Na década de 1920, um movimento militar que ficou conhecido como a Revolta dos Tenentes escreveu um pequeno capítulo da história do Brasil. Nele, alguns tenentes se insuflaram contra os regimes políticos da época, pleiteando, entre outras coisas, o voto secreto, a total independência do poder Judiciário, a igualdade de direitos e até fim dos castigos físicos nos quartéis.

O movimento tomou ainda mais força depois que alguns tenentes foram mortos dentro de um dos principais quartéis do Rio de Janeiro, o que serviu de estopim para a primeira rebelião do gênero, a Revolta dos 18 do Forte, numa referência aos 18 tenentes massacrados no episódio.

Na sequência, outras rebeliões do gênero pipocaram em diferentes partes do país, entre elas a Reforma Paulista, de 1924, na capital de São Paulo. E, ao que tudo indica, foi dali que veio este barco, descoberto quase 90 anos depois, no fundo do rio Paraná, ao lado de outro, do mesmo tipo e gênero. Ele teria sido usado pelos revoltosos para fugir da repressão ao movimento em São Paulo e, ao mesmo tempo, ajudar a alastrar o “Tenentismo” pela região sul do país.

Mas algo saiu errado na viagem e o barco acabou sendo afundado, não se sabe se pelos opositores do movimento ou pelos próprios revoltosos, a fim de dar mais agilidade ao comboio que, supostamente, rebocava os barcos – jamais se saberá o motivo do duplo naufrágio, que até hoje intriga os moradores das margens do Rio Paraná, entre os municípios de Rosana, na divisa com o estado de São Paulo, onde os barcos foram encontrados, e Porto Rico, já no Paraná, para onde foram levados, depois de sacados do fundo do rio, em 2009.

Certo é que os dois barcos são daquela época e foram usados na Revolta dos Tenentes, como atestou a fartura de munições e apetrechos bélicos da época, entre eles mosquetões, encontrados dentro dos dois barcos, que não passavam de batelões com casco de ferro, do mesmo tipo que, na época, eram usados por uma grande empresa da região, a Companhia Matte Larangeira, para transportar mercadorias para São Paulo.

O mais provável que os revoltosos tenham se apropriado dos dois barcos durante uma destas viagens à capital paulista, e com eles fugido para a região sul, navegando através dos rios Tietê e Paraná – onde vieram a naufragar ou afundar propositalmente os dois barcos.

Quem achou os barcos no fundo do rio foi o dentista paranaense Gilmar Fontana da Veiga, quando fazia mergulhos no rio em busca de madeiras submersas para usar na construção de uma pequena casa em uma das ilhas do Rio Paraná. Os dois barcos estavam semissoterrados na areia do fundo, mas em bom estado de conservação, o que levou outro frequentador da região, o empresário Ismael Smanioto, dono de um hotel flutuante em Porto Rico, a montar uma operação para resgatá-los.

O objetivo era restaurar um dos barcos para fazer passeios turísticos pelo rio, e expor o outro na cidade. Mas os planos não foram adiante e os dois barcos acabaram abandonados no fundo do campo de futebol do município, expostos ao tempo e corroendo mais e mais a cada dia, sem que surja uma alternativa. Teria sido muito melhor deixar os barcos onde estavam, preservados no fundo do rio.

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