O irlandês Paul Boyton foi uma espécie de marinheiro que jamais precisou de um barco para navegar – porque usava o próprio corpo para isso.
No final do século 19, quando trabalhava como salva-vidas numa praia americana, ele conheceu uma novidade que mudaria sua vida para sempre: uma roupa de borracha que inflava e fazia o seu usuário boiar feito uma rolha na água.
Ela havia sido recém-criada pelo americano Clark Merriman (que batizara a novidade com o seu sobrenome), para ajudar a salvar vítimas de naufrágios.
Cobria o corpo inteiro, feito uma roupa convencional de mergulhador, mas tinha câmaras internas de ar que permitiam ao corpo flutuar, sem nenhum esforço.
Boyton, que era um aventureiro nato, ficou tão fascinado com aquela inovadora roupa de borracha que se ofereceu para virar garoto-propaganda da invenção e de uma maneira bem original: “navegando” (e não apenas boiando) com ela.
Seu objetivo era ficar famoso e lucrar com isso. Além de se divertir, porque sempre gostou fazer coisas diferentes.
Entre uma escapada e outra para combater, como voluntário, em conflitos que nada tinham a ver com ele, como a Guerra Civil Americana, Boyton começou a fazer pequenas travessias com aquela estranha roupa inflável.
Ele vestia o traje, entrava na água e seguia, boiando, para onde a correnteza o levasse.
Às vezes, usava um pequeno remo ou um prosaico guarda-chuvas como “vela”, para dar algum rumo ao seu deslocamento.
Com o tempo, foi ganhando destreza e confiança no seu peculiar meio de navegação. E passou a reunir pequenas platéias nas exibições que fazia nas praias de Atlantic City. Virou, enfim, uma atração turística.
Mas ainda era pouco para ele.
Boyton queria mais. Queria ficar mundialmente famoso e decidiu que, para isso, precisaria navegar num oceano de verdade com aquela estranha roupa.
Nunca ninguém jamais tentara nada igual. E isso o entusiasmava.
Boyton traçou um plano. Embarcaria num navio e, quando ele estivesse longe da costa, pularia na água e voltaria boiando, com a ajuda de um pequeno remo.
Nos primeiros dias de outubro de 1874, ele embarcou no vapor Queen, que seguia dos Estados Unidos para a Irlanda, e, quando o navio estava a cerca de 450 quilômetros do litoral, vestiu a roupa de borracha, aproximou-se da amurada e, no instante em que ia deslizar para a água, foi barrado por um oficial do barco, que o impediu de fazer aquilo, por temer problemas com as rígidas autoridades americanas.
– Deixe para fazer sua experiência quando chegarmos às águas da Irlanda, que é o seu país natal”, disse-lhe o oficial. Boyton achou aquela sugestão melhor ainda, porque, na Irlanda, seu feito ganharia ainda mais notoriedade.
Assim sendo, quando o navio se aproximou da costa irlandesa, Boyton, apesar do mar agitado, pulou na água e foi “navegando” com o próprio corpo até o litoral, onde foi recebido como ídolo nacional.
Lá, virou o “Destemido Homem-rã”, título com o qual ficou conhecido em boa parte da Europa, depois de realizar outras façanhas com sua estranha roupa. Como navegar nos principais rios do continente (Tâmisa, Reno, Sena e Danúbio) e cruzar o famoso Canal da Mancha, entre a França e a Inglaterra, numa travessia ininterrupta de 24 horas, na qual, pela primeira vez, remou e velejou ao mesmo tempo, após adaptar um pequeno mastro, com vela, na ponta dos pés.
Com o tempo, Boyton foi incorporando novos elementos a sua inusitada forma de navegar.
Nas travessias mais longas, passou a incluir na sua roupa uma bússola, buzina, água, comida, foguetes sinalizadores e até uma espécie de tridente, para, segundo ele, afastar eventuais tubarões.
Nas exibições, aparecia lendo ou fumando enquanto boiava, picardia que lhe rendeu até uma marca de charuto batizada com o seu nome.
Conseguiu, enfim, ficar famoso, como sempre ambicionara. Mas não parou por aí.
Aventureiro incorrigível, em 1880, Boyton aceitou atuar como voluntário na guerra do Peru contra o Chile, usando sua silenciosa e imperceptível forma de navegar para se aproximar dos navios chilenos e fincar-lhes bombas de disparo retardado nos cascos.
Conseguiu alguns resultados, mas, com a vitória chilena no conflito, foi considerado inimigo e quase acabou preso. Escapou por pouco e voltou aos Estados Unidos.
Lá, retomou as apresentações com sua roupa especial, mas, desta vez, em um local fechado, em Chicago, junto com alguns animais marinhos amestrados.
Batizou o local de “Águas de Boyton” e tornou-se, com isso, o precursor dos parques temáticos.
Em seguida, mudou-se para os arredores de Nova York, onde ampliou o seu show e fundou o Sea Lion Park, que, mais tarde, viria a ser a base para o até hoje mais célebre parque de diversões dos Estados Unidos, o histórico Coney Island, um dos ícones do lazer americano no século passado.
Boyton morreu anos depois, rico, ainda mais famoso e feliz por ter conquistado a notoriedade que sempre almejara, a partir de uma ideia que, a príncipio, parecia maluca demais para dar certo.
Mas foi o único caso de sucesso da roupa de borracha Merriman.
Comercialmente, ela nunca deu certo, nem atingiu o propósito de evitar mortes nos naufrágios. Só serviu mesmo para os espetáculos do seu mais fervoroso usuário.
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