Tal qual milhões de crianças brasileiras, o menino Igor Quaresma Gandelman, de 12 anos, recentemente voltou às aulas.
Mas sua escola é diferente de todas as outras, porque fica no próprio barco onde ele vive, com o pai e a mãe – que também é a sua professora.
Neste momento, a curiosa casa-escola flutuante de Igor está no Caribe, já que a família está fazendo uma longa viagem, de ilha em ilha.
Mas nem por isso ele deixará de ir à escola.
Porque ela vai junto com o barco, para onde ele for.
“O Igor nasceu e cresceu no nosso veleiro, que sempre foi a nossa casa. Então, nada mais natural do que também estudar nele, já que sou professora formada”, diz a mãe do garoto, Cecília Quaresma, de 47 anos, que se divide entre as funções de mãe, velejadora e professora no barco-casa da família, que neste instante está na Ilha de Grenada, no Caribe, a caminho de outras ilhas.
Quase todos os dias, sempre que as condições do mar permitem, Igor senta-se na cabine do barco, transformada em sala de aula, e aprende coisas durante cerca de duas horas.
O método de ensino é o mesmo das escolas que seguem a pedagogia Waldorf, que pratica o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos através de atividades muitas vezes lúdicas, como cantos, poesias e pinturas, na qual sua mãe é formada.
O método Waldorf, que não segue livros didáticos, também dá grande autonomia aos professores para determinar o currículo e metodologia de ensino aos alunos, o que, no caso de Igor, é um facilitador e tanto.
“Por morar num barco, o Igor vive situações que as crianças de escolas convencionais não conseguem experimentar”, analisa a mãe-professora, que, todas as manhãs, prepara cuidadosamente cada aula que irá dar, enquanto medita, olhando para o mar.
“A vida num barco é muito rica em experiências e a metodologia Waldorf consiste, basicamente, em despertar nas crianças o interesse em aprender, o que gera um casamento perfeito. Hoje, o Igor aprende mais no barco do que numa sala de aula convencional”, diz Cecília, que garante dormir tranquila quanto a educação do filho. “Até porque conheço bem a professora dele”, brinca.
As aulas a bordo começam com uma simples saudação de “bom dia”, diante de uma lousa adaptada na cabine do barco.
“A saudação formal é o divisor de águas para o Igor. Ela sinaliza que, dali em diante, não sou mais a mãe e sim a professora, e ele entende isso claramente. Mas o aprendizado continua mesmo quando a aula acaba, porque, como viajamos com o barco, ele vai aprendendo sobre geografia e diferentes culturas na prática, já que vive isso de fato”.
O pai de Igor, o ex-advogado Fábio Galdelman, de 46 anos, que 18 anos atrás largou tudo e foi viver no veleiro que ele construiu a duras penas (e que, depois, com o casamento com Cecília e o nascimento de Igor, virou a casa da família), também ajuda no aprendizado do filho, ministrando aulas de inglês, trabalhos manuais e navegação, “que ele já domina feito um adulto, porque vive isso desde pequenininho”, explica.
“Nossa dedicação ao aprendizado do Igor é total e integral, já que, de certa forma, ele ´mora` na própria escola”, diz a mãe-professora. “E é uma sala de aula de um só aluno, o que gera uma dedicação do professor e um poder de absorção muito maior”, analisa.
“Pela metodologia Waldorf, no próximo período, que será o sétimo ano, o Igor terá que aprender sobre a Era dos Descobrimentos, e, para isso, nada melhor do que estar num barco, certo?”, diz Cecília, que só se preocupa com a ausência de outras crianças na “escola” do filho.
Para compensar isso, o casal organiza roteiros com diversas paradas, para que Igor tenha contato com crianças nos lugares por onde o barco passa. E, uma vez em terra firma, organizam muitos passeios e atividades, para estimular a socialização do menino, que diz adorar a vida que leva.
“Nós não queríamos esperar até que o Igor crescesse para poder viajar pelo mundo”, explica Cecília. “Ao contrário, queríamos que ele aprendesse coisas na prática desde pequeno, daí a decisão de sair navegando ainda durante o período escolar. De certa forma, viajamos por causa dele, embora isso faça bem para todos nós, e mantenha a família ainda mais unida”.
O barco-casa-escola de Igor é um veleiro de pouco mais de 13 metros de comprimento, com três quartos, sala, cozinha e banheiro, com casco bem resistente e construído com capacidade para fazer longas viagens, como a que a família está fazendo agora.
Não há um roteiro rígido, mas o plano inicial é, após passar meses visitando as ilhas do Caribe, cruzar o oceano Atlântico até a Europa, para, depois, retornar ao Brasil, “talvez no final do ano que vem, se o dinheiro aguentar até lá”, diz o casal, que, para se manter, leva turistas para passear no seu barco nos lugares por onde passa, atividade que no meio náutico é conhecida como “charter”, e faz pequenos serviços de manutenção e reparos em outros barcos.
“A gente se vira para ganhar algum dinheiro, mas, ao menos, não gastamos com escola e ainda sabemos que o Igor está tendo um bom aprendizado”, diz Cecília, que se diz “totalmente tranquila” quanto a educação do filho. “O que ele aprende nas aulas no barco é acima do que aprenderia numa escola convencional”, garante.
Os Gandelman não são a única família com filhos pequenos que optaram por morar num barco – embora o mais comum sejam casais viverem dessa forma.
Mas, no Brasil, talvez sejam os únicos a montarem uma escola de fato a bordo de um barco. Uma escola sem uniforme, mas com metodologia e professora habilitada para isso.
“O Igor está tendo um ótimo aprendizado e isso, no futuro, vai render grandes frutos”, garante a mãe-professora-navegadora Cecília.
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