Em 2011, ao socorrer um amigo pescador cuja rede havia enganchado em algo no fundo do mar, a cerca de 25 milhas do Cabo São Tomé, próximo à divisa entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, o também pescador Everaldo Meriguete teve uma surpresa: havia um “barco afundado lá embaixo”, como ele contou ao amigo, ao retornar à superfície.

Mas aquele não era um “barco” como outro qualquer. Era um navio. E um navio da Segunda Guerra Mundial: o Vital de Oliveira, desaparecido há quase 70 anos, única nave da Marinha do Brasil que afundada durante aquele conflito, após ter sido torpedeada pelo submarino alemão U-816, na noite de 19 de julho de 1944, gerando a morte de 150 marinheiros brasileiros.

Naquele dia, finalmente, o triste fim do Vital de Oliveira (batizado com o mesmo nome do primeiro barco da Marinha do Brasil a dar a volta ao mundo e que também virou notícia ruim, porque nove marinheiros morreram durante a longa viagem) parecia ter saído do esquecimento. Mas não foi bem assim.

A tragédia do Vital de Oliveira, um navio-auxiliar da Marinha do Brasil, começou a ser escrita ainda na manhã do dia em que ele desapareceria, quando, depois de uma escala na distante ilha de Trindade, quase no meio do Atlântico, ele partiu do porto de Vitória, no Espírito Santo, rumo ao Rio de Janeiro, levando a bordo, além de 250 tripulantes, um carregamento de madeira.

Como se tratava de um navio auxiliar, era comum o Vital transportar carga, daí aquelas pranchas de madeira alocadas em boa parte do convés – e que, horas depois, seriam a salvação de muitos sobreviventes. Como também era praxe em tempos de guerra, ele partiu escoltado pela embarcação caça-submarinos Javari, também da Marinha, o que, no entanto, se mostraria completamente inútil poucas horas depois.

Ao anoitecer daquele 19 de julho, os dois navios se aproximaram da divisa com o Rio de Janeiro e, horas depois, atingiram o través do temido Cabo São Tomé, local de navegação nada fácil, por conta do mar quase sempre agitado.

E foi ali que tudo aconteceu.

Faltavam cinco minutos para a meia-noite, quando um dos dois torpedos disparados pelo submarino alemão U-861 explodiu no costado de boreste do Vital de Oliveira, bem perto da popa, contorcendo o navio inteiro – que começou a afundar imediatamente.

Tão rápido que não deu tempo nem de quem estava na casa de máquinas (se é que alguém conseguiu sobreviver a explosão causada pelo torpedo) subir para tentar escapar da enxurrada de água que entrava.

Instantaneamente, todas as luzes se apagaram, ao mesmo tempo em que o navio, já agonizante, começou a se inclinar violentamente para trás, por conta do peso da água. Em cinco minutos, o Vital de Oliveira foi engolido por inteiro pelo oceano.

Quem não sucumbiu na explosão ou não foi arrastado para o fundo do mar pelo próprio navio, só escapou vivo das águas revoltas do cabo naquela noite graças as pranchas de madeira que o Vital de Oliveira transportava.

Quando o navio afundou, elas flutuaram e serviram de apoio para os náufragos. Foi a única ajuda imediata que eles tiveram, porque o barco de escolta, que deveria zelar pela integridade dos ocupantes do Vital, nada fez.

O Javari, que navegava um pouco à frente do Vital, seguiu avançando, como se nada tivesse acontecido com o navio que ele deveria justamente proteger. Só quando o barco de apoio chegou ao Rio de Janeiro, sozinho, na manhã seguinte, é que alguma providência foi tomada.

O Javari, então, foi mandado de volta ao cabo, em busca de algum sinal do navio desaparecido. Mas tudo o que seus oficiais encontraram foram alguns náufragos ainda na água, à espera do resgate, que até então vinha sendo feito de maneira precária por um barco pesqueiro.

Quando todos os sobreviventes foram recolhidos e contados, a macabra contabilidade do ataque do U-861 ao navio brasileiro somava exatos 150 mortos, mais da metade da quantidade de homens que havia a bordo.

Apenas 100 tripulantes sobreviveram. Mesmo assim, o inexplicável comportamento do barco de apoio jamais teve uma explicação convincente.

Logo após o episódio, comandantes e oficiais do Javari foram transferidos para outras áreas da Marinha, e o caso caiu num cômodo esquecimento.

Nunca ninguém foi punido.