No início de agosto do ano passado, o rebocador holandês Alp Centre partiu do Rio de Janeiro levando a reboque aquele que já foi o maior navio militar brasileiro: o ex-porta-aviões São Paulo, que estava parado havia cinco anos.

Destino: um estaleiro em Aliaga, na Turquia, onde o imenso navio, de 266 metros de comprimento (cuja reforma, orçada em cerca de R$ 1 bilhão, fora considerada inviável) seria desmontado e transformado em sucata.

Seria…

Porque, dias depois, o governo turco proibiu a entrada do porta-aviões no país e ele teve que retornar ao Brasil, quando já estava do outro lado do oceano.

O motivo fora a quantidade não sabida de amianto, material tóxico e cancerígeno mundialmente condenado, que havia bordo do velho porta-aviões, embora um inventário feito no Brasil, antes da partida, tivesse atestado 9,6 toneladas, quantidade largamente contestada.

Desde então, o destino do ex-porta-aviões brasileiro se tornou uma encrenca ambiental e jurídica do tamanho do próprio navio.

E quem está por trás de tudo isso é um humilde morador da periferia de São Paulo, cuja ligação com o gigantesco porta-aviões é apenas afetiva: o ex-soldado da aeronáutica Emerson Miura, de 51 anos de idade.

Cinco anos atrás, ao saber que o porta-aviões seria leiloado para ser transformado em sucata, Miura, na época casado com a comerciária Simone Keiko, resolveu fazer algo para tentar salvar o navio, que ele conhecera uma única vez, durante uma visita pública, no Rio de Janeiro.

Criou, então (mas só no papel, porque lhe faltavam recursos para ir além disso) um instituto, que batizou de Foch-São Paulo (“Foch” era o antigo nome do porta aviões, antes de ser comprado da França, em 2000), cuja missão era a de tentar transformar o navio em um centro cultural e assim preservá-lo.

Recebido com desdém e desatenção pelas autoridades responsáveis pela embarcação – para os quais Miura não passava de “ingênuo sonhador” -, ele, até hoje, não conseguiu fazer decolar o seu projeto transformador.

Mas já conseguiu uma vitória difícil de se imaginar: a da volta do porta-aviões ao Brasil.

Emerson Miura mora quase de favor em uma pequena casa de um tio que morreu, em um subdistrito da Penha, na Zona Leste de São Paulo, não tem carro, anda de ônibus e ganha vida como massoterapeuta autônomo, atividade que lhe rende em torno de R$ 2 000,00 por mês – pouco mais que um salário mínimo e insuficiente para pagar todas as contas, razão pela qual o site do instituto que ele criou na Internet está fora do ar, há meses.

“Precisei cortar despesas”, explica Miura, que já foi office boy, escriturário e vendedor ambulante de perfumes.

Para completar o orçamento, quando a sorte ajuda e alguém encomenda, ele faz kirigamis, maquetes e modelagens em papel, técnica que aprendeu durante os 13 anos em que viveu no Japão, trabalhando como operário de fábrica, após uma breve passagem pela Aeronáutica, onde não ficou mais de um ano, como simples soldado.

Mesmo assim, até hoje, Miura nutre profunda admiração pela vida militar, a ponto de abraçar a causa do maior porta-aviões que o Brasil já teve.

Mas não foi só esse o motivo que fez o paulistano Miura se tornar o mais ferrenho e ativo defensor do porta-aviões brasileiro cujo destino ainda é incerto.

Houve, também, uma razão pessoal e emotiva ainda mais forte: a morte de sua esposa, que compartilhava com ele o mesmo desejo de ver o porta-aviões virar uma espécie de museu flutuante.

“Ela morreu de câncer, dois anos atrás, mas, antes, me pediu para seguir em frente e não desistir do projeto. É o que estou fazendo”, diz Miura, que, até hoje, sempre chora ao lembrar da esposa.

“Depois que minha esposa morreu, passei a me dedicar ainda mais a defesa do porta-aviões, porque era isso que ela queria que eu fizesse. Enquanto ele existir, lutarei pelo navio, também em memória dela”, diz Miura.

“Já me chamaram de tudo: romântico, sonhador, maluco. Não me importo. Luto por uma causa, que é a conservação de um bem público e a sua transformação em algo educativo, não em sucata”, explica.

“É uma oportunidade única de preservar o maior navio que o Brasil já teve”, finaliza.

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