No final de 2018, quando decidiram pegar o veleiro que haviam comprado com todas as economias que tinham e fazer uma viagem com o barco, de Buenos Aires até Florianópolis, o jovem casal argentino Juan Dorda e Constanza Coll, tinha em mente apenas passar uma temporada em Santa Catarina, com o filho pequeno, Ulisses, então com dois anos de idade.
Hoje, dois anos depois, eles continuam no Brasil (agora, na Ilha Grande, que adoram) e nunca mais voltaram à Argentina.
Nem pretendem.
Agora, menos ainda, porque a família acaba de crescer, com o nascimento, no Brasil, do segundo filho do casal: a menina Renata, que nasceu no primeiro dia de junho, em uma maternidade em Niterói – para onde a família seguiu navegando, com o único intuito de ter o bebê em terra firme.
“Queríamos que a Renata fosse brasileira e, agora, ela será a nova tripulante do nosso barco, que também é a nossa casa”, diz Constanza, de 34 anos, uma ex-jornalista de Buenos Aires, que, cansada da vida corrida e assalariada que levava na Argentina, decidiu, junto o marido, mudar radicalmente a vida da família.
“Eu tinha quatro empregos ao mesmo tempo, vivia correndo de um para o outro, e não tinha tempo para ver o meu filho crescendo”, diz o marido, Juan, um ex-psicólogo de 35 anos, que se desdobrava para poder pagar as contas e as prestações do apartamento onde viviam, na capital argentina.
“Até que, um dia, resolvemos vender tudo, comprar um barco, alugar o apartamento para ter alguma renda, e vir para o Brasil, pelo mar”, explica Juan, que agora vibra com o aumento da família.
Nem mesmo a catastrófica desvalorização que a moeda argentina vem sofrendo, o que diminui, em reais, o valor que eles recebem pelo aluguel do apartamento em Buenos Aires, único rendimento do casal, desanima ou preocupa Juan e Constanza, que todos chamam pelo apelido “Coni”.
“Atualmente, vivemos com o equivalente a um salário mínimo do Brasil, mas dá”, diz Juan. “A vida num barco é muito simples e barata, eu pesco para ajudar nas refeições e, aqui na Ilha Grande, nem tem onde gastar dinheiro”, analisa.
Os dois acreditam que nem a chegada do bebê mude este quadro.
“Sob o ponto de vista da natureza, tudo o que um bebê precisa é de atenção integral dos pais, e isso nós temos como dar de sobra”, diz Juan, que também considera um barco como sendo a casa ideal para qualquer criança, porque, como o espaço é limitado, “a família está sempre unida”.
“E se a família está bem, todo o resto está bem, também”, analisa o ex-psicólogo, que, tal qual a esposa, não sente nenhuma saudade da vida que levava na maior cidade da Argentina.
“Hoje, consigo acompanhar bem de perto cada passo do desenvolvimento do Ulisses, e o mesmo acontecerá com a Renata”, diz Juan, com total aprovação da esposa.
O veleiro-casa do casal, de apenas 28 pés, batizado Tangaroa 2 (mas muito mais conhecido como o “O Barco Amarelo”, nome que passaram a usar também nas redes sociais, onde se dedicam a mostrar o tranquilo e gostoso dia a dia da família), não tem nem geladeira, mas nem isso preocupa a família. “Bebê só precisa de leite materno”, diz Juan.
O bebê foi gerado quando eles estavam passando uma temporada com o barco na Bahia, mas, por conta da gravidez, resolveram retornar à Ilha Grande, lugar que eles adoram. “ A ilha é o nosso paraíso”, diz Coni. “Adoro tomar banho nas cachoeiras, até porque também não temos chuveiro no barco”.
Recentemente, além do bebê, a família também cresceu com a adoção da cadelinha Lula, uma vira-lata que eles acharam durante um passeio na própria Ilha Grande, e que, tal qual o pequeno Ulisses, se adaptou perfeitamente à vida no barco.
“Agora, temos até cachorro e somos uma família completa”, diz Juan, feliz da vida com a vida que ele, a mulher, o filho – e, agora, também o bebê – levam.
Mas, e o futuro?
“Não fazemos muitos planos”, diz Juan.
“No máximo, planejamos o que vamos fazer no próximo ano”.
“Mas sabemos que, em breve, teremos que colocar o Ulisses numa escola, e, mais tarde, também a Renata, porque queremos que eles tenham, assim como nós tivemos, a chance de decidir o que farão de suas vidas quando forem adultos. Eles decidirão se vão querer ter uma profissão que dependa de faculdade ou apenas aproveitarão a vida da maneira mais simples e natural possível, como estamos fazendo”, diz velejador, mais satisfeito do que nunca com o crescimento da família.
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