21 anos atrás, em julho de 1998, o casal inglês Jane e Clive Green, ela uma ex-técnica em microbiologia, então com 46 anos, ele um ex-engenheiro de 44, ambos precocemente aposentados e sem filhos, resolveram pegar o pequeno barco que possuíam, um velho veleiro de 35 pés, para fazer uma rápida viagem de férias, da Inglaterra até a Espanha.

O objetivo era apenas curtir uma semana de navegação no ensolarado verão do Mediterrâneo.

Mas os dois gostaram tanto da experiência que resolveram “esticá-la”. E só retornaram à Inglaterra incríveis 16 anos depois!

Durante todo esse tempo, o casal morou no próprio barco, mas parando em incontáveis lugares.

No total, visitaram mais de 50 países, navegaram o equivalente a 60 000 milhas náuticas e deram a volta ao mundo, saindo da Europa, cruzando até o Caribe, de lá para o Pacífico, a Austrália e o Índico, antes de retornar ao Mediterrâneo e à Inglaterra.

“Não tínhamos um roteiro fixo nem pré-determinado”, recorda Jane, cujo nome batizou o próprio barco, chamado “Jane G”. “Em cada parada, conhecíamos outros velejadores que iam nos falando sobre lugares interessantes mais adiante e assim nós íamos seguindo em frente, com as dicas deles”.

Em alguns locais, no entanto, o casal passou longas temporadas.

Como na Nova Zelândia e Austrália, onde chegaram a ficar dois anos inteiros.

Mas sempre morando no próprio barco. “Acostumamos a viver com pouco”, contou Clive, ao retornar ao seu país natal, quase duas décadas depois, em 2014.

Para se manterem financeiramente, o casal mandou a família alugar o único bem que possuíam, uma pequena casa na cidade de Pembrokeshire, e viveram disso e da pensão que recebiam como aposentados.

“Não podíamos gastar mais do que 130 libras esterlinas por semana (o equivalente a pouco mais de 3.000 reais por mês), porque tínhamos que guardar algum dinheiro para a manutenção do barco, que sempre foi a nossa maior despesa”, contou Jane, que, ao terminar a viagem, já somava 62 anos de idade.

“Mas dava perfeitamente para viver, porque só precisávamos de dinheiro para comprar alguns mantimentos. Só não foi uma perfeita viagem de férias porque tínhamos que controlar o orçamento, o tempo todo”, explicou Clive, ao completar a sua não prevista circum-navegação do planeta, que teve diversos momentos curiosos.

Como quando Jane trocou um velho sutiã por um monte de frutas numa remota ilha do arquipélago de Fiji.

“A mulher se aproximou do nosso veleiro com uma canoa cheia de frutas e começou a apontar para mim”, recorda a inglesa. “Como ela não entendia inglês e eu não compreendia o que ela dizia, ela ergueu blusa e mostrou os seios nus. Daí eu entendi a proposta e troquei meu sutiã por um cesto lotado de frutas.

Apesar dos quase 6 000 dias no mar e dos muitos episódios vividos, Jane e Clive optaram por não escrever nenhum livro sobre a viagem.

“Livros desse tipo só vendem quando narram desastres e imprevistos e, com a gente, felizmente, não aconteceu nada desse tipo”, explicou o casal, que hoje vive na Inglaterra, mas, vira e mexe, pega o barco e sai para velejar pela Europa.

E, quando isso acontece, os vizinhos ficam se perguntam: será que eles voltam?

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