A região do arquipélago dos Açores é famosa pelas erupções vulcânicas submarinas, que, não raro, fazem surgir pequenas “ilhas de lava” onde antes só havia água.

Só que, quase sempre, estas mesmas ilhas desaparecem em seguida, dissolvidas pelo mar, desafiando assim permanentemente a cartografia.

Em uma destas “ilhas temporárias” ocorreu um fato curioso, em junho de 1811.

O comandante de fragata inglesa HMS Sabrina, James Tillard, navegava em busca de embarcações francesas pela região da Ilha de São Miguel, uma das que formam o arquipélago português, quando avistou colunas de fumaça no horizonte.

Julgando tratar-se de uma batalha, seguiu para lá.

Mas o que ele encontrou foi a erupção de pequeno vulcão submerso no mar, que começava a dar forma a uma nova ilha.

Sem poder se aproximar demais, Tillard tomou o rumo da principal vila de São Miguel, onde se encontrou com o consul inglês e expressou sua intenção de “tomar posse” da nova ilha em nome da Inglaterra, já que sua localização era estratégica no conflito contra os franceses.

Mas Tillard precisou esperar quase um mês até que pudesse retornar a nova ilha, que batizou de Sabrina, mesmo nome do seu barco.

Quando lá chegou, em 4 de julho, na companhia do consul inglês, para fincar a bandeira da Inglaterra e decretar aquele “novo território” como sendo parte da Coroa Britânica, a ilha que nasceu onde antes só havia mar (e com profundidades que beiravam os 100 metros) já tinha cerca de um quilômetro de diâmetro e paredões de 90 metros de altura de puro basalto.

A ousadia de Tillard, que tomara posse de uma ilha dentro de uma região que pertencia a Portugal, estremeceu as relações com os portugueses.

Mas, como naquela época a corte portuguesa havia se transferido para o Brasil e era totalmente dependente dos ingleses para se defender contra os franceses, o incidente diplomático não deu em nada.

Até porque, dois meses depois, a Ilha Sabrina já não existia mais.

Quase tão instantaneamente quanto surgiu, a nova ilha foi dissolvida pelo mar, que erodiu suas rochas basálticas como se fossem castelinhos de areia na praia.

Em outubro daquele mesmo ano, já não havia nenhum vestígio da efêmera ilha na superfície do mar.

Só o que restou daquela ilha que virou uma quase lenda entre os navegantes, mas que existiu de fato, foi um desenho das erupções que a fizeram surgir, feito por um dos oficiais da tripulação do HMS Sabrina, hoje exposto no Museu Marítimo de Greenwich, nos arredores de Londres.

Mesmo assim, até hoje, quase todos os visitantes dos Açores vão até o mirante da Ponta da Ferraria, na principal ilha do arquipélago, para ver o local onde ficava a Ilha Sabrina, aquela que só existiu por pouco mais de dois meses, e que, tão rapidamente quanto nasceu, desapareceu.

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