Pouco mais de um século atrás, o Brasil e o mundo enfrentaram outra trágica pandemia causada por um vírus respiratório: a chamada “gripe espanhola”, que matou estimadas 50 milhões de pessoas, sendo cerca de 35 000 delas no Brasil.
Naquela época, o vírus da gripe espanhola, hoje conhecido como influenza e que ainda causa vítimas esporádicas, chegou ao Brasil a bordo de um único navio: o transatlântico inglês Demerara, que atracou no porto de Recife, vindo da Inglaterra e Portugal, em 14 de setembro de 1918.
Até então, os brasileiros nada sabiam a respeito da doença, já que as comunicações na época eram bastante precárias, mas o terror estava chegando ao solo brasileiro junto com aquele transatlântico.
Duas passageiras morreram durante a própria travessia, e outras pessoas que estavam no navio já chegaram doentes a Recife.
Mesmo assim, como ninguém por aqui sabia sobre o surto que já assolava a Europa, então às voltas com a Primeira Guerra Mundial, nenhuma precaução foi tomada.
Mesmo na Europa e nos Estados Unidos, de onde se imagina partira aquele vírus, que, em seguida, foi levado para os campos de batalha pelos soldados americanos, não havia real conhecimento das dimensões do problema.
E os líderes dos países em guerra omitiam isso das tropas, para não desanimar os combatentes.
A única exceção foi a Espanha, que por ser uma nação neutra naquele conflito, passou a noticiar nos jornais as mortes em massa dos soldados, razão pela qual a epidemia se tornaria conhecida como “gripe espanhol”, já que só aquele país a noticiava.
No Brasil, imediatamente após a chegada do navio Demerara, que trazia algo bem mais letal do que as armas e munições usadas na guerra, começaram a pipocar casos da doença, que, tal qual o atual coronavírus, matava as pessoas em poucos dias.
Os primeiros casos foram detectados na própria capital de Pernambuco.
Depois, em Salvador e no Rio de Janeiro, onde o navio também fez escalas.
Mas o país só se deu conta do terror que chegara naquele transatlântico, logo apelidado de “Navio da Morte”, quando milhares de pessoas passaram a morrer, de forma quase fulminante.
Rapidamente, os hospitais dessas cidades estraram em colapso, enquanto as autoridades de saúde não sabiam o que fazer para tentar conter a epidemia.
Coube, então, à própria população criar seus próprios “remédios caseiros”, que, obviamente, não funcionaram.
Caldo de galinha, pitadas de tabaco, fumaça de alfazema e sal de quinino, este muito usado em tratamentos de malária, foram alguns dos “medicamentos” ministrados pelos familiares aos seus entes doentes.
Nenhum, porém, teve a popularidade de uma fórmula criada a partir da mistura de cachaça, limão e mel, que tampouco evitou as mortes geradas pela gripe espanhola, mas fez nascer a bebida mais típica do Brasil, até hoje: a caipirinha.
Ironicamente, o próprio nome do navio que trouxe a pandemia para o Brasil (Demerara, um tipo de cana bastante usada para produzir açúcar) remetia indiretamente a doce bebida brasileira, que a doença trazida pelo transatlântico ajudaria a popularizar no país e no mundo.
A macabra gripe espanhola reinou soberana no planeta de agosto de 1918 a janeiro de 1919, e deixou, ao final de apenas cinco meses, um macabro saldo de quase seis vezes mais mortes do que na Primeira Guerra Mundial.
No Brasil, proporcionalmente, foi ainda pior: a doença matou 200 vezes mais do que o número de combatentes brasileiros mortos no conflito, quase todos a bordo de navios atacados por naves inimigas.
Mas foi outro navio que se mostraria muito mais letal aos brasileiros: um pacato transatlântico chamado Demerara.
Gostou desta história?
Ela faz parte do livro HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E ODISSEIAS NOS OCEANOS, que por ser comprado clicando aqui, pelo preço promocional de R$ 49,00 com ENVIO GRÁTIS
VEJA O QUE ESTÃO DIZENDO SOBRE ESTE LIVRO
“Sensacional! Difícil parar de ler”.
Amyr Klink, navegador
“Leitura rápida, que prende o leitor”.
Manoel Júnior, leitor
“Um achado! Devorei numa só tacada”.
Rondon de Castro, leitor
“Leiam. É muito bom!”
André Cavallari, leitor