A americana Ida Lewis tinha apenas 16 anos de idade quando, em 1857, assumiu o controle do farol de uma pequena ilha na entrada do porto de Newport, no estado de Rhode Island, tornando-se a mais jovem faroleira da História.
Mas não foi isso o que a tornou famosa e sim os salvamentos que ela promoveu, ao longo dos 57 anos em que viveu praticamente sozinha na pequena ilha de Lime Rock, onde ficava o farol sob sua responsabilidade.
O primeiro ato heroico de Ida Lewis aconteceu quando ela ainda tinha 12 anos de idade e havia acabado de se mudar para a ilha do farol com sua mãe e seu pai, então o faroleiro oficial.
Um barco com quatro homens a bordo virou na entrada da baía e Ida, já então uma exímia nadadora e remadora, os resgatou no mar, com a ajuda de seu pai.
O resgate foi feito com o único barco que a família possuía, um pesado bote a remo, que Ida manejava com incrível destreza, nas frequentes travessias até o porto, em busca de suprimentos para a família e para o farol. Nem de longe ele parecia uma criança.
Sua responsabilidade aumentou ainda mais quando, apenas meses após assumir o farol, seu pai sofreu um derrame cerebral e se tornou incapacitado para o trabalho.
Sua mãe, então, assumiu as funções de faroleira, mas não por muito tempo. Vítima de câncer, ela também logo adoeceu e todas as funções do farol passaram a ser desempenhadas por Ida, então apenas uma menina.
Cabia a ela não apenas cuidar da mãe doente e do pai incapaz de se movimentar como, também, fazer as funções de faroleira, repondo duas vezes por noite o óleo que gerava a chama que iluminava o farol, além de escalá-los diversas vezes por dia, em busca de náufragos que precisassem de ajuda na entrada da baía.
Numa dessas ocasiões, protagonizou o feito que a tornaria uma verdadeira heroína e a primeira mulher a receber uma medalha por bravura.
Em 29 de março de 1869, durante uma violenta tempestade de neve, um barco com dois soldados que se dirigiam a um forte nas proximidades capotou, lançando as duas vítimas na água.
Ida, então com 27 anos e já órfã de pai e mãe, viu a cena do alto do farol e imediatamente correu para o bote a remo.
Apesar do frio congelante – e de não ter sequer passado em casa para pegar mais casacos -, ela remou até os náufragos e os recolheu da água, já em estado de quase inconsciência causado pela hipotermia. Ambos sobreviveram, graças a coragem e iniciativa da jovem.
Pelo feito, Ida tornou-se a primeira mulher a receber a Medalha de Honra do Congresso Americano, bem como o título de “A Mais Brava Mulher da América”, honraria que manteve até o fim da vida.
Estima-se que ela tenha salvo 18 vidas enquanto trabalhou como faroleira solitária na ilha Lime Rock, o que fez durante sua ida inteira.
Quando Ida morreu, também de derrame, em 25 de outubro de 1911, aos 69 anos (apenas seis após fazer seu último resgate a remo, aos 63 anos), todos os navios do porto de Newport apitaram, em sua homenagem.
Em seguida, o farol de Lime Rock foi rebatizado com o seu nome, bem como o clube náutico da cidade, que passou a se chamar Ida Lewis Yacht Club – nome que mantém até hoje.
No ano passado, veio a mais recente homenagem: Ida Lewis tornou-se a primeira mulher a batizar uma alameda no lendário cemitério de Arlington, onde repousam os grandes heróis americanos – embora o seu corpo tenha sido enterrado em Newport, onde virou visita quase obrigatória.
A mais jovem faroleira que se tem notícia foi, acima de tudo, uma grande heroína.
Gostou desta história?
Ela é uma das 200 histórias náuticas verídicas que fazem parte do livro HISTÓRIAS DO MAR, que pode ser comprado por R$ 49,00 (o preço só vale até hoje), clicando aqui
O navio que se disfarçava de ilha
A camuflagem sempre foi um dos artifícios mais utilizados nas guerras. De rostos pintados a vestimentas que imitam o solo dos campos de batalha, praticamente todos os beligerantes já utilizaram o truque do mimetismo para enganar o inimigo. Mas poucos de maneira tão...
O misterioso submarino que invadiu o mar argentino
No primeiro dia de fevereiro de 1960, o radar do navio patrulha Murature, da Armada Argentina, detectou a presença de um submarino nas águas do Golfo Nuevo, no litoral sul daquele país. Como não havia nenhuma informação sobre a presença de um submarino atuando na...
O mistério do velejador que saiu para testar um piloto automático e nunca mais voltou
No início da tarde de 15 de janeiro de 2023, um domingo de sol, o velejador Edison Gloeden, mais conhecido como “Alemão”, dono de boa experiência em navegação, saiu sozinho com seu barco, um veleiro Brasilia de 32 pés, batizado “Sufoco”, da marina onde ficava...
A grande trapaça na maior das regatas
Em maio de 1967, o velejador inglês Francis Chichester virou ídolo na Inglaterra ao completar a primeira circum-navegação do planeta velejando em solitário, com apenas uma escala. O feito, até então inédito, animou os velejadores a tentar superá-lo, fazendo a mesma...
O incrível casal que o mar não conseguiu levar
Maralyn e Maurice Bailey eram um típico casal do interior da Inglaterra, mas com um sonho não tão comum assim: construir um veleiro e sair navegando pelo mundo. Queriam, sobretudo, ir velejando até a distante Nova Zelândia. Em 1967, depois de vender a casa onde...
A bizarra experiência náutica que deu origem ao Big Brother
Em 12 de maio de 1973, uma balsa com doze metros de comprimento por sete de largura partiu do Porto da Luz, nas Ilhas Canárias, com destino à costa do México, do outro lado do Atlântico, levando 11 pessoas a bordo – cinco homens e seis mulheres. Mas o principal foco...