Poucos lugares nos mares do planeta geram tanto receio e admiração pelos que o vencem quanto o Cabo Horn, no extremo sul da América do Sul, último naco de terra firme do continente, e o ponto mais próximo que existe da Antártica, em todo o globo terrestre.
Trata-se de um cabo de verdade – uma ponta elevada e saliente de terra que avança água adentro, embora, no caso do Horn, de maneira ainda mais acentuada, porque ele fica em uma ilha e é cercado de mar por todos os lados.
E um mar que exige respeito.
Bem diante do Cabo Horn, dois oceanos se encontram: o Pacífico, o maior de todos os oceanos, cuspindo colossais montanhas de água salgada a cada fração de segundo no Atlântico, e este revidando com furiosos ventos contrários, vindos da Antártica.
Como se não bastasse, isso acontece num ponto onde os dois oceanos se afunilam em um estreito, o de Drake, que separa a América do Sul da Antártica, onde, por isso mesmo, navegar costuma ser um tormento.
No Estreito de Drake, a profundidade dos dois oceanos passa, subitamente, de milhares de metros para pouco mais de cem, criando barreiras submersas que transformam simples ondulações oceânicas em ondas gigantescas, potencializadas pelos ventos que vêm da Antártica, e correntes tão fortes, que, às vezes, nem os motores do barco conseguem vencer.
Em média, a região do Cabo Horn passa 300 dias por ano sendo bombardeada por ventos violentos ou tempestades.
É uma das áreas mais inóspitas do planeta, dona de um clima inclemente, e uma das mais temidas pelos navegantes, mesmo os entre mais experientes.
Tanto que existe até um clube dedicado aos velejadores que conseguem vencê-lo – os chamados “Cape Horners”, honraria que todo navegante gostaria de ter.
Como regra geral, nenhum comandante chega ao Cabo Horn sem sentir uma certa trepidação no coração.
Nos piores dias, o mar em torno do Cabo é um teste prático de sangue frio e habilidade.
Também é preciso sorte para contorna-lo sem maiores problemas, o que costuma ser raro.
Em 1750, pouco mais de um século depois de o Horn ter sido descoberto, em 1616, pelos navegadores holandeses Jacob Le Maire e Willem Schouten, da Companhia das Índias Ocidentais (que o batizaram com o nome da cidade holandesa de Hoorn, que patrocinara aquela viagem, cujo objetivo era achar uma passagem da América para a Ásia menos complicada que o Estreito de Magalhães, descoberto quase um século antes por Fernão de Magalhães), um fato mostrou claramente do que aquela região era capaz.
Num só dia, ali desapareceram 12 embarcações de um comboio que partira do Chile rumo ao Atlântico, ao que tudo indica, na mesma tempestade.
Isso, porém, não pode ser comprovado, por um detalhe ainda mais perverso: ninguém sobreviveu para contar o que aconteceu.
Em outro episódio, em 1819, o barco espanhol San Telmo desapareceu nas águas do Horn (ou nas imediações deles, também jamais se soube ao certo, pelo mesmo motivo), com 662 homens a bordo, sem deixar nenhum vestígio.
E o mesmo aconteceu com a fragata chilena O´Higgins, pouco antes disso, com uma tripulação de mais de 500 marinheiros. Também nenhum deles sobreviveu ao naufrágio.
Apesar da terrível fama que foi adquirindo entre os navegantes ao longo dos séculos, até a criação do Canal do Panamá, em 1914, o Cabo Horn foi passagem obrigatória de todos os barcos que iam do Atlântico para o Pacífico, ou vice-versa.
E continuou gerando histórias arrepiantes mesmo na era dos velozes clíperes, como eram chamados os grandes veleiros cargueiros que dominaram o transporte mundial de mercadorias entre o final do século 19 e o início do século 20.
Mesmo sendo os barcos mais ágeis da época, os clíperes sofriam horrores para vencer as turbulentas águas do Horn.
Coube a um deles, o clíper alemão Suzanna, um patético recorde, que dura até hoje: 99 dias para navegação errática e descontrolada, em intermináveis ziguezagues, até, finalmente, conseguir dobrar o Cabo e entrar no Pacífico.
Durante todo esse tempo, mais de três meses, a desafortunada tripulação do Suzanna, que, por muito pouco, não foi parar na Antártida, do outro lado do Estreito de Drake, conviveu com ventos que passavam dos 100 km/h, dia e noite.
Por essas e muitas outras, o Cabo Horn, que hoje ostenta um farol, mantido por famílias de faroleiros chilenos que vão se revezando a cada ano de isolamento, e um monumento aos navegantes com capacidade de suportar ventos de até 200 km/h no topo de um promontório com 424 metros de altura, o que dá uma aparência ainda mais dramática ao cabo em si, é considerado o “Monte Everest” da navegação – vencê-lo, nunca é fácil.
E um velho ditado dos marinheiros da região ajuda a explicar por que.
Ele diz: “Abaixo dos 40 graus de latitude, não existe lei. Abaixo dos 50 (onde fica o Cabo), não existe nem Deus!”
Convém não duvidar.
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