No final da década de 1950, o então presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, enfrentava fortes críticas de seus opositores, sobretudo quanto a construção de Brasília e a transferência da Capital Federal do Rio de Janeiro para o então esquecido Planalto Central brasileiro.

Para provar que, a despeito das opiniões contrárias, levaria adiante os seus planos de erguer uma grande cidade (incluindo a criação de um gigantesco lago) onde antes não havia nada, JK teve mais uma de suas ideias ousadas: mandou transportar do Rio de Janeiro para a futura capital do país, um barco.

Mas não um barco qualquer e sim o próprio iate da Presidência da República, a então sofisticada lancha Gilda, que havia sido mandada construir por seu antecessor, Getúlio Vargas, e que ele gostava de usar nas horas vagas, na Baía de Guanabara.

Quando a lancha chegou ao colossal canteiro de obras do que viria a ser Brasília, depois de uma verdadeira epopeia pelas quase inexistentes estradas do interior brasileiro (redes elétricas tiveram que ser erguidas e pontes reforçadas para a passagem do barco, que pesava mais de 25 toneladas), sequer havia onde usá-la – porque o futuro lago Paranoá sequer estava formado.

Levar o iate presidencial para os confins do Planalto Central foi a maneira que JK encontrou para exemplificar que não voltaria atrás nos seus planos de levar a sede do poder para a futura capital. E assim ele o fez.

Quando, em 21 de abril de 1960, Brasília foi oficialmente inaugurada, a emblemática lancha, então um dos maiores iates do país, já estava nas águas do recém-criado Paranoá, na insólita condição de único barco do lago.

E ali ficou, servindo aos três presidentes que sucederam JK, mas nenhum com o mesmo apego que ele ao barco – embora Humberto Castelo Branco tenha usado a lancha algumas vezes para passear com os netos no lago, durante a ditadura militar.

Já Juscelino Kubitschek tinha verdadeiro amor pela lancha que ele mesmo batizou com o nome da mais famosa personagem de atriz-sensação dos anos que antecederam sua chegada ao poder: Rita Hayworth.

Gilda era o nome do filme – e da personagem – que marcou a carreira da atriz e foi escolhido por JK porque, segundo ele, “era uma lancha tão bonita quanto ela”.

Ninguém desfrutou mais de Gilda em Brasília do que JK, o presidente bossa-nova do Brasil que surgia, anfitrião de memoráveis festas na nova capital, que, não raro, terminavam em passeios no lago com seus convidados.

JK adorava mostrar Brasília aos visitantes estrangeiros sob o ponto de vista do lago Paranoá, e, para isso, usava a sua lancha-xodó.

Nela navegaram autoridades de países e artistas famosos, como Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Sempre que queria impressionar alguém, era à Gilda que JK recorria.

Até que, em 31 de janeiro de 1961, ele deixou o poder – e a lancha – nas mãos de outro presidente: o instável Jânio Quadros, que não durou muito no cargo.

E seu sucessor, João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964, teve mais com que se preocupar do que passear no lago com o “Barco de JK”, como a lancha ficaria eternamente conhecida.

Com isso, a outrora garbosa Gilda, projetada e construída pelo famoso projetista alemão Joachim Küsters, nas instalações do Arsenal de Guerra da Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro, nos anos de 1950 (juntamente com outro barco idêntico, a lancha Garça, que acabaria destruída por um incêndio), acabou esquecida no píer de uma churrascaria na beira do lado, e quase apodreceu totalmente.

Quando, na década de 1970, o empresário goiano Francisco Costa, fervoroso fã de JK, ficou sabendo do deplorável estado da lancha, tratou de fazer algo.

Convenceu, então, as autoridades para que permitissem que ele recuperasse o barco – algo fácil, porque a lancha, então semi-afundada na beira do lago, não passava de um monte de tábuas podres, expostas ao tempo.

Gilda foi içada e levada para Goiás, onde ficou até que Francisco, ao perceber que não teria como reformar o barco, pois lhe faltava conhecimento prático, buscou a ajuda de outro admirador de JK: o empresário carioca Gerard Souza, dono de uma loja de barcos em Brasília, cujo tio havia sido um dos engenheiros encarregados de construir a barragem que deu forma ao lago criado pela obstinação de Juscelino Kubitschek.

Gerard levou Gilda de volta à capital do país e, durante dez anos, gastou o equivalente ao preço de um barco novo para restaurar a lendária lancha, nos seus mínimos detalhes – inclusive os dois motores diesel GM Detroit construídos na década de 1930, e o timão, original, que fora guardado por Francisco em sua casa, como quem cuida de uma relíquia histórica.

Até que, em 2015, 55 anos depois de chegar à Brasília naquele gesto simbólico de Juscelino Kubitschek, Gilda voltou a navegar. Exatamente como era na época de JK.

As únicas alterações feitas por Gerard em relação ao projeto original do barco foram de ordem prática.

A lancha ganhou equipamentos necessários de segurança e um vaso sanitário no lugar do tosco balde que lhe servia de banheiro.

A ideia inicial era usá-la para levar crianças e alunos da rede pública de Brasília para passear no lago no “Barco dos Presidentes” e, ali mesmo, ter aulas sobre Juscelino Kubitschek e a cidade que ele construiu.

Mas, na prática, o plano nunca foi executado, porque exigia uma logística que Gerard não possuía.

Assim sendo, três anos depois de trazer Gilda novamente à vida, Gerard decidiu que o melhor destino para o famoso barco era um museu.

Depois de negociar com o empresário catarinense Carlos Alberto Oliveira Júnior, dono de um centro cultural em São Francisco do Sul, vendeu a lancha, na esperança de que, no novo local, ela pudesse ser admirada pelo público.

O que não aconteceu.

Hoje, a lendária lancha de JK está sendo leiloada na Internet pelo empresário que a comprou, com um lance mínimo de R$ 400 mil – pouco, perto do seu valor histórico.

Torce-se, agora, para que o futuro comprador zele pelo barco com o mesmo afinco de Francisco, Gerard e, sobretudo, o próprio JK.

 

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