No início do ano passado, atendendo a um pedido de dois garotos escoceses, os irmãos Harry e Ollie Ferguson, de seis e oito anos respectivamente, um navio depositou na costa do litoral africano, na altura da Mautitânia, um barquinho de brinquedo, do tamanho de uma caixa de sapatos.

O objetivo, tanto dos meninos quanto do próprio capitão do navio, que decidiu embarcar na brincadeira depois de ter sido contatado pelos pais dos garotos, era descobrir se o tal barquinho, um pequeno navio pirata montado com pecinhas plásticas de Playmobil, mas com um aparelho de GPS dentro dele (além de um bilhete, escrito pelos próprios garotos, pedindo a quem o encontrasse que o devolvesse ao mar, para “seguir viagem”), conseguiria atravessar, sozinho, o Oceano Atlântico, movido apenas pelas correntes marítimas – um misto de brincadeira com experiência científica. E assim foi feito.

Pouco mais de três meses depois, para surpresa geral, o barquinho dos dois garotos (que, graças ao GPS, era monitorado o tempo todo através de um site criado pelos seus pais na internet) foi dar, intacto, na costa da Guiana, do outro lado do Atlântico, a quase 4 000 quilômetros de distância.

Ali, o barquinho prescreveu uma curva, embarcou em outra corrente marítima e seguiu “navegando” até as imediações da ilha de Barbados, onde, por fim, desapareceu das telas dos computadores.

A improvável façanha do barquinho de plástico que atravessou o oceano foi notícia no mundo inteiro e ajudou a transformar o projeto dos pais dos garotos, que prevê fazê-los participar de 500 aventuras e descobertas antes de completarem 18 anos, numa espécie de método educativo alternativo e serviu de estímulo para outras famílias fazerem o mesmo com seus filhos.

Algumas experiências do projeto eram bem singelas, como passar uma noite acampado no quintal de casa ou lançar um enorme aviãozinho de papel do alto de uma montanha, para ver por quanto tempo ele voava. Outras, bem mais elaboradas, como a própria viagem do barquinho de plástico de um lado a outro do Atlântico. “Mas, todas divertem os garotos e os fazem aprender algo novo”, disse o pai dos garotos, o escocês MacNeill Ferguson.

“No caso do barquinho, queríamos que eles aprendessem sobre as correntes marítimas de uma maneira prática e bem mais divertida do apenas lançando uma garrafa ao mar”, explicou.

Entusiasmada com a repercussão da curiosa travessia do barquinho em miniatura, uma editora inglesa decidiu lançar um livro contando a saga do brinquedo no Atlântico, façanha que os dois garotos e uma legião de fãs mundo afora, acompanharam, diariamente, pela internet.

Pena a brincadeira acabou.

Desde que atingiu a região entre Barbados e a Jamaica, o barquinho de plástico de meninos parou de emitir sinais de GPS e não pode mais ser monitorado.

Naufrágio? Sim, é possível, já que não passava de um brinquedo de plástico. Mas o mais provável é que a bateria que alimentava o seu GPS tenha apenas terminado, deixando o barquinho sem contato.

Neste caso, ele bem pode estar flutuando em algum ponto do mar do Caribe até hoje. E convém não duvidar disso, como duvidaram aqueles que achavam que um brinquedo jamais conseguiria atravessar, sozinho, um oceano inteiro.

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