Em 9 de fevereiro de 2013, uma fortíssima tempestade de inverno se abateu sobre o mar da costa nordeste dos Estados Unidos, gerando ondas de seis metros de altura e ventos que passavam dos 100 km/h.

No meio dela, estava o veleiro Wolfhound, com quatro irlandeses a bordo: Declan Hayes, Morgan Crowe, Tom Mulligan e Alan McGettigan – este, dono do barco e um velejador famoso na Irlanda, onde sempre participava de regatas, representando o aristocrático Royal Irish Yacht Club.

Mas, naquele dia, McGettigan não estava competindo.

Apenas levava para casa, na Irlanda, seu novo barco, que comprara nos Estados Unidos: um bonito veleiro da marca Swan, de 48 pés, avaliado em cerca de meio milhão de dólares.

A primeira perna da longa jornada até o outro lado do Atlântico começara em Connecticut, iria até as Ilhas Bermudas, centenas de milhas náuticas adiante, e fora prevista para ser feita durante uma janela favorável de tempo, entre as frequentes tormentas de inverno na região.

Mas a meteorologia mudou no meio da travessia e pegou o grupo de surpresa.

Por conta da tempestade, que chegou de maneira tão violenta quanto inesperada, o barco de McGettigan sofreu nada menos que três emborcamentos no mar.

O último deles, nas primeiras horas da manhã daquele 9 de fevereiro, danificou o motor e o sistema de energia do barco, embora, milagrosamente, não tenha afetado o mastro do veleiro.

Assustado com aquela sequência de capotamentos, e temeroso do que ainda poderia vir pela frente, McGettigan tomou uma decisão tão drástica quanto – como ficaria comprovado, mais tarde – precipitada: acionou o equipamento automático de pedido de socorro, e, junto com seus companheiros, se preparou para abandonar o barco no mar, quando estavam a cerca de 70 milhas de distância das ilhas Bermudas.

Tão logo o pedido de socorro chegou à base da Guarda Costeira Americana, uma equipe de resgate embarcou em um avião Hercules, um dos poucos da corporação com autonomia para ir e voltar tão longe da costa, e partiu em busca do veleiro sinistrado.

Embora o dia já tivesse amanhecido, as condições de visibilidade eram mínimas, por causa da tempestade.

Mesmo assim, após um par de horas voando em círculos, a equipe de resgate localizou o veleiro no mar.

Mas não teve como içar seus ocupantes, já que estavam em um avião, não em um helicóptero.

O máximo que a equipe pode fazer foi, com base nas coordenadas de localização do veleiro, acionar dois navios cargueiros que estavam relativamente próximos, a fim de realizar o resgate dos quatro irlandeses.

A operação foi difícil, por conta da força dos ventos e das ondas, durou quase seis horas, mas, por fim, o cargueiro grego Tetien Trader conseguiu embarcar os velejadores, e seguiu viagem, para a Europa, onde eles desembarcaram, duas semanas depois.

Já o veleiro Wolfhound foi deixado à deriva no mar, com a certeza de, com a intensidade daquela tormenta, e sem ninguém para comandá-lo, logo afundaria.

McGettigan tinha certeza disso.

Mas ele estava enganado.

Nove semanas depois, quando até a companhia seguradora já havia dado o barco como perdido e providenciava o pagamento do seguro, o explorador, cineasta e velejador americano Matt Rutherford, retornava de uma expedição oceânica, quando avistou o que parecia ser um veleiro parado no meio do mar, já que suas velas estavam estranhamente arriadas.

Intrigado, tentou fazer contato pelo rádio.

E não teve nenhuma resposta.

Decidiu, então, se aproximar para ver se havia algum movimento a bordo.

Nada.

O passo seguinte de Rutherford foi embarcar naquele estranho, mas bonito veleiro, apesar do temor de que encontrasse algo sinistro a bordo, como um cadáver – preocupação que deixou clara ao gravar um vídeo entrando no barco.

Dentro dele, porém, Rutherford só encontrou a habitual desordem que costuma acometer os barcos que são abandonados às pressas, frente a uma emergência, como havia sido o caso do veleiro de McGettigan – cujo nome, pintado em letras garrafais na popa, não deixava a menor dúvida.

Era ele: o Wolfhound.

Mas o mais impressionante é que o barco estava em perfeito estado, com o mastro ainda intacto, e jazia, placidamente flutuando, a mais de 800 milhas de distância das Ilhas Bermudas, a despeito de ter sido abandonado bem próximo a elas, apenas pouco mais de 60 dias antes.

Em pouco mais de dois meses, empurrado apenas pelos ventos e correntezas, o Wolfhound navegara mais de 700 milhas náuticas, o que era algo igualmente extraordinário.

Rutherford tentou rebocar o barco e levá-lo para os Estados Unidos.

Mas, após menos de 50 milhas, concluiu que seria impossível.

Novamente, então, deixou o Wolfhound à deriva no mar, após notificar a Guarda Costeira – que, por sua vez, avisou McGettigan, que, no entanto, não teve como resgatar o barco.

O que aconteceu com o veleiro do irlandês depois disso é um mistério guardado a sete chaves pelo oceano.

Mas é praticamente certo que, em algum momento, ele afundou, já que nunca mais foi avistado.

No entanto, dois meses atrás, o sombrio passado do Wolfhound voltou à tona, com a divulgação, na internet, do espetaculoso vídeo que Matt Rutherford gravou ao abordar o veleiro abandonado no mar, quase dez anos antes – fato que gerou pesadas críticas, já que as imagens (que bombaram nas redes sociais) não revelam quando elas foram feitas.

Por que Rutherford levou tanto tempo para divulgar o vídeo?

Ele não respondeu.

Uma das hipóteses é que tenha sido por respeito ou homenagem a Alan McGettigan, já que o irlandês morrera apenas um mês antes, em novembro do ano passado, de causas naturais.

Mas nem a morte poupou o famoso velejador irlandês das pesadas críticas que recebeu dez anos atrás, quando, ao abandonar seu barco no mar, ignorou uma das mais elementares lições que os velhos marinheiros têm para dar: aquela que prega que, se o barco estiver em bom estado (como estava o Wolfhound, ao ser abandonado, e como comprovou mais tarde, ao ser encontrado), o lugar mais seguro será sempre a bordo dele.

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