No dia 3 de março de 2014, um mistério foi dar no esquecido litoral do Amapá. Ao voltar de mais uma pescaria em alto-mar, o mestre Antônio Sousa Marques, do pesqueiro B/P Diniz Pesca, avistou um casco semi-submerso à deriva.

Era uma espécie de grande canoa de fibra de vidro, tão inundada que mal podia ser vista na superfície.

E sem ninguém a bordo.

Ele se aproximou e pediu que dois companheiros passassem para a canoa, a fim de prender um cabo, a fim de rebocá-la.

Mas aquele barco não estava tão vazio quanto parecia.

Ao enfiar a perna na água turva empoçada dentro do casco, um dos pescadores sentiu algo sob os pés.

Enfiou a mão e retirou um fêmur.

Em seguida, um crânio.

E outro mais. Além de vários ossos.

Boa parte de duas ossadas humanas repousavam no fundo da tal canoa.

A quem pertenceriam?

O macabro achado foi notícia nos jornais da região e rendeu dois inquéritos: um na Capitania dos Portos, outro na Polícia Federal.

Mas ninguém chegou a conclusão alguma sobre aquele barco, de onde ele veio, o que teria acontecido com as vítimas e, sobretudo, quem elas eram?

E a dificuldade na identificação teve algumas razões.

Uma delas é que o barco, que não passava da parte de baixo do casco de um velho veleiro, com cerca de dez metros de comprimento, cujo convés fora grosseiramente cortado e transformado numa canoa, não trazia nenhum tipo de identificação — apenas o nome do estaleiro italiano que produziu a embarcação original, gravado em relevo na fibra de vidro.

Mas o estaleiro não existia mais.

Também não havia nenhum vestígio de nome, bandeira ou porto de registro.

Outro complicador é que, além dos ossos, não havia mais nada a bordo.

Apenas um anel enferrujado e alguns cabos, já carcomidos pelo tempo e revestidos com o mesmo musgo que forrava boa parte do casco, sinal de um longo período em contato com a água salgada.

Nenhum pedaço de roupa, utensílio ou pista, enfim, que ajudasse a descobrir, ao menos, a origem das vítimas.

Mas como os ossos já estavam completamente “limpos”, ou seja, sem mais nenhum resquício de carne humana, deduziu-se que, seja lá o que tivesse acontecido, acontecera há um bom tempo, uma vez que, mesmo em contato com o sol e o mar, o corpo humano leva meses para se decompor totalmente.

Portanto, era certo que aquela canoa vagara durante meses no oceano, sem ser vista por ninguém – algo bem mais plausível do que possa parecer.

Uma das primeiras iniciativas da polícia foi consultar os registros de desaparecidos no mar da região, embora a hipótese de as vítimas serem brasileiras logo tenha sido descartada, não só pelo próprio barco, de construção estrangeira, como pela região onde ele foi encontrado, um conhecido ponto de encontro de correntes marítimas vindas do Caribe e da África.

Teriam os restos daqueles dois infelizes seres cruzado todo o Atlântico à deriva, desde o continente africano?

Sim, era possível.

Outra hipótese é que eles tivessem vindo de algum país vizinho, Suriname, Guiana e Venezuela, regiões onde a pirataria é intensa, o que também passou a ser considerado, embora nenhum ferimento ou marca de disparo de arma de fogo tenha sido identificado nas ossadas.

Mas foi possível saber que se tratavam de dois homens, um negro e outro possivelmente mulato, um deles bem mais velho,  ambos com origens aparentemente humildes, a julgar não só pelo próprio barco, simplório e adaptado, como pela ausência de dentes frontais nas arcadas dentárias de ambos.

Este detalhe levou a investigação a deduzir que poderiam ser pescadores, que saíram para o mar para pescar e, por alguma razão, não conseguiram voltar – embora não houvesse nenhum vestígio de rede ou apetrecho de pesca na canoa.

Uma tempestade poderia ter arruinado a vela do barco (no fundo do casco, havia uma cavidade que bem poderia ser usada para fincar uma rústica vela, tal qual nas jangadas), deixando-os à mercê das correntes marítimas — as mesmas que arrastaram seus despojos até o Amapá.

Outra hipótese é que eles não fossem pescadores e sim imigrantes ilegais, tentando a sorte em outro país, embora as limitações do barco para uma travessia mais longa conspirasse contra esta teoria.

Certo é que não eram náufragos, porque nenhuma embarcação levaria aquele tipo de canoa como bote salva-vidas.

Então, quem eram aqueles dois pobres-coitados?

Jamais se saberá.

O mistério do “Barco das Ossadas”, como o caso ficou conhecido na época no Amapá, acabou condenado pelo mar a se tornar eterno.

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