Exatos 50 anos atrás, a vontade de viver uma vida simples e em paz com natureza numa ilha deserta, levou o neozelandês Thomas Neale a se transformar, por livre e espontânea vontade, em uma espécie de Robinson Crusoé de carne e osso – um tipo de “náufrago voluntário”, que acabaria se tornando bastante famoso na região do Pacífico Sul, nos anos de 1970.
Tudo começou 30 anos antes, quando Tom Neale conheceu o escritor e aventureiro americano Robert Frisbie, que lhe contou sobre um paraíso que conhecera tempos antes: o deserto atol Suvarov, a noroeste das Ilhas Cook, no sul do Pacífico.
Neale jamais havia ouvido falar daquele lugar, mas ficou fascinado com a descrição minuciosa que o amigo lhe fez do local: “18 ilhotas com vegetação cor de esmeralda, em torno de uma lagoa incrivelmente azul”, resumiu o escritor, que finalizou com uma frase que soou como música nos ouvidos do neozelandês, já farto da vida sem graça que levava: “É o lugar mais lindo da Terra”.
A partir daquele dia, ir para Suvarov e viver da maneira mais natural possível passou a ser único objetivo na vida de Neale, já então com mais de 40 anos de idade.
Mas foi só em junho de 1945, quando Neale trabalhava em um barco de carga, que ele, finalmente, conheceu Suvarov, depois de convencer o comandante do barco a desviar a rota até lá.
E o que ele viu o convenceu de vez: aquele era o lugar onde queria viver. E sozinho, já que o atol, além de isolado, era desabitado.
A ilha principal tinha apenas um casebre abandonado, onde, no passado, haviam vivido alguns guardas que cuidavam do atol.
Mas ele conclui que aquilo era tudo o que precisava.
Ao retornar, Neale pediu autorização ao governo das Ilhas Cook, a quem o atol pertencia, para viver lá.
Mas teve que esperar sete anos para ter seu pedido aceito.
Quando isso aconteceu, ele convenceu o dono de um barco a levá-lo até Suvarov e por lá ficou – sozinho, como queria, e com o mínimo de recursos, porque o objetivo era viver apenas com o que a ilha oferecia.
Tom Neale chegou a recusar a companhia de uma mulher, que se ofereceu para viver com ele na ilha, porque tudo o que queria era o completo isolamento.
Além de realizar o sonho de ter sua própria ilha.
Quando Neale chegou à Suvarov, sua primeira providência foi tirar toda a roupa e passar a viver nu.
Em seguida, saiu para capturar o almoço, o que ali era fácil.
As águas azuis da lagoa de Suvarov eram um autêntico aquário, repletas de peixes, caranguejos e lagostas – que ele capturava facilmente, com as próprias mãos.
Como não tinha como estocar comida, capturava apenas o que iria comer, com a certeza de que peixes e frutos do mar jamais lhe faltariam.
Em terra-firme, Neale criou uma horta, com algumas sementes que havia trazido, e passou também a se alimentar com ovos de aves marinhas e de algumas galinhas que os antigos guardas haviam deixado na ilha.
Em questão de meses, já estava totalmente adaptado à vida solitária no seu paraíso particular.
Os primeiros visitantes só apareceram dez meses depois.
Era um casal de velejadores americanos, que ficaram surpresos em encontrar aquele ser civilizado em solitário naquela ilha deserta.
Preocupados, tentaram persuadir Neale a voltar à civilização.
Mas ele disse “não!” – aquela ilha era tudo o que ele queria ter na vida, e, agora, ele tinha.
Dias depois, o casal partiu, mas passou a propagar para o resto do mundo a existência do “Eremita de Suvarov”, como Neale passou a ser conhecido.
Logo, outras pessoas queriam conhecê-lo.
Mas só meses depois, outro barco, com dois jovens velejadores, parou na ilha. E eles foram a salvação de Neale.
Diz antes, o neozelandês havia trincado uma das vértebras da coluna e estava imobilizado no casebre, sem conseguir sequer sair para buscar comida.
Os velejadores comunicaram o fato às autoridades das Ilhas Cook, que enviou um barco para buscar Neale.
Mas, irritados, cassaram a sua licença de permanência na ilha.
Neale levou mais seis anos para conseguir uma nova autorização.
Nesse intervalo, conheceu uma mulher, se apaixonou, casou e teve dois filhos.
Mas não era isso o que Neale queria para sua vida – e sim voltar para a ilha.
Em março de 1960, ele conseguiu nova autorização para viver em Suvarov e partiu de novo, deixando para trás, sem maiores remorsos, a família.
Lá chegando, encontrou um bilhete, deixado por um navegador que passara pela ilha, juntamente com uma cédula de 20 dólares.
Era o pagamento pelas verduras e galinhas que o visitante havia consumido.
Neale jogou o dinheiro fora. Ali, ele nada valia.
A segunda permanência de Neale em Suvarov durou três anos e terminou quando o movimento no atol começou a crescer, por conta da própria fama que ele ganhara mundo afora.
Todos queriam visita-lo. Sobretudo repórteres.
Além disso, outras ilhotas de Suvarov passaram a ser freqüentadas por pescadores e caçadores de pérolas, o que roubou de vez a paz do neozelandês.
Desgostoso, Neale decidiu ir embora.
Embarcou em um dos barcos que passou pela ilha e foi viver na capital das Ilhas Cook, onde decidiu escrever um livro sobre sua experiência solitária.
Mas, enquanto escrevia, começou a sentir saudades da vida que levava.
E decidiu retornar à Suvarov, pela terceira vez, novamente sozinho.
Desta vez, apesar da idade já avançada, Neale ficou dez anos isolado na ilha, recebendo apenas uma ou outra visita esporádica.
Mas passou a receber cartas do mundo inteiro, que, duas vezes por ano, eram deixadas na ilha por um barco do governo, que trazia de volta as respostas das cartas anteriores, que Neale escrevia, uma a uma.
Neale tornou-se um daqueles seres exóticos do planeta.
E tamanha popularidade acabou de vez com a sua privacidade.
Para completar o cenário, no início de 1977, Neale passou a sofrer de frequentes dores no estômago e pediu ajuda, quando já somava 75 anos de idade.
Um barco, então, o levou para um hospital, de onde ele nunca mais saiu.
Tom Neale morreu em 30 de novembro daquele ano, e seu corpo, contrariando o bom senso, foi sepultado em um banal cemitério da capital das Ilhas Cook – e não na ilha que tanto amava e onde passou 15 anos de sua vida em solitário.
Anos depois, em Suvarov, foi colocada apenas uma placa, dizendo que ali ele “vivera o seu sonho”.
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