A Ilha Bouvet, no extremo sul do Atlântico, é uma das mais isoladas e inóspitas porções de terra do planeta – além de ser a ilha desabitada mais remota do mundo.

A localidade mais próxima dela fica a mais de 1 600 quilômetros de distância, e é uma igualmente erma península da Antártica, onde também não vive ninguém.

Nem terra propriamente dita a Ilha Bouvet tem.

Só lavas vulcânicas, permanentemente cobertas de gelo e neve.

A ilha também fica fora de qualquer rota de navegação, e bem distante de todas elas, razão pela qual não costuma ser visitada por nenhum barco.

Daí a surpresa dos técnicos de uma empresa de pesquisa encarregada de fazer a instalação de estações meteorológicas naquela ilha deserta, quando ali chegaram, em 1964, e deram de cara com um bote salva-vidas de madeira, em relativo bom estado, fincado na única praia de Bouvet.

Perto dele, havia dois remos, um galão vazio, mas nenhum vestígio de quem os teria usado ou conduzido aquele misterioso barco até a ilha.

Teria ele sido usado por algum náufrago, já que não havia outro motivo para alguém ir até aquele fim de mundo, ainda mais a remo?

Se sim, por que aquele suposto náufrago não usara o próprio bote, devidamente emborcado, como abrigo contra as inclemências climáticas da Ilha?

Aquele bote fincado na praia de uma ilha desabitada não fazia o menor sentido.

Intrigados, os pesquisadores foram embora, mas registraram o estranho achado no diário de bordo do navio inglês que os havia levado até Bouvet, o HMS Protector – e o fato se espanhol pela comunidade marítima.

Dois anos depois, outra expedição da mesma empresa voltou à ilha, para implantar a tal estação meteorológica, e – surpresa! – nem o bote nem os remos nem o galão estavam mais na única praia de Bouvet.

Como aquele bote que ninguém nunca soube de onde veio – e com quem a bordo? – sumiu da praia onde estava encalhado, é um enigma que dura até hoje, apesar de algumas teorias a respeito.

Nunca se soube ao certo a origem (nem o fim) daquele misterioso bote salva-vidas encontrado em Bouvet.

Mas, como nenhuma ossada humana jamais foi achada na ilha, a teoria do náufrago que teria chegado remando, após seu barco ter afundado no sul do Atlântico, passou a ser questionada, embora a neve abundante da ilha pudesse ter facilmente encoberto seus despojos.

 

A mais provável explicação veio anos depois, quando ficou comprovado que, dez anos antes da chegada dos técnicos do HMS Protector à Bouvet, uma equipe científica russa havia visitado a ilha, a bordo do navio de pesquisa Slava-9, e alguns membros desembarcaram, com a ajuda de um pequeno barco, a fim de vasculhar a área.

Mas, surpreendidos por uma das costumeiras tempestades de Bouvet, teriam ficado presos na ilha.

Durante dois dias, o grupo teria tentado retornar ao navio.

Mas não conseguiram.

O capitão da operação teria decidido, então, enviar um helicóptero, aeronave que começava a ser usadas em pesquisas científicas na Antártica, e que o navio transportava, para retirar o grupo, deixando, porém, na ilha o bote usado para o desembarque.

Esta é a explicação mais aceita até hoje para o maior dos mistérios de Bouvet.

Mas, e o sumiço posterior do bote, dos remos e do galão?

Para essa questão, a única explicação é que, por conta de outra tempestade, após a partida dos ingleses, o barco teria afundado e os remos e o galão levados pela correnteza para o alto mar, onde nunca mais foram encontrados – algo ali fácil de acontecer, porque não existe nada perto da esquecida Ilha Bouvet.

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