Dois meses atrás, a chegada ao porto de Sendai, no norte do Japão, da viagem inaugural do novo navio Kangei Maru foi saudada com muita festa – porque ele chegou trazendo 15 baleias mortas.

O motivo da comemoração foi o “sucesso” da primeira expedição do mais novo navio caça-baleias do Japão, construído pela empresa baleeira Kyodo Senpaku.

Convocados, funcionários da empresa ficaram perfilados junto ao porto, agitando bandeiras, enquanto o navio desembarcava sua infame carga: contêineres inteiros com pacotes já embalados de carne do que, dias antes, foram 15 baleias da espécie Bryde, capturadas no mar territorial do Japão – um dos três únicos países do mundo que ainda caça baleias, juntamente com a Islândia e a Noruega.

Quinze dias antes, o Kangei Maru – orgulhosamente construído pela Kyodo Senpaku para ser o maior navio baleeiro da história do Japão – havia zarpado do porto de Tóquio para sua primeira expedição de caça, cercado de expectativas.

Ao retornar, com uma dezena e meia de vítimas (média de uma baleia morta por dia), confirmou o seu extraordinário poder de trucidar cardumes de baleias, já que sua captura ultrapassou as 250 toneladas de carne em uma viagem que era apenas experimental.

Quatro dias depois, ele partiu de novo, para mais uma expedição de caça no mar japonês.

“Estamos felizes em capturar baleias, e muito orgulhosos deste navio”, disse aos jornalistas, na véspera da partida, o presidente da Kyodo Senpaku, Hideki Tokoro.

“As baleias estão no topo da cadeia alimentar dos mares. Elas se alimentam de criaturas que impedem que os peixes cresçam, a fim de alimentar os homens. Precisamos abater baleias para manter o equilíbrio do ecossistema”, disse Tokoro na ocasião, entre outras asneiras – como a de que a carne de baleia pode impedir a queda de cabelo e até curar alguns tipos de câncer.

“Capturar baleias faz parte da cultura japonesa, e sua carne dá segurança alimentar aos japoneses”, acrescentou Tokoro, cuja empresa vem tentando reverter a diminuição no consumo de carne de baleia pelos japoneses com agressivas campanhas de marketing, que incluem pagar para influenciadores digitais divulgar o alimento, e instalar máquinas de venda automática de sashimis e filets de baleia em pontos movimentados de Tóquio.

Felizmente, não tem dado certo, e o consumo só vem diminuindo.

Especialmente entre os mais jovens – mesmo caso da Islândia, que já cogita parar de caçar baleias, por ser uma atividade hoje economicamente pouco rentável.

Mas a suspeita é que a Noruega continue capturando mais baleias do que o Japão e a Islândia juntos.

No Kangei Mari, a caça é feita com canhões de arpões explosivos de alta precisão (quando eles não conseguem dar cabo do animal, disparos com rifles entram em ação), embora, dada suas gigantescas dimensões, a vocação natural do navio seja a de receber e processar baleias que são capturadas por outros barcos menores, para que eles sigam caçando no mar por mais tempo.

É um navio-mãe – embora sua função seja para tirar vidas e não gerá-las.

Uma autêntica indústria flutuante de processamento de carne de baleia.

Ou um “matadouro”, na versão dos ambientalistas.

Em breve, o Kangei Maru também será equipado com drones de última geração, capazes de detectar, do alto, cetáceos que estejam a mais de 100 quilômetros de distância.

Além disso, o Kangei Maru tem uma autonomia que lhe permite navegar até o lado oposto do planeta, como a Antártica, maior reduto de baleias do mundo, e onde o seu antecessor, o Nisshin Maru, da mesma empresa, atuou durante anos.

Foi justamente por não concordar em parar de caçar baleias nas águas do Continente Gelado que o Japão (que vinha capturando baleias sob o falso argumento de estar fazendo “investigação científica”) deixou de fazer parte da Comissão Baleeira Internacional, em 2019.

Com isso, ficou legalmente livre para capturá-las em suas águas territoriais, como vem fazendo desde então.

Agora, o governo japonês está tentando aumentar a quantidade de espécies que podem ser capturadas, incluindo na lista as baleias-comuns, o segundo maior animal do mundo, atrás apenas das baleias azuis, já que o novo navio tem capacidade para puxá-las do mar.

E ninguém pode fazer nada para impedi-los.

Menos ainda agora, com o seu novo e poderoso navio, que neste exato instante está em algum ponto do mar do Japão, matando baleias, em mais uma se suas abomináveis expedições.

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