Em 1983, o aventureiro inglês Gerard Kingsland publicou um anúncio de jornal no qual buscava a companhia de uma mulher para passar, com ele, “um ano inteiro em uma ilha deserta, feito Robinson Crusoé”.
Por mais absurda que a proposta parecesse, a inglesa Lucy Irvine respondeu ao anúncio. E aceitou a proposta. Para ela, era uma oportunidade de virar notícia, viver uma experiência única e – quem sabe? – até encontrar o homem da sua vida. Gerard aceitou a candidata. A única, por sinal.
A ilha escolhida por ele para aquela insólita experiência foi um ilhote no estreito de Torres, entre a Austrália e Papua Nova Guiné, chamado Tuin. E para lá os dois seguiram, com, praticamente, dinheiro só para a passagem de ida.
Com o que sobrou dos parcos recursos que os dois tinham, compraram alguns mantimentos para levar para a ilha. Basicamente, uma caixa de chá, dois sacos de frutas secas, uma caixa de macarrão, seis pacotes de arroz, um litro de óleo, um quilo de sal e muitas sementes – ou seja, praticamente nada para quem pretendia passar um ano inteiro numa ilha deserta.
Mas eles contavam que lá conseguiriam pescar, plantar e, eventualmente, até caçar, caso houvesse o que capturar.
Na Austrália, o casal embarcou em um barco que os deixou naquela ilha deserta – nem barco para retornar ao continente eles teriam, caso mudassem de idéia. Embora o objetivo fosse apenas “sobreviver, feito náufragos modernos”, como o próprio Gerard (que Lucy passou a chamar de “G”), definiu no seu destrambelhado projeto, a empreitada logo se revelou um completo desastre.
A começar pela falta de planejamento e de bom senso.
O mar que banhava a ilha de Tuin era cheio de tubarões e crocodilos de água salgada, que dizimavam os seres marinhos, deixando bem pouco para eles.
Além disso, nenhum dos dois tinha experiência em questões de sobrevivência, tampouco habilidades naturais para achar comida. Para piorar ainda mais as coisas, na época, uma seca fenomenal impediu que as sementes que eles levaram germinassem.
Logo, Lucy e Gerard passaram a viver apenas de peixes e cocos, quando conseguiam capturar um ou outro, já que nem subir nos coqueiros da ilha eles sabiam.
Como também não tiveram a sensatez de pedir que alguém fosse até a ilha de tempos em tempos, para saber se estava tudo bem, Lucy e Gerard rapidamente passaram a viver os horrores da desnutrição e do isolamento.
A salvação veio quando nativos das ilhas próximas passaram a visitá-los, atraídos pela curiosidade de ver o que aqueles dois malucos estavam fazendo, sozinhos, naquela ilhota deserta.
As visitas se tornaram cada vez mais frequentes. Numa delas, um dos nativos descobriu que Gerard sabia consertar motores e vários pescadores com problemas mecânicos em seus barcos passaram a chegar à ilha, em busca de ajuda.
Com isso, Tuin virou uma espécie de oficina mecânica ao ar livre. Só que, nessas alturas, Lucy e Gerard já viviam feito cão e gato.
Não demorou muito para um dos pescadores oferecer uma casa para Gerard trabalhar na ilha onde ele vivia, o que ele aceitou na hora.
Mas com uma condição: só iria para lá quando o projeto de passar um ano naquela ilha deserta na companhia de Lucy terminasse, o que, apesar dos pesares, os dois cumpriram até o fim.
Quando, porém, o prazo terminou, os dois partiram rapidamente. E em rumos opostos. Gerard virou mecânico na ilha de Badu e, mais tarde, morreu de infarto, em Londres, para onde retornou após um tempo. Já Lucy também retornou à Inglaterra, onde transformou a sua experiência em um livro e um filme chamado Castaway (“Náufraga”, em português).
“Meu erro foi ter me apaixonado pela proposta de uma ilha deserta, mas não por G”, escreveu ela na obra, que, por fim, a levou a alcançar relativo sucesso.
Graças ao livro e ao filme, Lucy atingiu o seu objetivo de se tornar conhecida, mesmo que ao preço de uma grande tolice.
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