No início de maio, a informação dada pela Marinha da Indonésia de que o afundamento do submarino KRI Nanggala-402, no dia 21 de abril deste ano, com 53 homens a bordo, pode ter sido causado por um fenômeno natural chamado “onda interna solitária”, deixou a imensa maioria das pessoas do planeta intrigadas.

E perplexas.

Até então, praticamente ninguém fora do meio científico tinha ouvido falar de tal tipo de onda submersa.

No entanto, mesmo quem nunca pôs os pés em submarino, mas já voou de avião, muito possivelmente já sentiu algo bem parecido, sob outro nome: turbulência.

“Ondas internas” são uma espécie de turbulência no fundo do mar. Só que, dependendo da região e da topografia do leito marinho, elas se tornam bem mais intensas do que uma simples turbulência no ar.

E são bem mais comuns do que se possa imaginar.

O princípio das ondas submarinas é o mesmo das correntes de ar.

No céu, quando o vento passa sobre uma colina íngreme, o ar é empurrado para cima, em um movimento contrário ao da gravidade.

Mas, ao ser superado o obstáculo, a gravidade volta a agir e o movimento torna-se inverso, acelerando o ar para baixo.

É o que acontece também no mar.

“Ondas internas” ocorrem quando os movimentos mais intensos das marés passam por grandes obstáculos no fundo do mar.

Mas só ganham dimensões realmente relevantes quando isso acontece em áreas onde há grande variação na densidade da água (leia-se temperatura e salinidade), entre a superfície e as partes mais profundas.

Quando essa “turbulência submarina” rompe a divisão das águas com diferentes densidades, surge uma “onda interna”.

E quando essa onda se superpõe a outras, acumulando toda a energia em uma só onda, que gera um fortíssimo movimento circular submerso, surge uma onda solitária interna – que é bem mais forte do que as ondas internas convencionais.

Ao que tudo indica, foi o que atingiu o submarino indonésio, que foi encontrado quatro dias depois, no fundo do estreito da ilha de Bali.

No mesmo dia e horário em que o submarino indonésio desapareceu dos sonares, um satélite meteorológico japonês havia detectado a presença de movimentos de ondas internas na região onde ocorreu a tragédia.

Não era, contudo, nenhum fato raro, porque toda aquela região, com intenso fluxo de água entre os oceanos Pacífico e Índico, e fundo marinho bastante acidentado, sempre foi propícia a formação desse tipo de ondulações desse tipo – que, por sinal, em menor escala, frequência e intensidade, acontece em todos os mares do mundo.

Ali, no entanto, o fenômeno é particularmente bem mais comum e intenso, fruto da combinação de grandes marés com altas montanhas submersas, que potencializam os efeitos das “ondas internas”.

“O mar da Indonésia concentra cerca de dez por cento das marés mais enérgicas do planeta”, atesta a oceanógrafa Bernadette Sloyan, do Instituto Oceânico e Atmosférico do Austrália, que fica ali perto.

“E isso gera constantes instabilidades entre a superfície e as partes mais profundas, por conta das diferentes densidades em diferentes camadas de água”.

Na região, o fenômeno costuma ocorrer mais de uma vez por mês.

E, para azar dos submarinistas indonésios do KRI Nanggala-402, pode ter ocorrido justamente quando eles estavam submergindo, não permitido uma reação a tempo.

Quando muito intensa, uma onda solitária interna, que cumpre movimentos circulares, leva para o fundo tudo o que encontra pela frente.

Uma delas pode ter provocado a descida acelerada e descontrolada do submarino, fazendo-o submergir muito mais do que poderia, o que gerou o colapso da sua estrutura, pelo aumento da pressão no fundo do mar.

Ao serem encontrados, os destroços do submarino indonésio estavam fragmentados em três partes, a 853 metros de profundidade – bem mais fundo do que ele fora projetado para suportar.

Embora esse possa não ter sido o único motivo (geralmente, grandes acidentes são causados por uma fatal combinação de erros ou fatores), é, até hoje, o que melhor explicou o naufrágio do KRI Nanggala-402, já que, segundo a Marinha da Indonésia, ao submergir, ele não mostrou nenhum indício de perda de energia ou pane elétrica a bordo, como inicialmente havia sido apontado como sendo a causa do desastre.

Na ocasião, as autoridades também negaram que o acidente pudesse ter sido consequência da idade avançada do submarino, que fora construído 40 anos antes, ou com a precariedade na sua manutenção, já que a última grande revisão pela qual ele passou aconteceu em 2012.

Embora o motivo oficial do acidente permaneça incerto até hoje, tudo indica que a participação de uma gigantesca onda solitária interna tenha sido determinante naquela tragédia.

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