Já faz tempo que os ambientalistas vêm tentando alertar a população do planeta sobre a eminente extinção de algumas espécies de atuns, caso não se diminua imediatamente o consumo e a consequente captura deste peixe.
Mas os números mostram que eles não estão conseguindo tirar algumas espécies de atuns da lista dos animais ameaçados de desaparecer para sempre dos mares, ao contrário do que aconteceu com as baleias, no passado.
Exagero de ecologistas xiitas?
Não, não é o que diz, também, o bom senso.
Veja aqui 10 (sensatos) motivos para tirar o atum do seu cardápio, pelo menos por um bom tempo:
1 – O atum vem sendo capturado em quantidades cada vez maiores.
Apesar de a população de atuns nos oceanos vir diminuindo drástica e rapidamente, continua havendo sobrepesca, ou excesso de captura das suas espécies em todo o planeta.
Estima-se que, atualmente, seis milhões de toneladas deste peixe são pescadas anualmente, bem mais que o ideal, que seria preservar entre 40% e 60% dos cardumes em idade reprodutiva, a fim de garantir a preservação da espécie e o próprio consumo humano no futuro.
A pesca industrial usa até aviões equipados com sonares para localizar os cardumes em alto mar, para, em seguida, enviar navios para capturá-los.
É uma matança generalizada, que costuma gerar até ações hostis entre os barcos pesqueiros na disputa pelos maiores cardumes, na chamada Guerra do Atum.
2 – Das oito espécies de atuns, três já correm risco de extinção.
A mais recente lista de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional para Conservação da Natureza classificou o atum azul, o mais cobiçado e que vive nas águas do Oceano Pacífico, como “vulnerável”, primeiro grau na escala final da entidade.
Cientistas estimam que a população daquela espécie já tenha sido reduzida em mais de 90%, em pouco mais de meio século de pesca industrial.
Se nenhuma medida for tomada rapidamente, a extinção desse tipo de atum é dada como certa. E outras duas espécies estão sob o mesmo risco.
No total, das oito espécies de atuns que existem no planeta, três estão seriamente ameaçadas de extinção – e outras, como o atum de olhos grandes (big–eyed) e o de nadadeiras amarelas (yellowfin), que habitam os mares brasileiros, sobretudo no Nordeste, também já estão em situação crítica.
O principal motivo é o aumento brutal no consumo deste peixe de carne escura, marcante e hoje altamente apreciada, sobretudo após a popularização dos restaurantes japoneses em todo o mundo, o que impulsionou a sua captura exagerada.
Quando os restaurantes japoneses ainda estavam praticamente restritos ao Japão, isso não acontecia. Porque o consumo era bem menor.
3 – No Brasil, não há criação de atuns em cativeiro.
Nem no Brasil, nem no resto do mundo. Praticamente, só o Japão cria atuns em ambientes confinados, mas, ainda assim, em quantidade insuficiente para abastecer sequer o próprio mercado japonês.
Além disso, o sabor e a qualidade do peixe criado em cativeiro deixam a desejar para os exigentes consumidores japoneses, para quem o consumo atum faz parte da própria cultura do país.
Trata-se, ainda, de uma criação difícil, porque o atum exige mar aberto e muito espaço para movimentar sua poderosa musculatura, a fim de gerar a porcentagem adequada de gordura que dá sabor à sua carne – daí alguns exemplares serem considerados excepcionais e, por isso mesmo, valiosíssimos no mercado culinário japonês.
Para tentar melhorar a qualidade do atum de cativeiro, algumas empresas japonesas recorrem à captura de larvas e exemplares juvenis da espécie no mar aberto, para posterior engorda em suas fazendas marinhas.
Com isso, comprometem ainda mais o crescimento da população da natureza.
4 – Ficou muito mais fácil comprar e conservar o atum.
No último século, duas invenções contribuíram sobremaneira para fazer o consumo de atum disparar no mundo.
Uma delas foi a invenção da geladeira, que permitiu estocar peixe fresco por muito mais tempo – tanto nas casas quanto nas empresas de pesca, através do congelamento.
Outra, ainda mais prosaica, foi o desenvolvimento do processo de conservação do atum em latas.
Sem o risco da deterioração da carne, latas de atuns passaram a inundar as prateleiras dos supermercados.
As duas facilidades, neste caso, também estimularam o consumo exagerado.
5 – O consumo de atuns explodiu no mundo inteiro.
Por conta, especialmente, da globalização da culinária japonesa, da proliferação de restaurantes do gênero, da popularização de sushis e sashimis mundo afora, e do próprio aumento da população do planeta, o consumo de atum aumentou oito vezes nos últimos 60 anos – bem mais do que a natureza é capaz de suportar.
O resultado tem sido a diminuição acelerada e extremamente perigosa dos estoques existentes nos oceanos.
O que se busca, agora, é uma espécie de “moratória” na sobrepesca do peixe mais ameaçado do momento, para dar tempo de os cardumes se recomporem.
6 – Há muita corrupção nas cotas da indústria pesqueira.
A pesca do atum é regulada por órgãos internacionais, que deveriam fiscalizar e quantificar as capturas das diferentes espécies.
Mas isso não acontece.
Por dois motivos: é quase impossível fiscalizar a imensidão dos oceanos (e a quantidade de peixes deles extraídos), e a corrupção impera em praticamente todas as entidades do gênero – que, costumeiramente, autorizam a captura de muito mais peixes do que deveriam.
Como se não bastasse, ainda há o mercado negro de compra e venda de atuns, que, estima-se, seja responsável de um terço dos peixes da espécie consumidos no planeta.
Ou seja, tanto nos órgãos regulatórios quanto no hábito dos pescadores, não existem muitas esperanças para algumas espécies de atuns.
7 – Alguns atuns viraram iguarias que valem muito dinheiro.
Desde que os japoneses elegeram a carne da barriga do atum azul como a melhor matéria prima para sashimis do planeta, o preço de alguns exemplares deste peixe passou a valer verdadeiras fortunas – e até transformaram o tradicional leilão de atuns do principal mercado peixeiro de Tóquio em atração turística.
Ali, no ano passado, um incrível exemplar de 278 quilos de atum azul foi vendido por ainda mais incríveis US$ 3,1 milhões (quase R$ 13 milhões), o que fez o quilo de sua carne custar o equivalente a inacreditáveis R$ 44 000,00!
O macabro recorde serviu para propagar mundo afora as virtudes da carne do atum azul, impulsionando ainda mais o seu consumo, sobretudo nos países emergentes da Ásia, como a China, onde o apetite dos novos ricos não possui limites, muito menos bom senso.
8 – O declínio do atum afeta, também, outras espécies marinhas.
Como tudo na natureza, quando uma espécie entra em declínio, há um desequilíbrio em todo o sistema e cadeia alimentar.
Portanto, o extermínio do atum geraria consequências, também, em outras espécies de seres marinhos, que deles se alimentam ou por eles são predados.
E estes impactos ambientais colaterais também viriam em curtíssimo prazo.
9 – Alguns restaurantes já não estão servindo pratos feitos com atum.
Em Mônaco (país que, por influência do seu Príncipe ambientalista, Alberto II, liderou a proposta de um boicote mundial ao consumo do atum azul – mas perdeu feio), já é praticamente impossível comer qualquer prato que contenha atum nos restaurantes de Monte Carlo.
Nem mesmo comprar uma simples latinha no supermercado.
E a medida – radical ao extremo – vem sendo vista com bons olhos por outras nações europeias, que, no entanto, ainda estão longe de copiar a decisão do Principado.
Em compensação, o atum azul, embora qualificado como iguaria, já foi banido dos menus dos principais chefs europeus. E alguns explicam o porquê disso no próprio cardápio.
No Brasil, onde não existe o atum azul (um exemplar pescado por brasileiros na costa da África, anos atrás, gerou um verdadeiro frison nos donos restaurantes japoneses de São Paulo, em busca de um naco daquela carne, que foi vendida a R$ 400,00 o quilo e acabou em minutos), ainda não há motivos para tamanho radicalismo – embora as duas espécies que frequentam nossas águas já estejam em situação ligeiramente crítica, mas em níveis não tão elevados.
10 – A carne do atum é perfeitamente substituível pela de outros peixes.
Embora o bacalhau e algumas espécies de dourados também estejam sob risco de extinção pela pesca exagerada, há muitas opções para substituir o atum à mesa.
Mesmo nos restaurantes japoneses.
Há, no entanto, suspeitas de que, no Japão, algumas empresas de pesca já estejam estocando exemplares congelados de atuns azuis, para, no futuro, quando a população da espécie estiver menor ainda, vendê-los a preços exorbitantes, sob a lógica de que, quanto mais raro, mais caro.
“O último atum azul certamente custará milhões de dólares, que serão pagos por milionários ávidos pelo privilégio de extinguir a espécie”, diz o jornalista brasileiro especializado em questões ambientais no mar, Alfredo Nastari.
Por tudo isso, que tal diminuir o consumo?
Ninguém irá morrer se não comer (ou comer menos) atum durante um tempo.
Já eles, com certeza, sim.
Foto: Igualdad animal
Como três brasileiros foram enganados pelo dono de um veleiro e acabaram presos
Em 2017, três jovens e inexperientes velejadores brasileiros (o gaúcho Daniel Guerra e os baianos Rodrigo e Daniel Dantas - que, apesar da mesma origem e sobrenome, não eram parentes) responderam ao anúncio de uma empresa internacional de transporte de barcos, que...
O injustiçado encantador de orcas selvagens
Oito anos atrás, quando o filme O Farol das Orcas foi lançado, o biólogo marinho argentino Roberto Bubas, que sempre preferiu ser chamado apenas de Beto, viu sua vida virar de cabeça para baixo. De repente, aquele discreto e quase recluso fiscal de uma reserva marinha...
As apavorantes “ondas loucas” oceânicas
Na tarde do dia 1 de janeiro de 1995, pela primeira vez, uma onda oceânica com proporções fora de qualquer padrão foi registrada e testemunhada por várias pessoas ao mesmo tempo. O colosso de água chegou a 26 metros de altura (num dia em que o tamanho das ondulações...