Se você acha que tesouros no fundo do mar tem a ver com histórias infantis de ficção, prepare-se para mudar radicalmente de opinião.

Nas primeiras horas da manhã de 8 de junho de 1708, o almirante inglês Charles Wagner finalmente avistou, ao largo da costa de Cartagena, no mar caribenho da Colômbia, a esquadra de uma dúzia de naves espanholas que ele vinha buscando há tempos.

Naquela época, Espanha e Inglaterra eram inimigos e atacar os galeões que levavam para os reis espanhóis as riquezas do “Novo Mundo” era uma maneira de enfraquecê-los.

Por isso, Wagner não pensou duas vezes em disparar seus canhões quando avistou a flotilha, que era capitaneada pela nau mais valiosa – e poderosa – da esquadra espanhola: o galeão San Jose, abarrotado de ouro, prata e esmeraldas extraídas durante anos nas minas da América do Sul e Central.

O San Jose transbordava de riquezas.

Segundo cálculos de estudiosos, só em ouro eram mais de 200 toneladas, já que aquela era a primeira viagem do gênero de volta à Espanha após de dez anos.

Mas ela não passou da costa colombiana.

Apesar dos seus 64 canhões, o San Jose não teve chances de escapar dos ingleses.

Foi alvejado impiedosamente, enquanto o restante da flotilha escapava.

Até que uma explosão, causada pelo tiro de um canhão inglês que atingiu o seu depósito de pólvora, fez a proa do galeão sumir pelos ares.

O San Jose afundou instantaneamente, por completo.

Dos 600 espanhóis que havia a bordo, só 11 sobreviveram.

E nada do seu tesouro pode ser recuperado, porque os restos da nau mergulharam até o fundo, a 600 metros de profundidade.

Durante quase três séculos, a localização exata da batalha que pôs fim a vida do valioso galeão espanhol (tão valioso que passou a ser considerado como o “Santo Graal dos Naufrágios”) permaneceu ignorada.

Até que uma empresa americana de exploração de naufrágios, a Sea Search Armada, que teve como sócia naquela empreitada a Ocean Infinity, que tinha o inglês Ross Hyett como um dos seus sócios, começou a pesquisar e apontou possíveis áreas onde poderia estar os restos do San Jose.

Num lance digno de filmes de espionagem, um agente do governo colombiano conseguiu uma cópia do tal documento, com a indicação dos possíveis pontos, e a Marinha da Colômbia começou a pesquisá-los.

Em dezembro de 2015, veio o achado – anunciado, com toda pompa, pelo próprio presidente da Colômbia.

Só que, desde então, os direitos pela exploração do que é considerado “o mais valioso naufrágio de todos os tempos” (hoje avaliado em algo como 20 bilhões de dólares) se transformou em pendenga jurídica que envolve não só a empresa americana, como os governos da Espanha e da Colômbia.

Os dois países brigam nos tribunais pela posse legal dos escombros do galeão – que, hoje, mais de 300 anos depois, só são visíveis graças aos mesmos canhões que permitiram a identificação do naufrágio como sendo o do San Jose.

A Colômbia diz que, como os restos do galeão estão em águas territoriais colombianas, eles pertencem ao Patrimônio Histórico do país.

Já a Espanha contra-ataca alegando que o San Jose era um “barco do Estado espanhol”, e, baseada na determinação da Unesco de que os naufrágios devem pertencer ao país da bandeira de origem do navio, exige o seu direito.

O problema é que a Colômbia não faz parte deste tratado e, portanto, não segue nem reconhece a determinação da Unesco.

Além disso, ainda há a empresa americana que identificou o local do naufrágio, que, há décadas, briga pelos seus direitos na Justiça – algo como metade do que for encontrado, o que a Colômbia solenemente ignora.

No ano passado, sem recursos tecnológicos para explorar o naufrágio (que jaz a uma profundidade impossível aos mergulhadores e só viável aos robôs submarinos mais modernos do mundo, o que o país não possui), o governo colombiano anunciou a criação de uma iniciativa público-privada e passou a convidar empresas da área para participar da licitação de um “levantamento arqueológico” dos restos do galeão – a americana Sea Search Armada se recusou a participar, porque alega que já tem direito adquirido no caso.

Na Colômbia, até hoje, o caso do galeão naufragado é tratado como “assunto de Estado”. E tornou-se o principal projeto cultural e científico em curso no país.

Mas, obviamente, este não é o único – muito menos o principal – motivo da pendenga, que já se arrasta há quase uma década.

Um tesouro dessa magnitude interessa a qualquer pessoa.

Sobretudo, funcionários de governos não muito confiáveis.

Por isso, os arqueólogos estão preocupados.

A despeito da normativa da Unesco de que itens submersos devem ficar onde estão, porque fazem parte do patrimônio da humanidade, eles temem que os restos do velho galeão serão revirados, até que se extraia toda a sua carga ultra-valiosa.

Afinal, quem resistiria a tentação de colocar as mãos no maior tesouro submerso de todos os tempos?

E que – não! – não é ficção.

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