20 anos atrás, o casal Hélio Viana e Mara Blumer decidiu mudar radicalmente de vida. Um se aposentou e o outro pediu demissão do emprego de analista de sistemas, alugaram o apartamento onde viviam no Rio de Janeiro, se desfizeram de praticamente tudo o que tinham e foram morar no pequeno veleiro que eles mesmo haviam acabado de construir. Coisa de rico? Nada disso. Até porque, dinheiro é algo que eles nunca tiveram sobrando. Mas, desde então, garantem que vivem bem melhor do que antes, e com muito menos dinheiro.
A decisão de trocar o apartamento por um barco e a vida na cidade por uma vaga numa marina foi acalentada durante os muitos meses que os dois levaram construindo o pequeno barco, de pouco mais de oito metros de comprimento, com a ajuda de amigos. Até que o casal se encheu de coragem e resolveu experimentar viver nele, 20 anos atrás. “Nós teríamos que esperar até quando para mudar de vida?”, recorda Hélio. “Quando não pudéssemos mais aproveitá-la direito?”.
Até hoje, Mara e Hélio não se arrependem da escolha – embora, atualmente, dividam o tempo entre o barco e um minúsculo apartamento bem em frente a ele, na Marina Bracuhy, em Angra dos Reis, onde o casal vive desde que resolveu virar a própria mesa. “Diminuímos o padrão de vida, mas aumentamos infinitamente a qualidade da vida que passamos a ter”, recorda o casal sobre a decisão tomada duas décadas atrás, embora ela não tenha sido motivada pela vontade de ganhar o mundo viajando com um barco, como acontece na maioria desses casos.
“Gostamos de navegar, mas sempre passamos mais de 90% do tempo com o barco parado na marina, porque nossa proposta nunca foi sair velejando pelo mundo, já que isso exigiria um veleiro maior e mais recursos”, explica Hélio, hoje com 61 anos. “Para nós, o barco sempre foi, acima de tudo, a nossa casa, o lugar onde morávamos – e bem”, completa Mara, atualmente com 63 anos.
“E não foi só o tamanho da ´casa` que diminui”, ela prossegue. “Num barco, você muda as necessidades e logo aprende a viver com muito menos do que qualquer casal de classe média numa grande cidade, porque se você não tem grandes contas para pagar, não precisa de muito dinheiro para viver, além de se divertir muito mais”, completa Mara.
Mara e Hélio são casados há 37 anos e, embora tenham passado praticamente os últimos 20 vivendo sem terra firme debaixo dos pés, não se arrependem nem um pouco disso. O barco deles, de 29 pés, tem apenas pouco mais de 25 m2 de área, dividido entre a cabine, com um quarto com cama (triangular) de casal, uma saleta conjugada com a cozinha e um micro-banheiro, e o convés, do lado de fora – “o nosso quintal” eles brincam.
Mas Mara e Hélio se habituaram a viver com pouco espaço, tanto que o apartamento onde hoje passam parte do tempo, na própria marina, bem em frente ao barco, não é tão maior assim do que ele. “A gente, hoje, fica alternando entre o barco e o apartamento. Mas não passamos um dia sem ficar um bom tempo no veleiro, porque a sensação de estar sobre a água, mesmo parado na marina, é bem relaxante”, diz o casal, que, de vez em quando, também sai para passear com o seu barco-casa, pelas ilhas de Angra. “Às vezes, até passamos alguns dias fora, para visitar os amigos que também moram em barcos”, acrescenta Hélio. “O bom de morar num barco é que, quando você sai, leva a casa inteira junto”, brinca. “Todo mundo acha que viver num barco custa caro, mas é justamente o contrário”, ele garante.
Apesar do orçamento modesto e do barco acanhado, Mara e Hélio, há 20 anos, personificam o sonho de muita gente: o de viver no mar. Os dois também foram quase precursores no Brasil desta forma de vida e têm inspirado muitos outros casais a fazerem o mesmo. “Nós somos uma boa prova de que isso é perfeitamente possível”, diz Mara.
Foto: Douglas Roquete
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