato pacífico com os habitantes da ilha Sentinela do Norte, hoje proibida a qualquer visitante, um grupo de antropologistas notou que as flechas e lanças que os nativos ostentavam continham pontas de metal, material que eles, até então, desconheciam.

A conclusão foi que os sentineleses haviam invadido o navio encalhado e dele retirado materiais que usaram para aperfeiçoar seus armamentos.

Graça a um navio, os sentineleses haviam, por fim, atingido a era do metal – 8 000 anos depois do restante da humanidade.

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