Nos idos de 1960, quando eu morava no Rio de Janeiro e tinha uma lanchinha de 24 pés, costumava pescar com meus primos nas ilhas diante da cidade. E sempre víamos muita coisa boiando no mar: garrafas, sacos plásticos, caixotes, troncos de árvores… Certa vez, tive até que desviar de um boi morto.

Mas o mais curioso foi o que aconteceu durante uma saída de caça submarina nas Ilhas Cagárras, num sábado de 1964. Nós estávamos nos preparando para cair na água, quando vimos, a certa distância, um objeto escuro boiando no mar.

Embora estivéssemos acostumados a ver coisas estranhas flutuando na água, aquele objeto em particular chamou a nossa atenção. E resolvemos nos aproximar dele com a lancha. Era uma espécie de boia em forma de cone, totalmente coberta de cracas, o que mostrava que ela estava na água há muito tempo. Atada a ela havia um cabo rompido, com mais ou menos uns 20 metros de comprimento. E, na parte de cima, uma espécie de caixa metal, presa à boia por meia dúzia de parafusos.

Fiquei ainda mais intrigado com aquela caixa e resolvi trazer a boia para o barco, para ver o que havia dentro dela. Juntamos nossas forças e puxamos a bicha para dentro da lancha. Como era de se esperar, frente ao estado da boia, os parafusos estavam totalmente enferrujados e engripados. Peguei, então, um martelo e comecei a marretar os parafusos (blém, blém, blém…), até que, aos poucos, depois de muitas vigorosas cacetadas, eles foram afrouxando.

Por fim, a tampa da caixa abriu e revelou o que havia no seu interior: um aviso, escrito em inglês, com letras vermelhas. Dizia: “Danger! Explosive Setlement” (“Perigo! Artefato Explosivo”). Ou seja, era uma mina, dessas usadas para explodir navios! Uma bomba, que, segundos antes, eu marretava com todo vigor.

Ficamos parados, mudos, olhando um para o outro, sem sequer respirar mais forte.

Até que, passada a paralisia, fomos erguendo devagarzinho aquele grande cone de metal e o devolvemos suavemente ao mar, tomando o cuidado de empurrá-lo, com a ponta dos dedos, o mais longe possível da lancha.

Só quando julgamos que a distância já era suficientemente segura, ligamos o motor e caíamos fora, o mais rápido possível. Naquele dia, a pescaria foi cancelada.

Mais tarde, passada a tremedeira, concluímos que aquela mina já deveria estar desativada, porque não era possível que tivesse resistido a tantas marteladas.

Mas não deixava de ser curioso que um artefato como aquele, possivelmente ainda da Segunda Guerra Mundial, que havia terminado há quase 20 anos, viesse parar no mar do Rio de Janeiro, depois de ter atravessado o Atlântico inteiro à deriva – escapando dos navios, mas não da curiosidade de um grupo de paspalhos, que só depois de passada a tremedeira, deram muitas risadas.

História enviada pelo leitor Charles Templar

 

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